Gabu, a capital comercial do país, encontra-se diferente para pior e em avançado estado de degradação das suas principais infraestruturas, rodovias, passeios, locais de lazer, prédios e mercado. O que nos salta à vista em Gabu são os charcos de água em plenas ruas a servirem de cartão de visita para quem chega àquela urbe.
Mas a tradição ainda é o que era. Leite e carne de vaca em abundância e a preços acessíveis a todas as bolsas. Visitar Gabu sem beber leite nem comer carne de vaca é como ir a Roma e não ver o Papa.
Atualmente, Gabu apresenta um rosto apagado, ofuscado, uma cidade adormecida no tempo, longe da beleza e nobreza da era colonial.
Aliás, a renúncia da cidade ao modernismo, a começar pelas ruas onde não se vê qualquer vestígio de alcatrão.
A cidade bateu no fundo. Na era colonial, cada vez que chegava um dignitário da antiga metrópole, dirigia-se diretamente para à cidade outrora chamada Nova Lamego.
Gabu destaca-se, atualmente, pela degradação das suas infraestruturas, de valores morais e da falta de investimento que se verifica por todo o país nos últimos 47 anos, um tempo pelo qual ninguém tem saudade.
Gabu da era colonial era uma outra cidade, uma joia bastante atrativa, segura, movimentada, limpa, bem ordenada, plana e com a zona baixa da cidade a oferecer aos munícipes atividades lúdicas e recreativas que proporcionavam aglomeração de miúdos e graúdos, em delírio, ao lado da casa do administrador..
Defronte ao mercado municipal, o regime colonial construiu espaço verde com poilões a servirem de sombrinha.
Naquele sítio havia uma variedade de ofertas de entretenimentos para miúdos e graúdos desde baloiços, motos, esconderijos para crianças tudo a permitir aos citadinos de Gabu entreter-se nos momentos de descanso laboral.
Atualmente, esses espaços acumulam imundície e lama por todo o lado, verdadeiros pântanos no meio das estradas, charcos com sapos, água suja, lixeira e minilagoas. Infelizmente, nos dias que correm, é esta a imagem paisagística da antiga Nova Lamego.
Apesar do ar rural que se respira na capital comercial, a antiga Nova Lamego cresceu com barracas numa extensão de muitos quilómetros quadrados, alguns bairros bem urbanizados mas sem sinais de progresso assente em água canalizada, luz elétrica, centros de saúde nos bairros, esquadras de Polícia para assegurar a proteção das populações, campos de futebol e centros de lazer.
A terra do capitão Dinis, Sambaro, Bula e de Adul está irreconhecível pelo abandono a que está votado nos dias que correm.
Todavia, somos levados a questionar como é que Gabu Sará chegou a tal nível de desinvestimento total. Até a esquadra da Polícia é demasiadamente exígua para a demanda das populações.
A ruralidade que se vive no polo comercial de Leste 2 atingiu níveis intoleráveis. A cidade adornada, plana, ornamentada, com árvores e bancos virou uma aldeia emporcalhada, à imagem de aldeias mais remotas dos pigmeus do Congo Kinshasa. O último administrador colonial da antiga Nova Lamego chamava-se Augusto Barros e esse senhor, se voltar hoje àquela terra, chorava amargamente e lançava rios de lamento pelo desprezo a que a cidade foi votada. O apelido Barros foi adotado por muitos naturais de Gabu que nasceram naquela época, pois foi um administrador que se identificou com a população daquela localidade. Barros tratava Gabu com muito carinho. A cidade que ele considerava de pacífica e cujas populações revelam dotes de saber receber os visitantes, sobretudo hóspedes que não têm familiares naquela localidade.
Antes do administrador Augusto Barros, outros como Garcia e Salomão dirigiram igualmente os destinos de Gabu na era colonial sob ordens do governo central de Lisboa.
De acordo com relatos orais, consta que Alfa Mamadu Paré e Selo Coiada foram os fundadores, ou seja, patronos de Sintchã Oco. Ibraima Tele Barri, pai do decano Alfa Barri, associa-se aos primeiros habitantes da cidade. O primitivo bairro de Gabu é Nema 1, Galé Cantaba, que sustentaram o domínio dos clãs Mbalos.
Havia dois grupos de negociantes em Gabu: os comerciantes de origem libanesa e síria, tais como Hassado, Naimo, Salimo, Saido Careca, Mamadu Ordé, Madjido etc, e as casas comerciais portuguesas: Gouveia, Ultramarina, Caeiro e Moreira. Essas antigas lojas de Gabu, algumas com dois pisos, embelezavam a cidade que transmitia um aspeto de modernismo, sobrados como eram conhecidos. Hoje, encontram-se em adiantado estado de ruína.
Esses prédios, construídos no século passado, representam agora a sombra de um período de auge de Gabu.
Algumas dessas casas beneficiaram recentemente de reabilitação e são agora arrendadas pelos donos servindo de agências bancárias, ONG e outros serviços administrativos locais.
Reza a história que o régulo Mundjuri Embaló, ao enfrentar e vencer as batalhas tribais em meados do séc. XVII, foi estabelecer-se na povoação de Oco Maudé para melhor reorganizar o regulado fulado.
Nos primordios do século passado ele decidiu mudar-se definitivamente de Oco Maudé para Gabu, juntamente com o senhor Ibraima Tele, pai do decano Alfa Barri.
A família bandjaicunda é uma das mais antigas comunidades a residir em Gabu. Nema, Leibala e Doubala são os primeiros bairros de Sintchã Oco que atingiu o apogeu de crescimento.
Gabu cheira a aparência campesina, uma vida rural tipo provinciana, iminentemente tabancandade própria da idade da pré-história abandonado completamente pelo governo central de Bissau desde a independência.
Aliás, Gabu só entra na narrativa do Estado quando se fala de receitas colossais das Alfândegas e outras contribuições fiscais destinadas ao Tesouro Público.
Gabu Sará tornou-se, assim, a vaca leiteira do poder de Bissau que, a cada meia volta dá uma saltada para encher os bolsos, deixando a capital comercial do país ao deus-dará, isolada e abandonada.
A primeira escola primária construída em Gabu data dos anos 50 do século passado. O mercado municipal e o cine-clube local em meados dos anos 60.
As estradas interurbanas da cidade também foram asfaltadas nos anos 60.
Por: Abduramane Djaló