No quadro das celebrações do 48º aniversário da independência da Guiné-Bissau, o combatente da Liberdade da Pátria, Luís Oliveira Sanca, falou, em resumo, ao Nô Pintcha, o historial do Acordo de Argel.
O primeiro embaixador da Guiné-Bissau na Argélia disse que o Acordo de Argel foi o fim de todo um processo que iniciou com a constituição da primeira Assembleia Nacional Popular, em 1973, que obrigou ao colonialismo português a reconhecer de júri o Estado da Guiné-Bissau.
Oliveira Sanca explicou que depois da proclamação unilateral da independência, os portugueses diziam que os guerreiros declaram liberdade, mas sem ter capital sob seu controlo, facto que motivou as negociações, sem sucesso, em Dakar e na Inglaterra.
Disse que, na altura, havia países que reconheciam a Guiné-Bissau como um Estado independente e o partido, sob a orientação de Aristides Maria Pereira, decidiu abrir nesses países serviços diplomáticos, na perspetiva de influenciar esses Estados a convencer o Governo português a aceitar retirada do país.
Nesta perspetiva, Luís Oliveira Sanca foi enviado como embaixador da Guiné-Bissau na Argélia e países árabes, tendo afirmado que a ideia era fazer da Argélia a tábua de ligação com as autoridades portuguesas, sobretudo da sua experiência em negociações do género.
Lembrou que a Argélia foi o país africano que dirigiu a mais enérgica guerra contra os invasores colonialistas franceses, seguida da Guiné-Bissau.
O Governo argelino contribuiu muito na afirmação do acordo entre o PAIGC e o Governo português, para o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau.
“As negociações não foram difíceis, porque sabiam que os guerrilheiros do PAIGC estavam equipados com armas ante áreas e cada vez mais determinados”, esclareceu o veterano.
Sanca disse que jogou um papel fundamental nas conversações, porque depois das reuniões separadas facultou todas as informações detalhadas à delegação do PAIGC, mas cada uma das partes tinha o seu plano e texto, que depois se melhorou em função do papel do mediador.
Afinal, o embaixador jogou um papel extraordinário na realização do acordo de Argel, através de uma ofensiva diplomática que cobria toda a região do Magreb.
A delegação guineense foi composta por Pedro Pires, chefe da delegação, Umaro Djaló, Oto Chate, Lúcio Soares e Luís Oliveira Sanca e a parte portuguesa por Mário Soares, Almeida dos Santos e mais um oficial militar que o nosso entrevistado não se lembra de cor.
Em relação ao primeiro tiro dado pelos guerrilheiros do PAIGC, Luís Oliveira Sanca esclareceu que aconteceu em Cubussek, Setor de Empada, Região de Quinara, descarregado por Caetano Barbosa, mas o primeiro ataque a uma Base Militar portuguesa foi a 23 janeiro de 1963, em Tite.
Perspetiva do país
Luís Oliveira Sanca reconheceu que o falhanço no cumprimento do programa maior é devido às várias vicissitudes, mas acredita que é possível continuar a sonhar com uma Guiné-Bissau próspera, sobretudo se o Presidente da República, General Umaro Sissoco Embaló, conseguir dinamizar a sua agenda interna à semelhança do que tem feito no plano externo.
Por estas razões, defendeu a necessidade de fortificar as instituições da República, para permitir, cada um no seu lado, trabalhar para afirmação dos ideais dos Combatentes da Liberdade da Pátria.
Por outro lado, lamentou o Estado atual da cooperação entre a Guiné-Bissau e a Argélia, tendo em conta o seu envolvimento no processo da independência da Guiné-Bissau e na emissão da primeira moeda do país, o peso.
Texto e foto: Seco Baldé Vieira