A pandemia do coronavírus, detetada a 7 de janeiro de 2020, através de testes laboratoriais realizados pelas autoridades chinesas, que o identificaram como o agente causador da doença, passou a ser conhecida por covid-19, pôs em causa a capacidade de resposta de todos os Estados do mundo, tanto no plano social como económico. O recurso a medidas restritivas (estado de emergência) parece ter sido a via mais correta para conter e evitar a propagação da doença. Porém, os efeitos colaterais destas medidas estão sendo graves, principalmente para as famílias de baixo rendimento.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, no dia 30 do mesmo mês, a epidemia da covid-19 como emergência internacional de saúde pública devido à sua rápida disseminação pelo mundo. Desde então, os casos de pessoas infetadas aumentaram significativamente.
A Guiné-Bissau, um país com aproximadamente dois milhões de habitantes, fortemente afetado pela constante instabilidade político-governativa, onde a maioria da população vive com menos de 1 dólar por dia, também não escapou a este flagelo. O país revelou oficialmente os primeiros casos no dia 25 de março deste ano e, a partir desta data, o número de casos não para de subir, não obstante as medidas adotadas pelas autoridades nacionais através das sucessivas declarações do estado de emergência feitas pelo Presidente da República, incluindo o encerramento de fronteiras, mercados e o recolher obrigatório, entre outras e que, mesmo assim, não conseguiu limitar o alastramento da doença que já infetou 1.949 pessoas, tendo-se registado entre elas 26 óbitos.
Entretanto, para fazer face aos desafios que se impõem em matéria de prevenção, as organizações da sociedade civil desencadearam uma mobilização em massa a fim de criar uma frente comum de combate a esta pandemia, que ganha proporções alarmantes a nível mundial.
A Rede Paz e Segurança para as Mulheres no Espaço da CEDEAO (Rempsecao), ao tomar conhecimento da existência da pandemia do novo coronavírus divulgada pela OMS e de que a Guiné-Bissau podia não escapar, elaborou de imediato um plano de emergência, promoveu uma campanha de informação sobre a existência da pandemia e difundiu medidas de prevenção, com maior incidência nas mulheres, tendo em conta a sua vulnerabilidade, pois são elas o pilar e o sustento das famílias guineenses.
Conforme a presidente desta organização, Elisa Tavares Pinto, a rede tem trabalhado em colaboração com a Câmara Municipal de Bissau no mercado improvisado do Bairro da Ajuda e, mais tarde, nos mercados de Péfine, Bairro Militar e Caracol, sensibilizando as mesmas e outros ocupantes, sobre as medidas de prevenção contra a doença, concretamente a lavagem frequente das mãos, uso de máscaras e manter o distanciamento físico.
Conforme esta responsável, houve uma grande resistência no início da transferência por parte das mulheres dos mercados da Chapa de Bissau e da Subida de Cabana para o mercado improvisado do Bairro, conforme determinação das autoridades. Daí que a Rempsecao, em colaboração com os moradores do Bairro da Ajuda e os voluntários da Cruz Vermelha Nacional dirigiram-se para o local com forte campanha de sensibilização, mostrando-lhes a vantagem e a segurança do futuro espaço para onde o Governo pretendia transferi-las.
“Com um pequeno apoio financeiro da ONU, através da Unidade do Género da Uniogbis, a Rempsecao conseguiu oferecer e vender máscaras num valor inferior ao que se pratica no mercado, tendo colocado também baldes com águas, sabão e lixívia para a lavagem frequente das mãos. Tinha no terreno 54 jovens e mulheres que interagiam diariamente com as feirantes e as que iam fazer compras”, disse.
Segundo Elisa Pinto, a Rempsecao, numa primeira fase, consciencializou as mulheres sobre a real existência do vírus que, a cada dia que passa está a ceifar muitas vidas, provocado pelo não cumprimento de medidas de prevenção, agravado pela fragilidade do nosso sistema de saúde, que perspetiva ver melhoradas as condições dos mercados, contando com a intervenção imediata das autoridades responsáveis deste setor.
Com a descentralização dos mercados irão diminuir os riscos de contaminação e evitar-se deslocações de longas distâncias, o que contribui para a libertação das vias públicas que, atualmente, funcionam como mercados, como acontece nos espaços da Chapa de Bissau e Subida de Cabana, sem mencionar outros bairros da capital.
Numa outra dimensão está a Plataforma Política das Mulheres (PPM) que concentrou a sua ação nas regiões do país, com a campanha de sensibilização denominado “nô passa mensagem pa tadja coronavírus na comunidade”, que terá a duração de um mês, com a divulgação diária de mensagens sobre a covid-19 através dos órgãos de comunicação social, o modo como se transmite, o risco de contágio e respetivas medidas de prevenção.
Conforme a presidente desta organização, a propagação rápida do vírus e a sua possível transmissão em cadeia (transmissão comunitária) obrigou a elaboração de um “miniprojeto de sensibilização” direcionado aos deputados, autoridades regionais, enquanto representantes do povo junto da Assembleia Nacional Popular.
Para a nossa entrevistada, o comportamento da população perante o incumprimento das regras estabelecidas leva à ideia de que talvez a população não esteja a levar a sério a presença da doença na Guiné-Bissau e, em consequência, limitam-se a não cumprir com as medidas restritivas impostas pelo Governo contribuindo, assim, para o caos sanitário que actualmente se verifica. Por isso, a PPM pretende e está a desenvolver uma campanha de sensibilização que envolve deputados e autoridades regionais, apostando forte numa comunicação clara, direta e incisiva com recurso às línguas tradicionais, com vista a uma mudança radical de comportamentos e de hábitos por parte da população relativamente a esta doença.
“Espera-se, com a implementação desta campanha, uma maior consciencialização e aceitação da existência da doença por parte da população, ajudando a conter a propagação do vírus”, complementa Tavares.
Para finalizar, falámos com responsáveis das organizações intervenientes, entre eles Saturnino de Oliveira, coordenador do recém-criado agrupamento Tadja Fomi, que é uma iniciativa de cidadãos guineenses voluntários que pretendem angariar bens alimentares e distribuí-los a pessoas e famílias carenciadas. Conforme este responsável, a ação conta com a participação de um conjunto de pessoas de diferentes áreas que se uniu para angariar alimentos com vista a contribuir para a redução das dificuldades que as famílias vulneráveis guineenses estão a enfrentar neste momento.
De acordo com o que explicitou, os produtos conseguidos serão doados às famílias que se encontram em situação de maior vulnerabilidade económica. Em primeiro lugar, os beneficiários serão identificados através de organizações da sociedade civil, líderes comunitários e outras instâncias, com o intuito de referenciar as famílias economicamente mais necessitadas.
Oliveira afirmou que numa primeira fase apoiaram 400 pessoas em quatro bairros de Bissau e que, nesta segunda fase, a meta será de 1.200 famílias que residam nas províncias do Norte, Leste e Sul.
Nesta frente de combate ao coronavírus existem várias organizações da sociedade civil, com realce para Mulheres em Ação, que já ofereceram recipientes com torneiras, lixívia e sabão no Bairro de Mindará. Numa segunda fase, distribuíram ofertas no ilhéu do Rei, tendo os produtos sido adquiridos com os fundos provenientes dos guineenses na diáspora.
A Cruz Vermelha Nacional, é uma das pioneiras das campanhas de sensibilização e formação, fazendo parte do grupo a Nadel, a Liga Guineense dos Direitos Humanos, as organizações juvenis, entre outras iniciativas.
Por: Elci Pereira Dias