Em Contuboel, região de Bafatá, abortou-se, no sábado, 19 do corrente mês, um protesto dos consumidores da energia contra a empresa FRES (Foundation rural energy services), fornecedora da energia aos habitantes daquela vila, desde 2016.
A reportagem do Nô Pintcha, que esteve naquela localidade, soube dos consumidores que a abortada marcha de protesto visava exigir da empresa FRES a melhoria da qualidade de fornecimento da energia e mudança de horário de fornecimento que, desde há algum tempo para cá, tem vindo a fornecer luz só no período diurno que vai até as 19 horas.
À noite, as residências ficam escuras, e a empresa alega incapacidade de fornecer luz durante a noite devido a inoperacionalidade das baterias instaladas que já não conseguem acumular carga por estarem fora do prazo.
Segundo à gerência da empresa, as baterias só conseguem suportar a carga durante o dia, através dos painéis solares e, quando anoitece descarregam-se, o que faz com que a empresa não consegue dar luz no período noturno.
Mas, essas explicações não convencem os consumidores e questionam sobre a gestão dos fundos que, ao longo de 7 anos de serviço, a empresa poderia ter gerido para ter condições de substituir as baterias.
“Isso não nos convence e queremos solução, antes que venha acontecer outras situações. Queremos tudo com base no entendimento e paz, porque o nosso direito está a ser violado’’, sublinharam os consumidores, respetivamente Califa Sila e Sadjá Camará, abordados pelo repórter do Nô Pintcha.
Os dois afirmaram que os consumidores foram várias vezes enganados com promessas falsas da empresa FRES, o que agora querem pôr fim, porque a energia não é grátis. Eles compram saldos para satisfazerem suas necessidades e a empresa tem por obrigação cumprir com a sua responsabilidade, sob pena dos consumidores tomarem suas medidas contra aquilo que consideram de violação dos seus direitos. Lembram que â empresa, foi concedida espaço a custo zero para se instalar e deve retribuir essa generosidade aos consumidores, salientaram.
Contudo, o Nô Pintcha soube de fontes fidedignas que a reserva das baterias pode garantir fornecimento de luz diariamente a um bairro, e agora cabe aos consumidores, nesta fase, saber se vão aceitar assim como está até quando for resolvido o problema de baterias para continuar a fornecer à todos os bairros a noite.
Entretanto, perante a projetada marcha de protesto, o administrador do setor,
Alberto Baldé, vulgo Djamam, depois de ter conhecimento da intenção dos consumidores, convocou os mesmos para um encontro de diálogo na sede de Administração na busca de saída e resolução pacífica da questão, tendo ouvido atentamente as preocupações dos populares.
De acordo com o administrador, os consumidores apresentaram 3 pontos de reivindicação, nomeadamente, a retoma de venda de saldo de luz aos sábados que havia sido suspensa pela empresa; o fornecimento de energia 24/24 horas; e o retorno de iluminação dos postes de rua.
Estes três pontos estiveram na base de conversações entre o administrador do setor com os populares, tendo ouvido atentamente os chefes de bairros de “Doussaré, Leissaré” (entenda-se em dialeto fula calma da zona baixa do bairro) e o porta-voz dos moradores, assim como algumas individualidades presentes no encontro.
Ambos os intervenientes apresentaram as mesmas preocupações dos consumidores que dizem estar cansados com o mau comportamento da empresa FRES que nem respeita minimamente os seus direitos enquanto clientes.
Lembraram que várias vezes exigiram a empresa para melhorar a qualidade de serviço, o que não aconteceu até então. com o agravante de, uma vez, o secretário de Estado de Energia ter convocado a empresa para um encontro, mas o gestor nem dignou responder esse convite. Não respeita também as autoridades administrativas do setor e a empresa está a agir ao seu belo prazer.
Mas, a população disse estar farta desse comportamento, por isso pretende agora por fim à essa situação, pois, o estabelecimento é um financiamento conjunto da FRES, União Europeia e OFID (Fundo Internacional para o Desenvolvimento), destinado ao serviço da população, pelo que ela não pode monopolizar tudo, sublinharam.
Daí, dizem que não concordam com as alegações de empresa segundo a qual, a solução do problema depende da sede central da FRES em Holanda.
Perante esta situação, o administrador disse que recebeu dos populares uma recomendação sugerida pelo deputado Orlando para negociar com a empresa FRES, num prazo de dez dias, a fim de cumprir com as exigências dos consumidores, sob pena de saírem à rua para protestarem, o que poderá ter repercussões impressíveis.
O administrador considerou de legítimas as reivindicações dos consumidores, porque a empresa existe por causa dos clientes e deve cumprir com a sua responsabilidade, satisfazendo o desejo da clientela.
Face à situação, o administrador disse à reportagem do Nô Pintcha, que vai negociar com a empresa para encontrar uma solução duradoura que beneficie ambas as partes e evitar um colapso.
Apesar de a empresa não ter cumprido várias vezes as exigências dos consumidores, o administrador do setor está otimista que, desta vez, vai mudar de atitude, cumprindo.
O administrador disse, ainda, que não quer ver revolta da população na vila e reconhece a pacificidade dos consumidores e pede ponderação, prometendo encontrar solução plausível com a gestão da empresa.
Fornecimento da água
A par da energia, o administrador disse que a Direção da empresa FRES tinha comprometido instalar painéis solares para garantir o fornecimento da água aos habitantes da vila, o que ainda não se concretizou. Segundo o administrador, este ponto também será discutido com a Direção da empresa, por forma a cumprir com o seu compromisso assumido com a população.
Alberto Djamam disse que a vila depara com sério problema de falta da água potável e, a partir de Dezembro, a população entra em confronto com as abelhas nos poços tradicionais, únicos sitio onde conseguir água para o consumo, mas que também é pouco apropriada.
Uma situação que preocupa o administrador que disse que o consumo dessa água inapropriada pode provocar outras consequências sobre a saúde da população.
Mobilidade
Outro problema preocupante apontado pelo administrador, tem a ver com as más condições de estradas que que ligam a sede setorial à vizinha República do Senegal e ainda à secção de Sare-Bacar, que dista a 56 km da sede setorial em Contuboel. De acordo com Alberto Baldé, esta estrada de ligação com o Senegal tem grande importância económica e faz muita receita ao tesouro público devido a transação comercial entre os dois países.
Por isso, pede ao Governo no sentido de velar pela melhoria das condições dessa infraestrutura. Em relação a estrada de Sare-Bacar, o administrador disse que os populares daquela secção enfrentam enormes problemas de mobilidade, devido a má condição da estrada em que na época das chuvas ficam isolados do resto do setor e do país.
Em caso de doenças e grávidas com problemas de parto, são transportados em carrinhos de burro ou motorizadas, comportando sérios riscos numa distância tão grande.
Saúde
Relativamente à situação de saúde, o administrador lamenta falta de ambulância para evacuação de doentes nos diferentes centros de saúde das secções e do setor, o que, de certa forma, também constitui risco à vida da população.
As grávidas e outros doentes em estado crítico são por vezes evacuados em carros de transporte (canter) que não oferecem confortos para uma pessoa nesse estado.
Igualmente, há falta de medicamentos nos centros de saúde do setor para atender os doentes e as farmácias especulam os preços dos medicamentos, criando enormes dificuldades aos doentes com problemas financeiros para suportarem seus tratamentos.
Perante esta situação, Alberto Djamam apela a intervenção do Governo, através dos serviços sanitários para atenuar o sofrimento da população, colocando ambulância e medicamentos nos centros de saúde do setor. Assim, os utentes poderão comprar medicamentos dentro dos hospitais ao preço simbólico, porque as farmácias privadas só buscam receitas e não têm sentimento para a população.
O administrador disse ter conhecimento também de um eventual protesto da população contra a situação de falta de medicamentos e especulação de preços pelas farmácias, razão pela qual pede a intervenção urgente do Governo para evitar o que poderá advir.
Segurança
No que toca a questão da segurança dos cidadãos, o administrador reconhece os esforços dos agentes de segurança, mas lamenta a insuficiência de recursos humanos e de meios.
Disse que avizinha-se a quadra festiva, período em que aumentam os furtos e outras ações que atentam contra a segurança dos cidadãos e exorta o Comando Geral da Polícia no sentido de reforçar recursos humanos ao posto da esquadra do setor para poder cumprir com a sua missão e responsabilidade de assegurar a população.
Por fim, o administrador disse que o roubo do gado no setor de Contuboel diminuiu consideravelmente, graças à ação da associação Balal Gaynako na região de Bafatá que tem feito muito na luta contra os malfeitores. Mas, realça o papel das autoridades que devem estar na linha de frente para proteger a população e os seus bens.
Djuldé Djaló