A combatente da Liberdade da Pátria, Francisca Pereira, reconheceu, em entrevista exclusiva ao Nô Pintcha, no âmbito das comemorações do 48º. aniversário da independência e Dia das Forças Armadas, 16 de novembro, que o PAIGC falhou no cumprimento do programa maior.
Francisca Pereira afirmou que o fracasso deveu-se à incapacidade do partido na implementação da orientação do líder da revolução, deixando fugir de lado as inúmeras oportunidades que tiveram, sobretudo dos parceiros económicas e da capital humana de que dispõe na altura.
“Falhou sim, porque não havia uma linha de orientação. Cada um fazia o que entender na sua, trazia parceiros que entendia, tendo esses parceiros perceber do nível de desorganização que existia iam e não voltavam”, reconheceu, acrescentando que essa falta de experiência resultou nas sucessivas instabilidades e golpe de Estados.
Insistiu que o PAIGC não foi capaz, na altura, de gerir a situação pós luta, devido à inexperiência dos seus dirigentes que também não colaboraram na afirmação do Estado, quando podiam erguer como bandeira a palavra de ordem de Amílcar Cabral (Unidade e Luta).
“Houve desconfiança e mal entendido entre os camaradas da luta. E, esse mal entendido é que deu o que hoje estamos assistir. Aliás, a desordem e a atual situação que o partido vive não é surpresa, porque o comportamento é de longa data”, lamentou.
Fundação Combatentes da Liberdade da Pátria
Francisca Pereira disse que o seu desafio, enquanto combatente, é criar uma Fundação Combatentes da Liberdade da Pátria para salvaguardar a memória da luta e dos veteranos, tendo acusado os cabo-verdianos e portugueses de transferir a história e memória da luta para a Fundação Amílcar Cabral e Mário Soares.
A combatente disse que é urgente retomar a iniciativa, tendo lembrado da realização da Assembleia Constituinte, mas infelizmente até ao momento não foi possível transformar a ideia numa realidade.
A combatente disse que escreveu ao secretário de Estado dos Combatentes, pedindo uma audiência para o informar do projeto e partilhar ideias, mas não teve ainda a resposta governante.
Ela afirmou que é urgente reclassificar os Combatentes da Liberdade da Pátria para evitar essa multiplicação sistemática das pessoas na lista, embora admitiu que não devem ser tidos apenas como combatente os que pegaram nas armas, mas também há os que atuaram nas áreas sociais e de forma indireta.
Por outro lado, esclareceu que a Fundação Combatentes Amílcar Cabral será partidária, porque nem todos os combatentes continuam fiel ao PAIGC, por várias razões muitos dos seus camaradas aderiram outras formações políticas.
Relativamente ao Acordo de Argel, Pereira disse que ela, enquanto representante da Guiné-Bissau junto da Organização Panafricana na Argélia, participou, na companhia de Lamine Aidara, representante da Juventude e José Turpin, em representação do PAIGC, na ofensiva diplomática para o reconhecimento do Estado guineense.
Francisca Pereira apelou aos guineenses para assumirem o país, em primeiro lugar, deixando a política de lado, porque só com a unidade será possível realizar o sonho de Amílcar Cabral, valorizando o que é nacional porque a Guiné-Bissau é um país rico, em todos os níveis, desde área cultural, mineral, marítimo, florestal e entre outros.
A combatente afirmou que a cultura pode desempenhar um papel importante na promoção da imagem do país e atrair investidores para trazeres seus capitais para abrir infraestruturas comerciais e empreendedoras.
Texto e foto: Seco Baldé Vieira