O bastonário da Ordem dos Enfermeiros da Guiné-Bissau demonsta a necessiade de se despolitizar a questão da luta contra a Covid-19 e deixar que a estrutura sanitária legalmente instituída dê respostas técnicas no combate à pandemia.
Numa entrevista exclusiva ao “Nô Pintcha”, Alberto Oliveira Lopes disse que dado o crucial período de prevenção e combate à Covid-19, a Guiné-Bissau não estava preparada para lidar com eventuais casos do novo coronavírus. Eis que, quando chegaram os estudantes guineenses provenientes da China, o Governo de Aristides Gomes não tinha reunidas as condições de colocá-los em quarentena, razão pela qual foram obrigados a ficar confinados nas respetivas residências.
Oliveira Lopes reconheceu o quanto errou o anterior Governo na decisão de colocar os doentes de coronavírus em quarentena domiciliária sob seguimento de pessoal médico.
“Felizmente que não houve contágios provenientes dos confinados em casa. Mas se ocorresse algo contrário, isso constituiria um desastre inimaginável para o país, pois viviam sob o mesmo teto com os seus familiares”, lamentou Lopes.
Este enfermeiro demonstrou que a atual liderança se viu confrontada a enormes dificuldades na implementação do plano estratégico de emergência elaborado na altura, ao herdar o método de confinar os pacientes da Covid-19 nas suas residências.
“Na Europa, a atitude de colocar pessoas em quarentena domiciliária ajudou no combate à pandemia. Mas, no contexto da Guiné-Bissau, não funciona devido ao elevado número de pessoas que constituem as famílias guineenses, de maneira que essa atitude contribuiu para a propagação da doença intracomunitária”, esclareceu.
Por outro lado, revelou que se registou alguma discriminação no tratamento de indivíduos com coronavírus, isto porque o anterior executivo decidiu confinar os primeiros infetados da Covid-19 em suas respetivas casas, porque entendeu que os respetivos domicílios ofereciam melhores condições que os próprios centros de saúde.
De acordo com este técnico, sem querer minimizar o esforço do Governo, para a luta e combate à pandemia não havia equipamentos de proteção individual.
A título de exemplo, no momento em que a comitiva do Ministério de Interior se deslocou às regiões do país houve uma cadeia de contágio muito grande do pessoal dirigente, incluindo o próprio primeiro-ministro e seus acompanhantes. Na verdade, os responsáveis infetados não tomaram as devidas precauções capazes de suster a multiplicação do vírus. Aliás, o Ministério de Saúde, como um todo e a própria comissão interministerial não usaram de precauções suscetíveis de evitar a sua transmissão, pelo que o grosso número da equipa ficou infetado devido à falta de equipamento de proteção individual.
O bastonário da Ordem dos Enfermeiros mostra-se preocupado com o número ínfimo de doentes de coronavírus internados no Hospital Simão Mendes e colocados em hotéis, enquanto a maioria dos infetados encontra-se nas respetivas residências. Afirma que a aplicabilidade do plano estratégico de emergência falhou na medida que a organização não acionou mecanismos necessários em função da realidade inicinal.
Segundo o entrevistado, a sociedade guineense entende que o novo coronavírus não existe e assenta no único facto de o executivo usar a pandemia para chamar a atenção da comunidade internacional com vista a mobilizar ajudas financeiras.
Porém, o bastonário discorda de tal ideia, pois acredita na honestidade do pessoal técnico enquanto analistas que diariamente trabalham nas diferentes estruturas sanitárias, confirmando os resultados dos testes.
Alberto Oliveira Lopes fez saber que, no início, quando foi decretado o estado de emergência, as medidas tiveram um impacto forte mas que, com o decorrer dos tempos, o controlo começou a afrouxar-se enquanto os casos se multiplicavam dia após dia. Esta situação contribuiu, de certa forma, para não se acreditar na existência da Covid-19.
Oliveira Lopes chama a atenção para a necessidade de se organizar em termos de harmonização dos resultados laboratoriais, pois existem casos de indivíduos cujos resultados dos testes não são conhecidos há mais de 30 dias, como também na forma estigmatizante como abordam o assunto à população.
Lembrou que o Centro de Operação de Emergência havia anunciado que dezenas de pessoas se recusaram, de início, a realizar testes à Covid-19, o que fez com que os citadinos se opusessem à realização de controlo em muitas residências.
Oliveira Lopes revelou que houve informações postas a circular de que, entre oito óbitos registados apenas dois tinham sido por causa da Covid-19, enquanto os seis restantes estavam ainda em a ser objeto de estudos.
Como forma de contrariar a propagação da pandemia, o bastonário assegurou que compreende as medidas decretadas pelo Presidente da República mas que, assuntos relacionados com a prevenção, luta e combate ao coronavírus é uma matéria da competência do executivo enquanto órgão administrativo do país.
Na opinião deste técnico de saúde, pode concluir-se que cometemos erros na organização, daí pararmos para nos reorganizarmos melhor, pois tudo indica que nada se fez no sentido de corrigir os erros. Isto porque, com a extinção da comissão interministerial nada se sabe do que está a acontecer.
Aconselhou o Governo, igualmente, a criar condições infraestruturais capazes de albergar todos os pacientes da Covid-19 num único local, afastando assim a possibilidade de continuar a juntar várias outras patologias no mesmo centro devido aos riscos que tais comportamentos acarretam.
Por: Adelina Pereira de Barros