Comercialização da castanha de caju desenrola em silêncio no setor de Bissorã

No Setor de Bissorã, desde que o Governo anunciou a abertura oficial da campanha de comercialização da castanha de caju, no dia 15 de março, até ao momento, o produto não está a ser comprado.

A não compra da castanha de caju nessa zona, segundo as informações apuradas, está relacionada com a falta de assinatura de contrato entre as empresas e os comerciantes e alta taxa tributária. Outro fator tem a ver com a situação sociopolítica e económica do país.

O repórter do Nô Pintcha deslocou-se ao Setor de Bissorã, concretamente nas localidades de Manga, Tchanquê e Nhamate, para constatar in loco sobre esse negócio, tendo verificado ausência de comerciantes no terreno.

De facto, nessa localidade, não se sentiu ainda a movimentação dos intermediários em comparação a igual período dos anos anteriores. Sobre essa situação, o Nô Pintcha falou com um dos produtores, que, ao longo da conversa, informou que os agricultores estão a passar fome devido à falta de arroz.

Gil Djibril Mané disse que neste momento não há arroz (nhelen cem por cento partido) no Setor de Bissorã. Perante esta situação, são obrigados a deslocar-se até Mansoa ou Bissau para comprá-lo.

Aquele produtor denunciou que os comerciantes esconderam o arroz nos armazéns com a intenção de aumentar o preço. “Neste momento, alguns vendem, às escondidas, o arroz que custa 17.500 a preço de 20 mil francos CFA, privilegiando às pessoas conhecidas para evitar que venham ser desmascarados. Portanto, nós, agricultores, estamos a enfrentar enormes dificuldades”.

Sobre essa letargia na comercialização da castanha de caju, disse que os comerciantes alegam que o Governo não baixou a taxa tributária tal como tinha prometido, bem como a remoção das barreiras não tarifárias.

Mané afirmou que há comerciantes que, à revelia da decisão do executivo, compram caju clandestinamente a preço de 150 a 200 francos CFA, operação feita só no período da noite.

“Se a situação continuar tal como está, nós, enquanto agricultores, seremos obrigados a vender a nossa castanha no preço especulado, porque se não o fizermos, correremos risco de ficar de novo com a castanha sem comprador, como tem acontecido nos últimos anos”, afirmou.

Além do preço que ainda pode descer, também o fator estrada pode influenciar negativamente na comercialização, porque quando chove os troços tornam-se intransitáveis.

Para ele, a presença dos delegados do Ministério do Comércio durante a campanha não faz diferença, porque não conseguem cumprir com as suas obrigações. “O mais caricato de tudo, envolvem-se em esquemas de negociatas com os comerciantes, é por isso que esses fazem o que lhes apetecem”.

Gil Djibril Mané disse, por outro lado, que além do preço que não está nada bom, também este ano há uma fraca produtividade, por causa de poeira e temperaturas altas.

Falta de financiamento

Sobre esse assunto, o delegado do Ministério do Comércio no Setor de Bissorã confirmou que ainda não arrancou a compra de castanha em grande escala por alegada falta de financiamento aos comerciantes locais.

De acordo com Salvador Nhaga, um outro problema tem a ver com a falta de arroz para a campanha, porque os empresários ainda não abasteceram seus intermediários, para que esses pudessem iniciar as suas atividades.

Disse que os delegados do Ministério do Comércio não iniciaram ainda as operações de fiscalização no terreno, devido à falta de meios. Segundo ele, se tudo correr como previsto, os trabalhos da fiscalização vão arrancar já na próxima semana.

“Importa salientar que estamos sem meios financeiros e transportes para o início dos trabalhos, e se a situação mantiver, significa que vamos ter dificuldades de locomoção. Então, perante esta realidade, não se pode esperar muita coisa na equipa de fiscalização”.

O delegado disse que dada a situação de fome e de alguns problemas sociais, os produtores preferem tomar arroz e dinheiro nas mãos de comerciantes para pagar depois com a castanha, aliás, essa prática não é de hoje.

Salvador Nhaga negou a acusação de terem sido aliciados com dinheiro pelos comerciantes em troca de silêncio ou para encobrir as infrações. “Mesmo com as dificuldades de várias ordens, tentamos cumprir a nossa missão de fiscalização”.

Alfredo Saminanco

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