Medicina tradicional está em evolução progressiva na Guiné-Bissau

Apesar da evolução científica no domínio da medicina convencional, muitos guineenses ainda recorrem à medicina tradicional para o tratamento de várias doenças, onde, por vezes, alguns têm obtido resultados satisfatórios.

O desafio ainda poderá ser maior nesta época das chuvas, devido ao aumento das doenças, sobretudo paludismo, diarreia, tifóide, hepatites e as infeções respiratórias, causadas por más condições higiénicas, a falta de saneamento básico e o consumo de água imprópria.

O repórter do Nô Pintcha visitou vários locais de venda de medicamentos tradicionais em Bissau, tendo constatado que muita gente continua a apostar nessa medicina para o tratamento de doenças, sobretudo dores de corpo, ossos, temperatura, paludismo, diarreia, anemia, tosse, diabete, hipertensão, paralisia, colesterol, hemorróides, sarampo, infeções respiratórias, hepatites, problemas de tumor, hérnia, apendicites, infeções dentárias, incapacidade sexual, dificuldades e estabilização de gravidez, perturbações de períodos menstruais, reumatismo, problemas visuais e auditivas, entre outras.

Entretanto, o problema de tratamento tradicional continua a ser o diagnóstico da doença do paciente antes de submetê-lo ao curativo. Certo é que os curandeiros e vendedores de medicamentos tradicionais advinham e baseiam-se nas explicações do paciente para proceder com o tratamento.

Porém, alguns curandeiros acumulam largas experiências nesse trabalho, o que lhes permite identificar o tipo de doença que o paciente padece e o medicamento a tomar.

Aliás, foi o que explicou ao Nô Pintcha Sadjó Mané, vendedeira de medicamentos no Mercado de Bandim, com mais de 23 anos de experiência, realçando a importância de remédios tradicionais na saúde da população.

Por outro lado, sublinhou que os medicamentos oriundos de raízes, cascas e folhas de plantas variadas são importantes no tratamento de muitas enfermidades que afetam às pessoas.

Disse que há doenças que o hospital não consegue tratar, mas que tem solução com a medicina tradicional, sublinhando que existem casos em que os doentes são orientados pelos médicos, no sentido de recorrerem à cura tradicional.

Daí, disse ela, a medicina tradicional deve ser valorizada pelas autoridades, estabelecendo maior colaboração entre o Estado e os curandeiros tradicionais.

Aquela visionária nega a tese de que os medicamentos tradicionais são prejudiciais e que provocam anemia. “Pelo contrário, há medicamentos tradicionais eficientes na recuperação rápida de sangue, assim como no tratamento de outras doenças que, muitas vezes, levam o paciente a gastar somas avultadas de dinheiro com medicina convencional, onde poderia gastar menos com o medicamento tradicional.

Serviço de complementaridade

Para Sadjó Mané, a medicina tradicional pode servir de complemento à medicina convencional. Por isso, deve haver maior colaboração entre o Ministério da Saúde Pública e os curandeiros e vendedores. Aliás, disse que nalguns países, regularmente, realizam-se intercâmbios de experiências entre os profissionais dos dois campos, onde se debatem diversos temas ligados à problemática de doenças que fustigam a população, procurando estratégias e soluções conjuntas. As doenças que não se podem curar no hospital são transferidas para a medicina tradicional e vice-versa.

Relativamente à dosagem, Mané disse que cada medicamento tem a sua composição e medida. Os pacientes são orientados a forma como podem usar os medicamentos e, consequentemente, a dosagem a tomar diariamente. Mas, alguns ignoram estas orientações e medicam-se à sua maneira, o que acaba por causar problemas.

“Se seguirem as nossas orientações, ninguém vai ter problemas com o tratamento tradicional”, esclareceu Sadjó Mané, exortando às pessoas que recorrem a eles para seguirem as indicações dos curandeiros no uso dos medicamentos.

Garantiu que as mulheres com problemas de período menstrual prolongado e outras com dificuldades de obter e/ou estabilizar gravidez, podem ser tratadas facilmente com medicamento tradicional, assim como as pessoas que padecem de diabetes.

Mas lamentou a falta de apoio do Estado, sobretudo no que concerne a um espaço próprio e exclusivo, à imagem do que acontece nos outros países. Disse que a Guiné-Bissau possui enormes potencialidades nessa matéria, o que leva até alguns países da sub-região a virem procurar remédios naturais.

Assim, Sadjó Mané pede apoio do Governo para a promoção da medicina tradicional, permitindo aos curandeiros exercer eficazmente as suas atividades, mediante um regulamento que orienta suas ações.

Entretanto, Sadjó Mané lembrou que, no passado, havia pouco problema de saúde e baixa taxa de mortalidade, sobretudo materno e infantil. Isto porque as pessoas medicavam com raízes, cascas e folhas de árvores diferentes, selecionadas com base em conhecimento tradicional.

“O tratamento resultava muito bem, principalmente nas mulheres durante a gestação que, em muitos casos, tiveram partos fáceis com bebés limpinhos e saudáveis”, disse. Também, acrescentou, medicavam pós-parto para evacuar o resto do sangue que acumula no ventre e tinham bom leite para amamentar a criança, que acabaria por crescer muito saudável.

Gestação

Baseando em experiências e conhecimentos empíricos, Mané explicou que nem sempre as mulheres com longo período menstrual de 6 a 8 dias têm problema. Disse que a mulher que menstrua até sete dias tem mais probabilidade de ter gravidez rápida.

A mulher que menstrua dois ou três dias poderá ter problema de engravidar, porque, segundo as suas explicações, a acumulação de sangue pode causar dificuldades no útero, podendo assim impedir a permanência de espermatozoides e consequente gestação.

“As pessoas não compreendem isto e algumas acham que o período menstrual longo prejudica à saúde da mulher. No entanto, ao contrário disto, o que prejudica é o espaço de tempo de menstruação curto”, disse Sadjó Mané, pedindo à população que valorize os medicamentos tradicionais como complemento dos remédios modernos.

Atenção à medicina tradicional

Braima Sanhá, filho e herdeiro do curandeiro de reconhecido mérito, Malam Sanhá, defendeu a necessidade de o Governo prestar atenção à medicina tradicional.

Abordado pela reportagem do Nô Pintcha, explicou que a medicina tradicional foi e continua a ser importante para a saúde pública. Aliás, daquilo que apreendeu do seu pai, disse que os medicamentos modernos são fabricados a partir das plantas e raízes de árvores medicinais que existem nas florestas. “Mas, muitas pessoas desconhecem isso por ignorância ou simplesmente por desprezo”, disse o jovem curandeiro.

Por outro lado, o curandeiro informou que antes de medicar o seu paciente, primeiramente, faz um diagnóstico prévio para conhecer a verdadeira doença que ele padece para depois saber que tipo de medicamento a usar no tratamento e a quantidade de dosagem necessária.

Segundo ele, qualquer medicamento tem a sua composição e dosagem que o curandeiro ou vendedor deve conhecer para melhor orientar o seu paciente, visto que alguns deles não seguem esta orientação.

Esclareceu que a doença é natural na pessoa e só é considerada doente quando esta manifestar, mas se for tratada, fica curada.

Braima Sanhá revelou que com o conhecimento que adquiriu do seu pai, agora tem largas experiências e exerce a sua atividade até Gâmbia, onde é solicitado por clientes.

Portanto, juntou a sua voz a dos colegas, pedindo o apoio do Governo para que os vendedores de medicamento tradicional possam conseguir um espaço próprio e que haja um regulamento que oriente as suas atividades. Falou na invasão de curandeiros estrangeiros, “que chegam com propagandas”, mas não têm competências mais do que os nacionais, uma situação que apenas se resolve com uma norma que vai definir claramente o funcionamento do setor.

Potencialidades subaproveitadas

De acordo com os curandeiros tradicionais abordados pela nossa reportagem, a Guiné-Bissau possui enormes potencialidades em termos de plantas medicinais e outros recursos, mas há limitação no que diz respeito à capacidade de exploração.

Nesta perspetiva, exortam o Governo a apoiar os profissionais da área, em termos de formação e reforço de capacidades, para poderem melhorar os seus conhecimentos técnicos para a exploração das potencialidades existentes em matéria de medicina tradicional.

Explicaram que noutros países, sobretudo a nível da sub-região, a medicina tradicional é reconhecida e valorizada, servindo-se de complemento à medicina convencional. “Mas tudo requer a formação de quem lida com esta questão para poder melhorar o seu saber e servir da melhor maneira à população.

Reconhecimento do valor

Para os dois curandeiros contatados pelo jornal Nô Pintcha, há pouco reconhecimento pela medicina tradicional na Guiné-Bissau. Para eles, é uma ignorância, pois, os medicamentos modernos são fabricados a partir das medicinas tradicionais, que depois são acrescidos com certas substâncias químicas.

De acordo com os nossos entrevistados, há doenças que requerem intervenção cirúrgica, mas que na medicina tradicional podem ser tratadas sem uso de “faca”, podendo ser neutralizadas no interior do corpo de paciente, o que na medicina moderna é denominada “operação laser”.

“No passado, quando ainda a medicina moderna não estava desenvolvida, todos os tratamentos se faziam com base na medicina tradicional e conseguia-se soluções positivas”, sublinharam.

Djuldé Djaló

About The Author