O Governo procede amanhã, sábado, dia 15 deste mês, ao lançamento oficial da campanha agrícola 2023/2024, em Mansabá, norte do país, cuja cerimónia será presidida pelo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Botche Candé. No decorrer da cerimónia o Programa Mundial de Alimentação, PAM, e o Governo vão distribuir sementes aos camponeses.
Enquanto isso, são relatos inquietantes que chegam de todos os lados do país de fome severa e em alguns casos as populações alimentam-se de frutos silvestres devido a má campanha de comercialização da castanha de caju.
O relatório das nações Unidas divulgado ontem, 13 de julho, revela que os últimos estudos mostram que cerca de 735 milhões de pessoas são afetadas atualmente pela fome, em comparação com 613 milhões, em 2019
Mais 122 milhões de pessoas são afetadas pela fome no mundo desde 2019, devido à pandemia e aos repetidos choques climáticos e conflitos, incluindo a guerra na Ucrânia, de acordo com o último relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI), publicado hoje, conjuntamente por cinco agências especializadas das Nações Unidas.
Se as tendências se mantiverem, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de acabar com a fome até 2030 não será alcançado, alertam a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Alimentar Mundial (PAM).
Sinal de alerta
A edição de 2023 do relatório revela que entre 691 e 783 milhões de pessoas foram afetadas pela fome em 2022, com um intervalo médio de 735 milhões. Isto representa um aumento de 122 milhões de pessoas em comparação a 2019, antes da pandemia da Covid-19.
Embora os números globais da fome tenham estagnado entre 2021 e 2022, há vários lugares no mundo que enfrentam crises alimentares cada vez mais profundas. Foram observados progressos na redução da fome na Ásia e na América Latina, mas a fome continuava a aumentar na Ásia Ocidental, nas Caraíbas e em todas as sub-regiões de África em 2022. A África continua a ser a região mais afetada, com uma em cada cinco pessoas a passar fome no continente, mais do dobro da média mundial. Há sinais de esperança. Algumas regiões estão no bom caminho para atingir alguns objetivos nutricionais até 2030. Mas, de modo geral, precisamos de um esforço global intenso e imediato para salvar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Temos de criar resiliência contra as crises e os choques que provocam a insegurança alimentar – dos conflitos ao clima, afirmou o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, numa mensagem de vídeo durante o lançamento do relatório na sede da ONU, em Nova Iorque.
Para além da fome
A situação da segurança alimentar e nutricional permaneceu sombria em 2022. O relatório constata que aproximadamente 29,6% da população global, equivalente a 2,4 mil milhões de pessoas, não tinha acesso constante a alimentos, medido pela prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave. Entre elas, cerca de 900 milhões de indivíduos enfrentavam uma insegurança alimentar grave.
Entretanto, a capacidade das pessoas para acederem a dietas saudáveis deteriorou-se em todo o mundo: mais de 3,1 mil milhões de pessoas no mundo – ou 42% – não tinham capacidade financeira para assegurar uma dieta saudável em 2021. Isto representa um aumento global de 134 milhões de pessoas em comparação com 2019.
Milhões de crianças com menos de cinco anos continuam a sofrer de malnutrição: em 2022, 148 milhões de crianças com menos de cinco anos (22,3 por cento) sofriam de desnutrição crónica, 45 milhões (6,8 por cento) sofriam de desnutrição aguda e 37 milhões (5,6 por cento) tinham.
Excesso de peso
Registaram-se progressos no aleitamento materno exclusivo, com 48% dos bebés com menos de 6 meses de idade a beneficiarem desta prática, próximo do objetivo para 2025. No entanto, serão necessários mais esforços concertados para atingir os objetivos de desnutrição para 2030.
Novas evidências: A urbanização está a impulsionar mudanças nos sistemas agro- alimentares
O relatório também analisa o aumento da urbanização como uma mega tendência que afeta a forma como as pessoas comem e o que comem. Prevendo-se que quase sete em cada dez pessoas viverão em cidades até 2050, os governos e outras entidades que trabalham para combater a fome, a insegurança alimentar e a subnutrição devem procurar compreender estas tendências de urbanização e tê-las em conta aquando a elaboração de políticas.
Em particular, o simples conceito de divisão rural/urbana já não é suficiente para compreender as formas como a urbanização está a moldar os sistemas agroalimentares. É necessária uma perspetiva mais complexa do continuaum rural-urbano, considerando tanto o grau de conetividade que as pessoas têm, como os tipos de ligações que existem entre as áreas urbanas e rurais.
A desnutrição infantil também apresenta especificidades urbanas e rurais: a prevalência de crianças com atraso de crescimento é mais elevada nas zonas rurais (35,8%) do que nas zonas urbanas (22,4%). O desperdício é mais elevado nas zonas rurais (10,5%) do que nas zonas urbanas (7,7%), enquanto o excesso de peso é ligeiramente mais prevalecente nas zonas urbanas (5,4%) do que nas zonas rurais (3,5%).
O relatório recomenda que, para promover eficazmente a segurança alimentar e a nutrição, as intervenções políticas, as ações e os investimentos devem ser orientados por uma compreensão abrangente da relação complexa e mutável entre o continuum rural-urbano e os sistemas agro- alimentares.
Abduramane Djaló