Jovens reclamam maior inclusão nas listas dos partidos 

A juventude reclama maior inclusão dos jovens nas listas dos candidatos a deputado da nação nas legislativas, previstas para o próximo dia de 4 junho. O jornal Nô Pintcha ouviu diferentes organizações juvenis, tentando saber a sua visão em relação às eleições que se avizinham.

Neste sentido, o Conselho Nacional de Juventude (CNJ) está “bastante esperançado” de que estas eleições venham mudar o cenário político da Guiné-Bissau e que o país consiga ter governantes que o possam desenvolver, sendo esta mais uma oportunidade de o povo escolher os seus legítimos representantes (os deputados).

Na voz da sua presidente, Aissatu Forbs Djaló, o CNJ, como organização da sociedade civil, também “representando a maioria da população guineense e maiores eleitores”, espera que os jovens consigam ver o perfil dos candidatos a deputado, os programas dos partidos que vão ao encontro da realidade do país, que não sejam as “habituais promessas” eleitorais. “Queremos que os políticos prometam aquilo que possam cumprir durante o mandato de quatro anos”.

Aissatu Djaló transmitiu o encorajamento e o engajamento do CNJ na realização das eleições, estando, em colaboração com outras organizações, a sensibilizar à população sobre não só a forma de votar, mas também a utilidade do próprio voto.

“Como jovens, temos essa grande responsabilidade de consciencializar a nossa juventude sobre a vantagem do seu sufrágio e evitar votos em abstenção ou em promessas não cumpridas”, referiu.

Manifestou a vontade de ver o próximo governo e o parlamento serem compostos com um número significativo de jovens, sobretudo a camada feminina. “Não podemos ser maiores em termos da população e isso não refletir na ANP. A luta que estamos a fazer junto dos partidos é que aos jovens sejam dado a oportunidade de encabeçar as listas dos candidatos ao cargo de deputado para poderem eleger. Se tivermos a representação da juventude entre 20 e 30 por cento na ANP, muita coisa irá mudar, porque anteriormente, não tivemos nenhum jovem entre 18 e 35 anos no parlamento. Eles entram sempre como suplementes. Queremos que questões da juventude sejam discutidas na ANP, nomeadamente emprego, escola, acesso à habitação, saúde, entre outras”, reclamou a presidente do CNJ.

Apostar na educação para mudar o rumo

Por seu lado, a Confederação Nacional das Associações Estudantis da Guiné-Bissau (Conaeguib) faz votos para que as eleições tragam uma maior estabilidade política, permitindo ao desenvolvimento do país.

Bacai Serifo Baldé, coordenador do Conselho do Ensino Médio e Superior da Conaeguib, disse que a sua organização exige que o próximo executivo seja aquele que consiga resolver os problemas sociais e que veja para a classe mais desfavorecida. Independentemente de quem vier a ganhar as eleições, espera a criação de condições para que a educação seja um dos pilares para o desenvolvimento da Guiné-Bissau. 

“Almejamos um país que comece a competir com a sub-região, porque a educação que temos não é desejável e não dá para isso. Fazemos voto para que o governo paute pelos setores sociais – educação e saúde. Uma saúde de qualidade requer educação de qualidade”, opinou.

A confederação recomenda a todos os partidos concorrentes que aceitem os resultados eleitorais “para o bem do país e em nome de estabilidade para o arranque da Guiné-Bissau”. Aconselhou também à moderação de linguagem durante a campanha eleitoral, pensando no povo e deixando de lado o divisionismo, o regionalismo ou o tribalismo, mas sim falar na união dos guineenses, mostrando os melhores programas para os próximos quatro anos. “Se queremos ter um ensino de qualidade, enquanto estudantes, temos que ver isso nos programas dos partidos e não aqueles que trazem materiais que podem estragar dentro de pouco tempo. A sociedade precisa tanto de educação de qualidade para podermos sair da situação em que nos encontramos”.

Evitar comportamento violento

Fórum Nacional de Inserção para a Formação Extra-escolar e Profissional na Guiné-Bissau (Fonaifep-GB)fala na necessidade de fazer algo para uma transformação positiva, que passa pelos superiores interesses da nação.

Por isso, o presidente do Fonaifepo-GB incentiva à maior participação dos jovens na política partidária, sobretudo para poderem chegar ao parlamento. Na opinião de Ussumane Sadjo, tendo “jovens competentes” na ANP, vai-se iniciar um processo de construção nacional de ideais para permitir a reflexão de debates sérios com vista à progressão do país ao mais alto nível.

A seu ver, outro aspeto importante, é o facto de alguns jovens trabalharem na emancipação de cultura de paz, solidariedade, desenvolvimento e visão crítica para a aceleração do desenvolvimento do país, com vista a garantir educação, saúde, infraestruturas e outros valores.

Tal como outros colegas, Sadjo ainda falou da importância de saber fazer “o uso correto” do voto, que irá expressar a decisão final da juventude no desenvolvimento do país. “Esta expressão inequívoca que se faz democraticamente através de consciência livre, permite aos jovens ganharem a maturidade de compreender de que não devem ser enganados ou usados para um benefício político individual”, acrescentou.

Convidou os guineenses a refletirem sobre o que as sucessivas eleições conseguiram trazer para a Guiné-Bissau, em termos de retrocesso e progresso e tentar perceber o que é necessário fazer neste momento.

Por outro lado, apelou à juventude a fazer destas eleições uma festa da democracia, evitando o uso de comportamentos violentos, incluindo na comunicação, trazendo ao processo “outro tipo de ingrediente”, que permita consolidar a confiança, a paz e o progresso para todos os cidadãos.

Disse que os políticos devem parar de pensar somente em eleições, mas sim num processo para a dignificação, credibilização e o resgate do país, “porque aquilo que nos une é mais importante do que nos separa”.

Ussumane Sadjo, que é também presidente do Fórum Internacional de Jovens com Embaixada da África Ocidental, apelou para que as eleições não tenham nenhuma manipulação política, virada à religião ou etnia, advertindo aos políticos que amem o país em detrimento de interesses partidários.

Igualmente, exortou aos futuros governantes que tenham em conta as pessoas com deficiência, respeitem os direitos humanos e a equidade e igualdade de género. Ainda que haja liberdade de expressão, permitindo aos jornalistas fazerem os seus trabalhos com consciência.

Conduta democrática

A presidente da Associação Juvenil para a Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (AJPDDH), apelou às organizações nacionais da sociedade civil apartidárias, no sentido de serem imparciais durante essa campanha eleitoral, devendo defender a causa dos direitos humanos e a vida social da população guineense.

Mansata Mónica Barbosa Silá pediu às instituições da República ligadas ao processo de eleição, principalmente os partidos políticos, para se evitarem de discursos violentos e ataques à honra e vidas privadas de outrem, mas sim, fazer essa campanha eleitoral de referência a nível da África Ocidental.

Para ela, quem sente lesado, não deve recorrer ao uso da violência física e nem verbal, para retribuir o mal ao seu adversário político.

Mónica Barbosa Silá espera que a campanha eleitoral, possa ser um modelo de debates e troca de ideias, onde os jovens vão ter autonomia de fazer perguntas ousadas, direcionadas diretamente aos políticos e que das quais possam ter respostas concretas e não pintadas, que não venham ter o efeito positiva para bem-estar social do povo guineense. “Espero nessas legislativas uma participação ativa e efetiva dos jovens, e não de estatuto de bajulador”.

Para pôr cobro a essa situação, a presidente da Associação Juvenil para Promoção e Defesa dos Direitos Humanos afirmou que já começou a desenvolver atividades singulares e coletivas junto das organizações da sociedade civil, para que não haja excessos durante campanha eleitoral.

No entender de Mansata, os políticos devem ter conduta democrática, não perturbadora, porque a Guiné-Bissau é um Estado democrático que reclama uma postura saudável.          

 De salientar que a Associação Juvenil para a Promoção e Defesa dos Direitos Humanos foi criada desde 2014, com o objetivo principal de exortar os políticos a terem uma conduta democrática durante campanha eleitoral.

Repórteres de boa conduta eleitoral

O presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis (Renaj) apelou os jovens a saberem que são maioria nessas legislativas próximas, em termos de votantes, que devem ser exemplos de boa conduta durante período eleitoral.

Abulai Djaura apelou os jovens em geral, quer aqueles que fazem política ativa, quer os simpatizantes com algumas formações políticas no país, devem trabalhar no sentido de fazer dessas eleições mais pacíficas e ordeiras.

Aquele responsável lamentou o facto de que a maioria das violências verificadas na sociedade guineense, os envolvidos, praticamente, não são autores ou promotores da referida violência.

“Existem todas as condições de termos uma boa qualidade de saúde, educação e infraestruturas, basta investirmos seriamente nas instituições, pois efeitos serão a diminuição da fuga de jovens para o estrangeiro a procura de formação académica, cujos estabelecimentos já temos no país”, defendeu.

Djaura desejou boa sorte aos futuros deputados da Nação a serem escolhidos e pediu para que saibam discutir e defender os diplomas importantes para a vida do país e do povo. “É minha convicção que os futuros deputados serão capazes de reportar tudo que é conteúdo importante e necessário para o desenvolvimento do país nos debates na Assembleia Nacional Popular.

O líder da RENAJ acrescentou ainda que o processo de eleições não é um espaço de transformar uns contra outros, mas sim adversários políticos que têm a mesma finalidade de trabalhar para o bem do país.

Abulai Djaura aproveitou essa entrevista ao Nô Pintcha para apelar aos jovens principalmente os que estão na diáspora no sentido de abdicarem de usar de forma abusiva as redes sociais para insultar.

Segundo o presidente da RENAJ, os ativistas das redes sociais devem saber que qualquer comportamento negativo reflete na imagem do país e dos guineenses.

Discursos violentos durante campanha

Por seu lado, a presidente da Rede Nacional de Jovens Mulheres Líderes da Guiné-Bissau (RENALJEF-GB) afirmou que nesse momento a sua organização está a trabalhar sobre a prevenção de eventuais discursos violentos dos políticos durante a campanha eleitoral.

Disse que a construção de paz vai brevemente ser debatida num fórum de mulheres candidatas nas listas de diferentes formações políticas nessas legislativas de 4 de junho.

Maneque Correia da Silva afirmou que além de trabalhar para evitar os discursos violentos nessas eleições, a RENALJEF tem estado a sensibilizar meninas, no sentido de terem mais cuidado para que não venham a ser assediadas durante a campanha eleitoral.

Aquela responsável acrescentou ainda que a organização que dirige está a trabalhar juntamente com a Célula de Monotorização das organizações da Sociedade Civil para que não ponham em causa as suas dignidades nessas eleições.

Ibraima Sori Baldé e Fulgêncio Mendes Borges

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