Sonaco é a sede do setor do mesmo nome e um dos cinco que compõem a Região de Gabu. Os restantes são Boé, Pitche, Pirada e próprio Gabu.
A sua população é estimada em cerca de 68 mil pessoas, habitadas numa superfície de 783,6 quilómetros quadrados e cuja grande maioria é camponesa e criadora de gados. Por isso, as principais atividades económicas são a agricultura, a pesca, a pecuária e o pequeno comércio.
A palavra Sonaco provém do dialeto mandinga, significando a Sona diz (Sona+co). Tem alguns locais sagrados, tais como: Djalamberé (onde se fazia cultos, os então moradores derramavam para pedir, antes se converterem ao islamismo); Colomba (fonte grande, onde se fazem cerimónias anualmente, as mulheres pedem para ter filhos e outros pedindo o que querem na vida – saúde, dinheiro, etc); Fonte da Horta, construída em 1946 pelos portugueses, também conhecida por Bomba; há ainda a zona da Salina, cujo redor está cheio de pedras brilhantes, e perto da única praia existente no leste do país. Segundo habitantes locais, Sonaco era chamado de Canhabaque, nome que se dava ao lugar onde hoje é bairro de Sucotó.
O setor depara-se com grandes dificuldades, à imagem do que acontece um pouco por todo o país. Dentre estas, destaca-se a fraca produção de caju nesta campanha de 2022, a escassez de peixes e a falta de transportes público.
Na presente campanha de caju, a população de Sonaco já começa a recear um fraco rendimento e, portanto, perspetivando-se maus resultados. A situação é decorrente da elevada temperatura que se verifica na zona leste do país e que secou grande parte das flores dos cajueiros. Outros alegam ainda imensa quantidade de poeira que, num passado recente, assolou à zona e que teria coberto as flores do caju, provocando a sua fraca produção.
A título de exemplo, num pomar onde nos anos anteriores se recolhia mais de uma tonelada da castanha, nesta época o proprietário pode conseguir menos de metade.
Agricultura
Antigamente, Sonaco era tido como um setor bastante produtivo a nível agrícola por dispor de água doce, que favorece a irrigação e por o rio estar muito perto para facilitar esse sistema.
Atualmente, segundo o delegado da Agricultura, Amadu Embaló, a prática está muito difícil, porque no projeto em que estão inseridos, houve um bom lapso de tempo em que as máquinas de lavoura e as motobombas estiveram avariadas.
Acontece que a população entrou com o seu dinheiro para poder subvencionar a primeira fase dos trabalhos preliminares de agricultura, nomeadamente lavrar a terra, deitar semente para os viveiros e preparar para as transplantações nas bolanhas.
A maioria não teve a oportunidade de transplantar, porque as motobombas não conseguiam lançar água. E estávamos na época seca. Ora, esse investimento feito está a dar muitos prejuízos aos habitantes, pois agora estão sem dinheiro neste início da época chuvosa. As referidas dificuldades poderiam ser colmatadas se tivesse havido boa produção de caju, que não é o caso.
Tendo em conta a realidade vivida, Amadu Embaló é da opinião de que, se não houver apoio do governo, através do Ministério da Agricultura e outros parceiros que intervêm na área, poderá haver muita fome no setor de Sonaco. Isso porque as pessoas não têm meios para investir nesta altura.
Os lavradores irão precisar de dinheiro para pagar o tempo de máquina e transplante, bem como comprar sementes e adubes.
Foi nesse sentido que o delegado setorial da Agricultura aproveitou, através do jornal Nô Pintcha, para apelar às pessoas de boa vontade, desde o Presidente da República até às organizações governamentais e não governamentais, a apoiar o setor para minimizar os sofrimentos, que já se começam a sentir.
A boa nova nisso tudo é que, pelo menos, Sonaco conta com dois tratores neste momento, o que, segundo a nossa fonte, não acontecia há já algum tempo.
No que se refere à pecuária, informações dão conta que há muito gado no setor. Apresar disso, não se consegue encontrar carne no mercado, por esta altura. Não há abate de animais, situação que acontecia quase uma vez por semana, nomeadamente no dia da Feira Popular, conhecida por “Lumo”.
No entanto, a conjuntura piorou com a campanha de caju, aumentando a dificuldade de consumo de carne, porque os donos de vacas são também proprietários de hortas. Por isso, não têm muitas necessidades de dinheiro e aguardam as vendas ou então vendem num preço exagerado, em que os magarefes não arriscam comprar.
Pescas
O setor de Sonaco, tal como o seu vizinho Pirada, está a sofrer fortemente com a barragem colocada doutro lado da fronteira, na vizinha República do Senegal. Aquela infraestrutura impede que a água chegue em condições, ela fica baixa e prejudica a pesca na zona.
Esse fator de barragem, associado à alegada sujidade do rio (cheio de palhas), que deixa a corrente muito fraca, provocam pouca movimentação dos peixes e a consequente escassez do pescado.
Mansali Turé é um dos mais antigos pescadores da localidade e preside a associação da classe. O velho afirma que, além de todos os fatores supracitados, está também o facto de não haver lugar para a conservação, o que obriga estragos do pescado.
Outro aspeto invocado por este decano da pesca artesanal, tem a ver com os ataques dos hipopótamos verificados de vez em quando no rio contra os pescadores.
Por vezes, vê-se um grupo de sete a oito animais do género na água, tornando impossível a passagem. Esta prática constitui um perigo aos profissionais da área pesqueira e até já causou a perda de vida e ferimentos graves num passado recente.
Além disso, os hipopótamos estragam as redes de pesca e consomem cultivos nas bolanhas, chegando mesmo a aniquilar mais de um hectare em menos de uma hora, de acordo com as nossas fontes.
Nas zonas de Sonaco, a pesca faz-se com canoas a remo, pelo que o efeito da subida de combustível não é sentido e não provoca subida do preço de peixe. Felizmente, a famosa guerra de Ucrânia não fez efeitos neste caso.
Hospital sem ambulância nem água
O centro de saúde de Sonaco enfrenta duas grandes dificuldades de momento: falta de água potável e de ambulância.
Na ausência do responsável máximo do hospital, o jornal Nô Pintcha falou com o diretor clínico, Amaro da Costa. O jovem médico contou que procuram água junto da escola central local, que dista a cerca de 50 metros do centro. Isto pouco dignifica os profissionais da casa, pois o referido estabelecimento do ensino fica doutro lado da estrada. Ou seja, tem que se atravessar a rua principal da vila para encontrar aquele líquido precioso.
Em relação à ambulância, o nosso entrevistado informou que nos últimos cinco anos, o carro trabalhou apenas uma vez, levando um paciente para a sede regional, Gabu. Depois disso, nunca mais voltou a funcionar.
A viatura está estacionada no recinto, com muita pouca esperança de recuperação. Num passado recente houve a intervenção de um dos deputados eleitos no círculo eleitoral número 18, Saliu Embaló, mas foi apenas um sol de pouca dura. O setor de Sonaco elege três mandatos.
Aliás, esta não foi a única intervenção que Saliu Embaló fez no hospital. Também tinha dado apoios, nomeadamente lençóis de cama, computador, impressora, ventoinha, um lote de medicamentos e armário para a conservação dos materiais. O Banco Mundial ajudara, igualmente, em remédios.
No entanto, por falta de ambulância, os familiares são obrigados a custear a evacuação dos seus pacientes para Gabu. Isto é, quando a ambulância do hospital regional não estiver disponível. Assim, os responsáveis do centro procuram viatura à custa dos familiares ou estes buscam por si mesmos.
Outro aspeto que constitui preocupação naquele centro sanitário é a insuficiência de pessoal, sobretudo de analistas e parteiras.
Neste sentido, o diretor clínico daquela unidade hospitalar apela a quem de direito para a colocação de técnicos, principalmente para os dois referidos serviços. Amaro da Costa lembra que havia seis enfermeiros contratados (apenas um homem), cujas respetivas ligações terminaram em abril passado e ainda não foram renovadas.
O centro de saúde de Sonaco é do tipo B, albergando os serviços de Maternidade, Medicina e Pediatria. Tem a capacidade de internamento para 27 camas, além de cinco na Maternidade, duas para observação, dispondo ainda de duas marquesas. Conta também com uma farmácia, um laboratório, três consultores, respetivamente para crianças, adultos e consultas pré-natais.
Os principais casos atendidos neste momento são gripe, diarreia e um pouco de pneumonias (infeção de pulmões). O paludismo domina as consultas na época das chuvas, mas, de momento, não aparecem pacientes a queixarem da doença. O hospital atende cerca de 15 pessoas por dia.
Em relação ao pessoal, a unidade dispõe de dois médicos, um analista, uma parteira, um farmacêutico, quatro enfermeiros (um homem e três mulheres), um transportador de amostras da TB, um motorista, um guarda e um exator.
Retrocesso da qualidade do ensino
Durante o seu percurso em Sonaco, o Nô Pintcha descobriu três antigos professores, hoje reformados, e que se sentam no centro da vila às tardes para se divertir.
Num pequeno djumbai, concordaram que a qualidade do ensino está muito inferior relativamente ao tempo em que lecionavam.
Mário Tuncam Embaló, professor desde 1971, Aliu Jamanca (vulgo Seidiná), desde 1972 e Alseine Candé, que começou a lecionar em meados dos anos 90, foram unânimes em como o nível do ensino baixou um pouco.
“Havia qualidade no ensino. Os professores tinham muita paciência e também controle sobre os alunos, mesmo fora da escola”, refere Alseine Candé, lembrando que, na época, havia ainda repreensão.
Na sua opinião, esse castigo ajudava os alunos a melhorarem o seu desempenho, obrigando-os a estudar mais. Disse que o desafio que se fazia às crianças, sobretudo em português e matemática, igualmente obrigava isso.
Mário Tuncam Emabló, por seu lado, recordou que havia apenas 10 escolas em todo o setor de Sonaco, na época colonial. Mas, ao contrário da nossa era, havia materiais didáticos suficientes do primeiro ao quarto ano para a aprendizagem.
Hoje, mesmo os professores não têm. E mais, os alunos iam ao encontro das escolas, porque marchavam muitos quilómetros para chegar aos estabelecimentos.
Além disso, segundo Tuncam Embaló, anualmente, em julho, todos os professores do país eram reunidos em Bissau para uma reciclagem e tal ato contribuía bastante para o sucesso escolar.
Por estas e outras dificuldades, Seidiná Jamanca subscrevendo as opiniões dos colegas, considera o professor guineense de um verdadeiro herói.
Um dado curioso é que não há escolas privadas em Sonaco, por uma alegada falta de meios financeiros por parte dos pais e encarregados de educação. Todos os estabelecimentos são públicos.
O Nô Pintcha tentou, sem sucesso, falar com o inspetor da Educação no setor, pois ele tinha viajado para Gabu aquando da nossa passagem na zona.
Equipa de futebol
Sonaco tem, neste momento, a melhor equipa de futebol a nível da região de Gabu. É a única que está a disputar o campeonato nacional da I divisão – o Guinés-Liga. Até ao fecho desta edição, ocupava a quarta posição da tabela classificativa.
O sucesso deve-se em grande parte à contribuição do deputado Saliu Embaló que, praticamente, assume todas as despesas da equipa. Participa em todos os jogos, ele que é também o presidente do clube de futebol local há 10 anos.
Malam Sanhá, diretor técnico da equipa, não poupou elogios ao líder do clube, que qualifica de um amante do desporto-rei, modalidade que o próprio praticou há alguns anos.
Esse dirigente explicou ao Nô Pintcha como tudo terá começado: “A ideia surgiu em 2012, com a realização de uma assembleia-geral dos filhos e amigos de Sonaco, na qual Saliu Embaló foi eleito presidente”.
O projeto iniciou-se com a realização de torneio de descoberta de novos talentos em futebol, sobretudo a nível do setor.
Depois a equipa entrou para as competições nacionais, ficando durante três anos no terceiro escalão, igual período no segundo e, desde 2020, disputa a principal liga do país.
Como principais dificuldades, o diretor técnico aponta à falta de vedação do campo de futebol, que atualmente está vedado com kirintin.
Ibraima Sori Baldé