Médicos debatem saúde lusófona no pós-pandemia

O X Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa, que decorre em Bissau desde ontem, sob o lema “Saúde Lusófona no Pós-pandemia”, termina hoje os seus trabalhos.

Durante dois dias, os cerca de 50 participantes debatem temas como “Saúde lusófona no pós-pandemia”, “Violência no exercício da Medicina”, “Língua como fator de coesão” e “capacitação e desenvolvimento do capital humano em saúde”.  

Para presidir à abertura do encontro, em representação do Presidente da República, estava o vice-Primeiro-Ministro que, na ocasião, reconheceu a importância da realização desse evento em Bissau, o qual reúne todos os bastonários da ordem dos médicos dos países membros, para além de realçar que a língua do Camões “nos abre as portas do mundo”.

Soares Sambu disse que cada um representa a sua organização, mas o objetivo é de trocar conhecimentos, facilitar mobilidade daqueles que, através de formação nas especialidades médicas e cirúrgicas, procuram melhorar a qualidade e a eficácia dos seus atos. “Sabemos também que é na qualidade e gestão dos recursos humanos que está a solução para alcançar o êxito, através de boa organização que permita desempenho e produtividade”, referiu.

Segundo o governante, nos últimos tempos tem-se acompanhado com satisfação e elevada esperança as medidas do Ministério da Saúde, na aquisição de equipamentos, moderna tecnologia ou ainda no apoio às equipas de especialistas, cujo trabalho meritório nos hospitais nacionais foi muito apreciado, sobretudo para dar resposta aos desafios surgidos com a pandemia da Covid-19.

Disse esperar que o encontro contribua para melhorar a qualidade e aumentar a responsabilidade dos profissionais da área.

Soares Sambu considerou que a Guiné-Bissau é um país rico na sua diversidade étnica e um fator de coesão. Adiantou que a sua população, tradicionalmente acolhedora e cujos anseios se projetam atualmente na modernização, em colaboração com parceiros e países amigos.

A seu ver, não tem sido fácil alcançar o desenvolvimento, o progresso e a paz, mas todos “estão comprometidos em encontrar soluções” para o bem-estar do povo e a melhoria de condições de vida.

“Saúde em tempos complexos e duros”

Na sua intervenção, o ministro da Saúde afirmou que, além da amizade e solidariedade que une as partes, o encontro serve para debater em família o atual estado de saúde de cada um dos países membros nestes “tempos complexos e duros” que se têm seguido a uma pandemia que assola o mundo.

Dionísio Cumba adiantou que é também uma oportunidade para os participantes debruçarem, procurar razões e estudar medidas para a nova espécie de pandemia que começa a invadir hospitais, pondo em risco a integridade física e a estabilidade emocional dos técnicos.

O ministro, que é também um médico de profissão, lembrou que compete às associações profissionais a defesa dos interesses dos seus associados, mas advertiu que o direito à saúde dos cidadãos, a boa qualidade da medicina e a regulação do exercício profissional dos médicos não podem ser olvidados.

Por outro lado, Dionísio Cumba referiu que a Guiné-Bissau é um país ainda jovem, com problemas próprios de quem está em crescimento, mas tem um povo determinado e ambicioso na desejada conquista do bem-estar, da paz e do progresso.

Dificuldades dos profissionais

Ísis Juliana Ferreira, bastonária da Ordem dos Médicos da Guiné-Bissau (OMGB), aproveitou para falar da situação dos profissionais guineenses, que se deparam com grandes dificuldades, entre as quais o magro salário, sendo que alguns técnicos trabalham sem receber ordenado.

Disse que estão a fazer uma luta sem equipamentos de proteção individual, “sem mínimas condições de trabalho, nem garantia de segurança”. Foi nesse sentido que apelou a todos os médicos a fazerem de tudo para dignificar a classe, com ética, humanismo e profissionalismo, servindo aos necessitados.

Para alcançar a esses desideratos, a bastonária anfitriã desse X congresso advertiu que é preciso investir na formação de qualidade, observar os princípios éticos e deontológicos da profissão, bem como harmonizar e profissionalizar os cuidados.

A dirigente lamentou àquilo que chama de banalização da profissão médica na Guiné-Bissau, com “a proliferação de escolas de ensino sem condições” para formar profissionais de Medicina, pois não dispõem de campos de estágios, nem cumprem com a carga horária requerida.

Ísis Ferreira manifestou a preocupação da OMGB em relação à “crescente ausência de diálogo permanente” entre o Ministério da Saúde, o seu homólogo da Educação, as instituições de formação e a Ordem dos Médicos para, juntos, darem resposta a esse desafio.

O secretário executivo da CMLP agradeceu a todos aqueles que de forma direta e indireta contribuíram para a realização do evento.

João Miguel Pavão garantiu aos presentes que jamais irão desistir da sua missão, substanciada no conteúdo estatutário de reforçar os laços que os unem, procurar abrir portas, diluir fronteiras e criar oportunidades, tendo em vista facilitar a troca de conhecimentos e ajudar aqueles que, através de formação, querem alcançar a melhor qualidade na escolha das suas especialidades. 

Para isso, disse que a língua portuguesa é um veículo indispensável, desde logo, funcional e de grande utilidade nas nossas comunicações e diálogos.

Objetivos da CMLP

A CMLP reúne a ordem dos médicos e associação médicas que pertencem à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), bem como as organizações que representem médicos de língua portuguesa (Macau e Venezuela).  

Criada em janeiro de 2005, a organização tem, entre outros os seguintes objectivos: prossecução de uma política comum de cooperação no domínio profissional e cientifico, nomeadamente quanto à formação médica, definição da deontologia profissional e às condições de exercício técnico de Medicina; realizar e participar em colóquios, seminários e reuniões científicas, subordinadas a temas de reconhecido interesse para o desenvolvimento da Medicina dos países da CMLP; participar na criação de centros de ensino, formação e informação, bem como de organismos científicos e técnicos; estabelecer os princípios basilares do controlo de exercício profissional; contribuir para a definição das condições para o exercício técnico de Medicina; colaborar na elaboração de programas de formação, com vista à progressiva harmonização entre as formações ministradas na CMLP.

Ibraima Sori Baldé

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