Uso de máscara em Bolama reservado aos viajantes
Apesar da Região de Bolama não registar nenhum caso de coronavírus até ao momento, mas não é o motivo para a jubilação diante das autoridades sanitárias. A inquietação deveu-se ao fluxo de viajantes que se deslocam, quase diariamente, de Bissau para Bolama, provocando o medo que colocou todo o sistema sanitário em alerta.
Outra preocupação que não deixa de ser relevante perante as autoridades locais é a ausência do uso de máscara de proteção e o abandono de dispositivos de lavagem de mãos, um facto que deixa os técnicos de saúde inquietantes, tendo em conta o risco e a perigosidade que a doença patenteia.
Em entrevista ao jornal “Nô Pintcha”, no dia 25 de julho, a diretora adjunta da Região Sanitária de Bolama disse estranhar o comportamento dos bolamenses nos últimos tempos, em matéria de prevenção e combate ao novo coronavírus, tendo lembrado que no início da pandemia toda a gente prevenia-se, lavando sempre que possível as mãos.
Rosa Caetano da Silva afirmou que, atualmente, ninguém se mostra preocupado com a doença, talvez pensando que essa enfermidade não atingirá Bolama, como aconteceu com o último surto de cólera. Por isso alertou que ninguém pode estar seguro com o ânimo leve perante a ameaça da doença, como o coronavírus.
“Não quero dizer que em Bolama não haja preocupação, mas o que está a verificar-se não ajuda, pelo que é urgente apelar à prática de hábitos anteriores e medidas de prevenção inicialmente adotados, sobretudo a fixação de dispositivos de lavagem de mãos em lugares públicos e o uso correto de máscara de proteção”, aconselhou Rosa da Silva.
Acrescentou que as famílias devem empenhar-se nessa luta, institucionalizando a prevenção como uma obrigatoriedade para todos e incluir no seu plano de despesa corrente a aquisição de desinfetantes e matérias de higienização.
Rosa Caetano da Silva teceu duras críticas às pessoas que diariamente fazem despesas consideradas supérfluas em relação à aquisição de uma máscara de proteção ou desinfetante para proteger a sua própria vida.
Por outro lado, alertou sobre a necessidade de cada um cuidar-se das suas mãos mais do que qualquer outra parte do seu corpo, porque a mão toca em tudo e mais alguma coisa e nunca consegue ficar limpa.
A responsável disse que graças ao apoio de pessoas de boa vontade e da diáspora bolamense, a equipa de resposta rápida conseguiu confecionar mais de 1.700 máscaras de proteção que foram distribuídas a alguns agregados familiares, tendo cada família recebido, no mínimo, três peças num universo de mais de 10 mil habitantes.
Nesta perspetiva, a diretora regional adjunta prometeu que vão continuar a mobilizar meios para poder atingir toda gente porque, na sua opinião, nos próximos dias o uso de máscara será obrigatório, mesmo continuando a região livre da doença.
No que concerne ao material de proteção médica, a diretora regional adjunta confirmou a receção de um lote de materiais de proteção médica de uso individual enviado pelo Alto Comissariado para o Combate à covid-19.
“Trata-se de uma quantidade suficiente de materiais” e reconheceu os esforços do Governo, mas sem deixar de solicitar mais atenção e apoio ao executivo porque, até aqui, os contactos são feitos por conta própria.
Por outro lado, reconheceu o gesto do executivo em parceira com a Organização Mundial de Saúde, na instalação de um router que facilite a comunicação via internet. Contudo as operadoras de telecomunicações não conseguem fazer uma cobertura integral da região, tendo algumas aldeias mantidas isoladas.
Sinais caraterísticos ou idênticos
Rosa Caetano explicou que a região não dispõe de um laboratório especializado para o exame do novo coronavírus, devido a dificuldades financeiras que o país atravessa, tendo os técnicos enfrentado problemas a lidar com eventuais suspeitas. Por isso, são adotadas técnicas apropriadas em pacientes que apresentem sinais caraterísticos ou idênticos aos do paludismo.
Relativamente aos sintomas ligados à infeção respiratória, nomeadamente complicações respiratórias, febre alta, tosse seca, entre outras indicações, são utilizadas as mesmas técnicas de tratamento durante um período máximo de dois a três dias, sempre acompanhado por técnicos da saúde.
“Trabalhamos com base num programa bem elaborado e com escalas de equipas de despistagem montada nos pontos estratégicos, nomeadamente no porto e na unidade fabril de descasque da castanha de caju, instalada na antiga Fábrica Titina Sila. Deslocamos à unidade fabril três vezes ao dia, para testar a temperatura aos trabalhadores, devido ao nível de calor, anormal à saúde humana, que as máquinas produzem, razão pela qual somos obrigados a deslocar-nos regularmente para fazer a despistagem”, clarificou.
No que concerne aos viajantes e hóspedes, a responsável garantiu que são testados logo ao desembarque e quem, eventualmente, apresentar temperatura ligeiramente alta ou sinais característicos, é identificado e registado o seu contacto telefónico, incluindo residência onde irá ficar alojado, pelo menos durante três dias, para poder ser acompanhado pela equipa de resposta rápida, mesmo estando em casa ou no hotel.
“Havia dificuldade em acertar o horário das chegadas de pirogas devido à falta de comunicação a tempo e horas, mas o Centro Operacional de Emergência em Saúde (COES), através do secretário regional afetou a corporação da Guarda Nacional um telefone móvel, garantindo um carregamento semanal de dois mil francos CFA, do qual passa a informar a hora da chegada ou da aproximação das pirogas ao cais”, concluiu.
Coronavírus cria estilo próprio e novas rotinas
Rosa da Silva disse que, apesar de não registar nenhum caso de doença em Bolama, mas o impacto do seu surgimento no mundo por si só é bem negativo, porque suspendeu toda a agenda individual e coletiva no mundo, para introduzir o seu próprio estilo de vida para a humanidade.
Afirmou que o surgimento do novo coronavírus influenciou tudo, hoje é ele quem dita as regras em relação ao modo de vida e forma de relacionamento, implorando a Deus para que tenha piedade da humanidade.
Ela diz que só o criador é que pode salvar o mundo e aliviar o sofrimento dos homens perante este mal do século.
Por isso, apelou aos bolamenses para não baixarem os braços diante desta ameaça, porque a solução do combate ao novo coronavírus exige colaboração efetiva e a determinação de todos, para depois haja intervenção divina.
Um médico para 10 mil habitantes
A Região Sanitária de Bolama funciona com apenas um único médico, três áreas de intervenção e cinco estruturas apoiadas por agentes de saúde comunitária nelas instaladas.
A área de Bolama conta com um hospital de referência e um centro de saúde em Uato; a Área Sanitária de São João conta com dois centros de saúde, um em Gã Marqué e um em Gã Togho; a Área Sanitária da Ilha das Galinhas tem um único centro de saúde. Essas componentes funcionam com um suporte forte de ligação entre a base e o topo e vice-versa.
No que concerne às parteiras e enfermeiros, Rosa da Silva disse que o hospital de Bolama dispõe de três parteiras e os restantes centros de saúde apenas funcionam com enfermeiras que, por sinal, assumem o papel de parteira e, em certos casos, até de médicos.
Perante a situação, advertiu sobre a necessidade de aumentar mais quadros técnicos em enfermagem, lembrando que muitos recém-colocados na região evocaram motivos para voltar à proveniência, com pretexto de que problemas de saúde não os permitem continuar nos postos onde foram colocados.
Por esta razão, é urgente o envio de técnicos e especialistas em número suficiente para cobrir toda a área, de acordo com a demanda local em saúde.
Quanto às patologias com maior frequência, Rosa Caetano explicou que, durante a época das chuvas, a região vê-se mais a braços com casos de paludismo e infeção respiratória, associada a casos de pneumonia, mas este último a um nível baixo.
Noutras épocas, enfrentam casos de diarreia, sobretudo em períodos de carência da água potável, associados ao início de produção do vinho de caju, mas neste período reduziu-se bastante em relação às outras enfermidades.
A diretora regional disse que a média diária de consultas no hospital de Bolama situa-se na ordem de 20 pacientes, num hospital onde praticamente não há médico, tendo o diretor regional que ocupa de trabalhos clínicos, mas se estiver ausente em missão de serviço, praticamente esses serviços paralisam até quando retorna à ilha.
Quanto à capacidade de internamento, a responsável disse que o hospital dispõe de capacidade suficiente para o acolhimento de pacientes em caso de necessidade. Relativamente à prestação de assistência medicamentosa, disse que há medicamentos na farmácia interna e realçou o papel do Programa Integrado para a Redução da Morte Materno Infantil (PIMI-2) que disponibiliza medicamentos grátis para as mulheres grávidas e crianças em todas as estruturas sanitárias da região.
Por outro lado, falou da presença da ONG espanhola AIDA que atua apenas na área sanitária de Bolama, oferecendo medicamentos a pessoas mais necessitadas e as que se encontram em situação de emergência. Trata-se de uma oportunidade que se pretende, num futuro próximo, estender-se a outras áreas e estruturas localizadas naquela região sanitária.
Texto e fotos: Seco Baldé Vieira