O Comité Estado, Centro de Saúde e Comando de Polícia do Setor de Contuboel estão a funcionar sem nenhuma viatura do Estado à disposição dessas estruturas, isto porque, segundo o administrador do setor, Alberto Djamam Baldé, o Governo central preocupa mais em criar condições para as instituições estatais de Bissau, esquecendo as de regiões donde provém a grande parte dos recursos do país.
Numa entrevista ao Nô Pintcha, Alberto Djamam Baldé defendeu que o desenvolvimento do país de iniciar-se nas regiões para a capital, justificando que governar é servir o povo e ao servir o povo a prioridade deve recair para as comunidades mais vulneráveis.
Não é segredo para ninguém que já é hábito, logo após a nomeação de alguém para um cargo a partir da categoria do diretor-geral para cima a primeira exigência do nomeado é a afetação de uma viatura e equipamento do gabinete e essas exigências são atendidas sem demora, mas porque não o tratamento igual para um servidor de estado a partir da região, setor ou seção, questionou.
Sobre a situação da estrada que liga Entroncamento a Cambadju, Djamam Baldé disse que o troço, apresar da sua reabilitação, já apresenta um estado de degradação preocupante em algumas localidades.
O administrador disse não compreender as razões de não alcatroamento do troço atrás referido tendo em conta volume da sua contribuição para o cofre de Estado em receitas aduaneiras e muitas outras.
“Temos seis seções a nível do setor, sendo a seção de Saré Bacar, é a de maiores problemas e dentre esses a degradação da estrada de acesso à zona, a falta de ambulância. Essa falta de ambulância de evacuação de doentes faz com que, muitas vezes eu, na qualidade do administrador, disponibilizo a minha viatura pessoal para o transportar pacientes em situações graves”, explicou Alberto Baldé.
O administrador disse que a nível do setor composto por seis seções, apenas a Seção de Fajonquito é que dispunha de uma ambulância que fazia cobertura a todas as outras zonas. Contuboel é o setor mais vasto territorialmente da província leste, por isso, não pode continuar nessas condições.
O apelo do administrador às autoridades para a criação de condições para as comunidades foi particularizado ao Presidente da República e o Primeiro-Ministro, enquanto responsáveis máximos do país.
Assisti aqui um acontecimento inacreditável: uma mulher estava a ser transportada de Saré Bacar, na motorizada para o centro de saúde e, a frente do Comité de Estado a grávida gritava ao motorista, – pare aqui, já não aguento, vai cair o bebé – e, ao encostar a moto, a mulher já tinha o feto na rua, a ser assistida pelo motorista”, relatou o administrador.
Uma outra história terrível tem a ver com o transporte de cadáveres de centro de saúde para as suas tabancas de origem. Alberto Djamam afirmou que a ausência de ambulância está a forçar o transporte de defuntos nas motorizadas. “É triste, pois não custa muito comprar um duplo cabine”, acrescentou.
Boa campanha agrícola
Em relação à campanha agrícola, o administrador disse ter informações dos populares de que haverá uma boa colheita da lavoura deste ano, motivada pelas chuvas regulares. Disse que a zona tem condições para a prática da agricultura permanentemente, ou seja, nas épocas chuvosas e secas.
Lembrou que, antigamente, o funcionamento do projeto agrícola, denominado “Depa” incentivava a fuga de jovens de cidades regionais para o Setor de Contuboel, porém, atualmente não há uma iniciativa atrativa do género, por isso, os que em condições de trabalhar optam por emigrações para os centros urbanos, principalmente para Bissau.
O responsável do centro de saúde de Contuboel, Herculano Braz da Silva, disse que é preciso fazer um recenseamento propriamente dito para conhecer o número real e global da população, particularmente as crianças e mulheres, permitindo um melhor planeamento prévio do centro de saúde para fazer face às necessidades da sua área sanitária.
Herculano Braz da Silva lamentou o facto de o centro de saúde não dispor de nenhuma ambulância para a evacuação, com urgência, de casos graves. “Estou cá há quatro anos e encontrei uma viatura mas já com avaria e de lá para os dias de hoje recorremos à ambulância do Hospital Regional de Bafatá, se estiver disponível”, explicou.
“Quando não há disponibilidade da ambulância de Bafatá a família do doente é obrigado a recorrer a um meio de transporte público ou motorizada e em algumas situações xaretes de burro servem de meio de locomoção para fazer chegar um paciente ao centro de saúde mais próximo, lamentavelmente tem sido assim”.
O Agente da Saúde Comunitária (ASC) de Contuboel, Cambai Baldé, disse que desempenhou função do guião de uma das equipas de vacinação e passou por nove aldeias, de porta-a-porta, para localizar crianças de zero a cinco anos de idade e as brigadas de vacinação seguiram o guião e vacinou todas os menores identificados.
Cambai Baldé disse que dantes as comunidades ficavam duvidosas para aceitar tomar certas vacinas mas as sensibilizações levadas a cabo pelos ASC e por estes serem filhos das comunidades locais, acabaram por convencer as famílias.
O ASC disse estar desmoralizado quanto ao valor de subsídio pago no âmbito das ações de sensibilização das comunidades sobre a saúde.
“São apenas 6.000 francos FCFA pagos mensalmente a cada ASC, não há como fazer e aceitamos mas é muito pouco e este valor não incentiva a ninguém, porém, pela saúde das nossas comunidades, vamos continuar a colaborar com a estrutura sanitária”.
Cambai Baldé disse está a colaborar com o Centro de Saúde de Contuboel há 18 anos, que também, segundo ele, poucos meses do ano são pagos. “Importa lembrar que, na era dos Médicos Sem Fronteiras recebíamos em cada mês, acrescentou.
Registo civil
O delegado de Registo Civil de Contuboel, Mamadu Aliu Baldé, anunciou ao Nô Pintcha um plano de facilidade de registo civil para toda a população da zona, diminuindo as dificuldades de seu acesso.
Mamadu Aliu Baldé disse que a delegacia do Registo Civil que neste momento se encotra na sede do setor vai ser expandida para as seções de Fajonquito, Saré Bacar e Ginane.
As comunidades estão sempre interessadas em adquirir registo civil mas a distância e dificuldades financeiras para suportar os custos de transporte levam muitas vezes os país a adiar o ato de registo dos filhos e até alguns acabam por ficar sem esse direito fundamental.
Aliu Baldé