O Rio Grande de Buba é conhecido como aquele que produz variedades de peixes em grande quantidade e qualidade. A sua água e profundidade, assim como o clima e ecossistema aquático favorecem a produção de peixes.
O rio é rico, havendo várias espécies, até tartarugas marinhas, golfinhos, manatins (peixe-bus), entre outras. De acordo com os conhecedores da matéria, apenas foram explorados cerca de 48 por cento das espécies existentes, devido à profundidade do rio, a falta de materiais para tal e às ações intensivas de sensibilização e fiscalização sobre más práticas de pesca local.
O rio é dividido em três zonas: de conservação (desova), crescimento de juvenis e emigração dos recursos pesqueiros. Os peixes reproduzem no diferentes braços do rio, crescem nos leitos e fogem depois para as zonas insulares. Só que, neste momento, a cidade está a deparar-se com grande escassez de pescado, o que é pouco habitual.
Em causa, segundo os intervenientes no setor, está a invasão de pescadores que entraram no rio de forma clandestina e descontrolada, obrigando assim a fuga de peixes para a zona insular.
O aumento drástico da população de Buba e, consequentemente, de consumidores também, todos procurando peixe, é outra das causas, associadas à falta de carne de vaca para colmatar.
O Rio Grande de Buba é considerado uma zona reservada, sobretudo nas áreas abrangidas pelo Parque das Lagoas de Cufada. Foi nesse sentido que, segundo o vice-presidente da Confederação dos Pescadores do Rio Grande de Buba e presidente do Comité de Co-Gestão, foi criada uma célula de fiscalização participativa pelos pescadores, em harmonia com os serviços de Controlo e Fiscalização das Atividades de Pesca (Fiscap).
Mamadu Jack Camará indicou que o rio é estreito, mas tem grande profundidade, havendo zonas com cerca de 66 metros de profundeza e 55 de largura, uma fossa dentro do mesmo, fazendo com que tenha uma reserva de muitas espécies.
A ausência da Fiscap na região e a fraqueza da associação dos pescadores, provocada por falta de meios para fazer a fiscalização, levaram à invasão de pescadores provenientes de outras zonas. “Se houvesse controlo da Fiscap , em colaboração com a Célula, isso permitiria ter mais segurança e a salvação do rio”.
O vice-presidente da confederação fez saber que as pessoas provenientes doutras zonas praticam a pesca inapropriada e a pescar no rio, nas zonas de desova que são reservadas só aos residentes com pelo menos três anos de estadia. Caso contrário, o indivíduo pode ser ‘ajudante dos pescadores internos’, mas nunca ter a sua própria canoa. Essa regra, segundo ele, foi feita para conservar os recursos do rio, porque nem todos têm essa mentalidade.
Os meses de agosto e setembro são reservados a desova (época de desova biológica), em que são retiradas as redes. Nesse período, não é admitido pescar com a malhagem 60 e é evitada a pesca de bicudas para permitir a sua maior reprodução.
Mas Mamadu Camará explica que aqueles que chegam à região só para fins comerciais não se importam com essas regras. “Nós também pescamos para revender, mas sempre levando em conta a conservação para permitir a próxima geração também o fazer, de igual forma que aconteceu em relação a nós com os nossos antepassados”.
Inverter a situação
Entretanto, para inverter a escassez do pescado, o vice-presidente da Confederação dos Pescadores do Rio Grande de Buba e presidente da Co-Gestão (criada em 2000) é da opinião que há que haver engajamento do Estado, nomeadamente através da Fiscap, para disciplinar o rio e acabar com a “más artes de pesca”.
Referiu que usa-se redes inapropriadas, nomeadamente ‘mergulhão’, tchass (rede de monoflamento), malhas 18, 20 e 25, adiantando que essas armadilhas apanham peixes jovens que nunca reproduziram, acabando por impedir a multiplicação dos mesmos, o que é “um desastre” no rio.
“Há outros ainda que praticam o tipo de pesca chamada npandé, na qual vedam uma determinada área com redes para impedir a passagem dos peixes, não importa o seu tamanho. Isso provoca a morte de algumas espécies não necessitadas e os pescadores acabam por selecionar apenas os que querem, deixando os outros à mercê dos abutres. Esta situação provoca também a degradação do rio, pois um mês após essa prática, nenhum peixe passa pela zona”.
Dificuldades
As principais dificuldades com que se debatem os pescadores da zona têm a ver com a falta de materiais, que tem provocado o uso de redes inapropriadas e a diminuição da quantidade capturada.
No entanto, tal como acontece com os pescadores em todas as partes do país, os profissionais da zona Sul também reclamam o facto de não haver venda de materiais a nível nacional, sendo obrigados a deslocarem-se até Ziguinchor (Senegal) para o efeito de compra. Segundo Mamadu Camará, já houve várias promessas por parte das autoridades competentes, mas sem sucesso até ao momento.
Neste sentido, apela pela intervenção de quem de direito para que haja equipamentos, sobretudo as redes apropriadas e os seus acessórios, como forma de minimizar o sofrimento dos profissionais da pesca.
Não obstante à falta de equipamentos, o dirigente elogiou os trabalhos do Governo no setor pesqueiro, dando exemplo das informações partilhadas durante a Conferência Nacional sobre a Pesca, realizada em dezembro último, em que o executivo informou a intenção de colocar peixe em todos os cantos do país, através de carros frigoríficos. A seu ver, se essa medida for uma realizada irá beneficiar a todos, mesmo as zonas onde não há mar, e devem ser reforçadas com o controlo rigorosos das nossas águas.
Mulheres de Bubacalhau
Quem também pediu à intervenção da Fiscap no rio de Buba foi a Associação das Mulheres Transformadoras de Bubacalhau.
Aua Djaló, vice-presidente da organização, também lamenta a invasão do rio por pescadores oriundos da Região de Cacheu, norte do país, que diz não respeitarem as regras de boas práticas, numa área reservada.
Na sua opinião, a escassez de peixe no rio de Buba, sobretudo de bicudas, fez-se sentir igualmente em Bissau, lembrando as dificuldades que os moradores da capital se sentiram durante a quadra festiva de Natal e Ano Novo, em relação à falta de bacalhau.
A insuficiência de peixe no rio de Buba constitue o principal obstáculo à associação das mulheres transformadoras, porque, segundo Aua Djaló, nada podem fazer se os pescadores não vão ao mar.
Foi nesta ordem de ideias que ela também apelou à Fiscap a proceder operações na zona, sabendo que cerca de 80 por cento da população de Buba vive através do seu rio. “Queremos que haja fiscalização rigorosa do rio. Quem for apanhado, que seja castigado severamente para desencorajar a prática de pesca ilícita”.
Atualmente, a Associação das Mulheres Transformadoras de Bubacalhau conta com 22 membros, depois de num passado recente ter atingido 35 associadas. A problemática de escassez de pescado e o falecimento de algumas sócias levaram ao enfraquecimento da organização, fundada em 1994.
Ibraima Sori Baldé