Doravante, o Governo quer ele próprio passar a cultivar arroz três ou quatro vezes ao ano com o intuito de combater a fome no país e, se houver possibilidades, vender a outros países.
É nesta ordem de ideias que o ministro de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural efetuou, no último fim de semana, uma visita de três dias (2, 3 e 4 de dezembro) às regiões de Bafatá e Gabu, concretamente nos setores de Bafatá, Ganado, Contuboel e Pitche, com o objetivo de identificar e fazer levantamentos de bolanhas onde o Estado possa lavrar.
Para essa operação, as autoridades nacionais pretendem colocar meios técnicos e financeiros à disposição da população camponesa para iniciar a produção agrícola em grande escala na Guiné-Bissau. Por isso, a viagem de Botché Candé ao leste do país permitiu-o identificar também armazéns onde se possa colocar sementes de arroz, mancarra e alguns materiais, que serão trazidos do Senegal. Além disso, existem cinco mil adubos de fertilização em Bissau que serão distribuídos nas regiões e precisam de locais de armazenamento. Eis a razão pela qual o ministro foi visitar as antigas instalações do antigo Projeto de Algodão, hoje Delegacia Regional de Agricultura em Bafatá.
Falando aos jornalistas no final da missão, concretamente na localidade de Fulamori, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, o governante considerou que existem condições para a produção de arroz três vezes ao ano (duas vezes na época seca), tendo em conta a disponibilidade dos técnicos e dirigentes do ministério.
Disse que nesta visita constatou que os agricultores estão a esforçar-se, mas precisam do apoio do governo para multiplicarem a produção e as bolanhas apresentam condições de o Estado lavrar, conforme as orientações do Presidente da República.
Recentemente, uma delegação do Dubai esteve no país a pedir a concessão de 10 mil hectares para cultivar arroz. Ora, Botche Candé garantiu que vai-se encontrar espaço para tal e regozijou-se com o facto de outros países como a Arábia Saudita ou China pedirem para produzir arroz na Guiné-Bissau. Tal hipótese, segundo ele, além de ajudar no consumo, irá abrir oportunidades para a criação de postos de emprego, lembrando que há vários jovens formados na área de agricultura, mas que estão desempregados.
Disse estar convicto de que, juntos, vamos trabalhar para combater a fome e garantir a autossuficiência alimentar no país, acreditando que a agricultura é o caminho certo para tirar a Guiné-Bissau da atual situação em que se encontra.
Questionado sobre projetos do género que outrora foram lançados no país e que se fracassaram, à imagem do “Mon na Lama”, o governante explicou que este último era para incentivar às pessoas a trabalharem muito e agora “estamos a meter a ´mão na lama´ para combater a fome”.
Botche Candé apontou o exemplo de um oficial militar que trabalha nas zonas de Sintchã Benfica, uma localidade do setor de Pitche (e que faz grande quantidade de arroz), onde existem grandes potencialidades para a produção de arroz.
União dos guineenses
O ministro apelou a todos os cidadãos nacionais que amam o seu país a apostarem na agricultura e acabar com o ódio, puxa-puxa e insultos para os transformar em trabalho para o bem da nação. “É essa a nossa luta atual e peço aos guineenses que juntemos as cabeças e acompanhemos o Governo e o Presidente da República para o desenvolvimento do país”.
No entanto, pediu união no seio dos guineenses e que acabem com guerrinhas, vinganças e lavem os corações, pondo o país em primeiro lugar.
Nesta viagem, aquele dirigente viu algo que “nunca tinha visto antes”. Trata-se da nova experiência de produzir arroz, que acarreta menos custos, poupa o tempo e traz mais rendimentos.
A técnica está a ser desenvolvida na região de Bafatá e consiste em ferver água, deitar na semente de arroz, metem fogo para elevar a temperatura, antes de ir ao viveiro, onde a germinação e crescimento fazem apenas sete dias (no máximo) para ser transplantada. A grande vantagem comparativamente à cultura tradicional, segundo um dos mentores, Domingos da Fonseca, é que num hectare onde se coloca 70 a 80 quilos, precisa-se apenas de meter seis ou sete quilos.
Dado curioso aqui, conforme esse técnico, é que a experiência foi feita em bolanhas de água salobre e produziu efeitos ainda mais rentáveis, visto que, enquanto a média nacional é de 85/90 grãos por planta, mas aí conseguiu-se atingir 121 grãos/planta. “Isso demonstra a capacidade dos nossos técnicos. Apenas falta-lhes meios e equipamentos para fazer melhor”, refere o ministro da Agricultura.
Importa referir que essa experiência foi trazida no país pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e está a ser desenvolvida conjuntamente com o Programa Alimentar Mundial (PAM) e alguns agrónomos guineenses.
Exportar arroz dentro de dois anos
Para o representante residente do PAM, não faz sentido a Guiné-Bissau, com as condições agro-ecológicas que dispõe e a capacidade dos seus técnicos, estar a importar arroz, comida e legumes, sabendo ainda que Deus doou todos os recursos ao país.
João Manja, que falava na presença do seu colega da FAO, Mohamed Hama Garba, garantiu que as Nações Unidas estão dispostas a ajudar a Guiné-Bissau a atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, lembrando que o primeiro deles é eliminar a fome e a pobreza. “É possível que dentro de dois anos, o país não só pare de importar, mas também comece a exportar arroz e atinja a soberania alimentar”, previu, alertando que, para isso, é necessário manter o ritmo, o foco e a energia agora iniciados.
Ora, satisfeito com o que acabara de ver, o ministro Botche Candé agradeceu os representantes da FAO e do PAM que disse estarem a apresentar uma solução para acabar com a fome no país.
As dificuldades de falta de motobombas, insuficiência de tratores e de máquinas de lavoura e descasque de arroz são as principais queixas que o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural recebeu da parte da população.
Ibraima Sori Baldé