Criança excisada em Ingoré corre risco de saúde

A criança de 7 anos, excisada pela própria tia, no passado dia 23 de junho, está internada no hospital de Ingoré e corre risco de saúde.

A fanateca de, aparentemente, 35 anos, de nome Binta Bari, natural de Senegal e residente em Ingoré, encontra-se em fuga. O caso já foi transferido para a delegacia regional do Ministério Público, junto ao Tribunal do Setor de Bigene.

O médico de clínica geral do Hospital do Povo, em Ingoré, Bacabu Darame, na companhia de parteiras e enfermeiras, confirmou a gravidade do estado de saúde da vítima depois de ter observado a menina, tendo confirmado o corte realizado.

A fanateca Binta Barri em fuga

De acordo com uma parteira contactada pelo jornal “Nô Pintcha”, qualquer mulher vítima desta prática corre sérios riscos, sobretudo de saúde, devido à qualidade do objeto cortante utilizado.

Como consta dos autos da Polícia local a que tivemos acesso, a criança, nascida no Senegal e adotada por uma tia em Ingoré, nunca frequentou a escola. As autoridades policiais informaram  que a denúncia do caso da excisão foi feita pelo coordenador do Comité Regional de Cacheu para o Abandono das Práticas Tradicionais Nefastas, com base em informações recolhidas no terreno pelos colaboradores locais.

Os animadores do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas para a Região de Cacheu (CNAPN) descreveram que a menor foi isolada das colegas num quarto, porque sentia muitas dores. E segundo eles, quando a menina saía do quarto a chorar notava-se rastos de sangue na sua roupa.

Mamadu Adi Boucum, coordenador regional daquele comité, disse que tinha de intervir diretamente no processo para poder recuperar a menina, envolvendo a Polícia de Ordem Pública, através de uma animadora local, porque o colaborador estava com receio de atuar de forma isolada.

Perante a denúncia, a POP fez deslocar-se ao local dois agentes de segurança, acompanhados da animadora, mas ninguém conhecia a suposta mulher. Ao chegar a casa, não encontraram o chefe da família, apenas a presumível autora. Desconhecendo que estavam perante a pessoa que procuravam, foi à própria a quem confiaram o recado para o seu marido, solicitando a sua comparência na esquadra com a maior brevidade.

Com base em diligências policiais conseguiram contactar o marido da suspeita que compareceu de imediato, ao que foi informado sobre a operação de busca e apreensão no seu domicílio.

Com a chegada daquele coordenador foram suspensas as conversações para, de imediato, irem em socorro da criança, ocultada num esconderijo pelos familiares devido à hemorragia de que sofria há quase 24 horas. O marido da fanateca avisou a esposa, em dialeto fula, para abandonar a casa, porque a polícia ia prendê-la, sem perceber que o coordenador também falava o mesmo idioma.

Suposta fanateca encontra-se em fuga

Após a chegada das autoridades a casa onde se encontrava a menina, os agentes interrogaram as outras crianças que informaram sobre o paradeiro da criança molestada. A avó desta, que se encontrava à varanda da residência, dirigiu-se ao denunciante com o intuito de o bater, por ter localizado a menina. Na altura, Binta Barri já havia fugido.

De imediato o coordenador ordenou a retirada da criança do quarto, tendo havido alguma resistência por parte da família, mas que não impediu que a miúda fosse levada para a esquadra da Polícia de Ordem Pública e encaminhada para o hospital, onde se confirmou a excisão.

Algumas informações dão conta de que a fanateca pode estar em Mansoa, havendo informações da possibilidade de ela já ter regressado para o Senegal, país onde nasceu.

Caso apresentado à justiça

No dia 1 de julho, a animadora do Comité Regional para o Abandono das Práticas Tradicionais Nefastas, na qualidade de denunciante e o marido da fanateca foram ouvidos pelo delegado do Ministério Público de Ingoré, encontrando-se este último sob vigilância atenta das autoridades locais, enquanto o processo corre os trâmites legais.

A representação regional do Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento, a ONG Protege-GB, o Parlamento Infantil e a Liga Guineense dos Direitos Humanos foram unânimes em apelar à aplicação da lei sobre o caso.

Por:Seco Baldé Vieira

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