O centro de saúde de Quinhamel, Região de Biombo, poderá enfrentar grandes dificuldades nos próximos tempos, isto porque, o projeto que suportava financeiramente alguns serviços do hospital chegou ao fim e o diretor dessa unidade hospitalar teme o risco de uma eventual penúria.
Em entrevista ao Nô Pintcha, Amino Daniel Gomes alertou o Governo sobre as possíveis dificuldades que possam surgir nos próximos tempos, na sequência do término do referido projeto desde julho do ano em curso, cujas intervenções eram focalizadas especificamente em grávidas e crianças.
“Além de suporte de compra de medicamentos, o projeto PIMI dava também apoio financeiro ao centro de saúde. Ora, atendendo as nossas limitações de vária ordem perante as necessidades e exigências de saúde da vila de Quinhamel e aldeias arredores, aguardamos a intervenção do Governo para a solução dessa situação”, disse.
Na perspetiva de Amino Daniel Gomes, se não houver uma intervenção urgente para o preenchimento da vaga deixada pelo projeto, que apoiava financeiramente a administração do centro de saúde de Quinhamel, aquela unidade hospitalar vai entrar numa situação de “banca rota”.
Amino Gomes disse que esse centro de saúde é de nível B, e é de referência regional, o que significa que, qualquer caso que ultrapasse as capacidades de intervenção de centros menores, de categoria C, é transferido para Quinhamel, e se ultrapassar a capacidade desse centro, transfere-se o caso para o Hospital Simão Mendes.
Por outro lado, o diretor afirmou que o sucesso clínico que se regista nessa área sanitária tem a ver com a vontade e esforço redobrado dos técnicos de saúde locais, apoiado pelo projeto PIMI, que há alguns anos suportou, como já referiu, financeiramente algumas despesas do hospital.
Tendo em conta o aumento demográfico, Gomes disse que há toda a necessidade de ampliar o centro, pois, a população cresceu a um número bastante superior ao estimado na altura da construção dessa unidade hospitalar, embora os recursos financeiros que por ai entram estão longe de poder arcar as despesas de novas obras.
No que se refere às necessidades, o diretor do centro falou da insuficiência de recursos humanos, financeiros e materiais. Amino Gomes criticou também a demora no processo de colocação de técnicos nas regiões.
“Tínhamos cinco médicos mas dois encontram-se neste momento no estrangeiro a perfeiçoar seus conhecimentos nas áreas específicas da medicina. Desde que esses saíram não houve preenchimento das vagas deixadas, tendo aumentado o volume de trabalho dos três colegas restantes. Quanto às parteiras temos três, um número razoável para um centro de saúde de tipo B”, salientou.
Porém, salientou que, quando houver novas colocações, surgem outros problemas relacionados à frequência dos recém-colocados nos respetivos postos de serviço, sobretudo quando esses profissionais ainda não usufruam de salário nem subsídio de incentivo.
“Conheço situações de técnicos que levaram cerca de oito anos de serviço sem salário e alguns acabaram por abandonar e foram procurar outras formas de sobreviver”, revelou.
Disse que alguns técnicos de saúde são obrigados a fazer uma migração pendular de cerca de 40 quilómetros (serviço-casa e vice versa), por não residirem em Quinhamel.
Em relação aos materiais de trabalho, Amino Gomes fala da necessidade de aparelhos de hemograma e bioquímica para o laboratório, o que significa que há um claro “impedimento” para os técnicos fazerem diagnósticos necessários e indispensáveis aos pacientes.
“Existem ainda problemas de banco de sangue, de marquesa e de cadeiras de roda, de monitores sinais vitais, de bomba de infusão, de computadores e outros, aliás, trabalho no meu computador particular mas o hospital precisa informatizar todos os seus dados nos aparelhos próprios”, sublinhou.
No entanto, exibiu um aparelho de ar concionado para a farmácia do hospital e um televisor plasma a fixar na sala de espera de grávidas, que, segundo ele, foi adquirido com o esforço da direção no espaço de três meses da sua administração.
O diretor explicou que a boa parte de receitas provenientes da venda de medicamentos é utilizada na compra de combustível para a ambulância, enquanto as consultas e algumas análises até medicamentos são feitas gratuitamente às gravidas.
Ambulância
De acordo com Amino Gomes, apenas a ambulância do centro de Quinhamel está, neste momento, a cobrir os centros de saúde de Ondame, Bigimita, Ilondé e o centro de saúde da Igreja Católica, isto porque as outras que prestavam serviço nessas localidades encontram-se avariadas.
Gomes chamou a atenção sobre a vulnerabilidade de acesso de pessoas estranhas ao centro de saúde, as quais, possam ter intenções maléficas perante técnicos e pacientes indefesos. “Solicitamos, várias vezes, à colaboração das autoridades policiais, no sentido de colocar agentes no hospital”.
“A saúde da população guineense, na minha opinião, não está garantida nem sequer em 40 por cento, o que significa que, no cômputo geral, a situação é negativa”, afirmou.
Maternidade sem óbito
Por seu lado, o diretor clínico do centro, o médico Pedro Cuma, considerou que, clinicamente, a referida unidade hospitalar está numa condição razoável e aceite, pois regista-se grande fluxo de grávidas e pacientes.
“É com imensa satisfação que afirmo ao jornalista que, neste hospital, felizmente, a nossa equipa médica ainda não registou nenhum óbito no serviço de maternidade desde a nossa nomeação”.
Falando dos serviços da Pediatria, o médico confirmou a redução drástica dos casos de paludismo a nível de Quinhamel, o que na sua opinião, terá a ver com a política de distribuição gratuita dos mosquiteiros impregnados e a educação sanitária.
A mortalidade neonatal é uma situação preocupante a nível do país, e o Setor de Quinhamel não constitui exceção, embora o diretor clínico disse não dispor de dados concretos da sua área sanitária, mas confirmou haver registo de mortes neonatais e de crianças de zero a cinco anos.
Mortalidade neonatal
O diretor clínico estima a taxa de natalidade em 30 bebés por mês, lembrando que, pelo menos, duas crianças perderam vida durante o mês de outubro, o que para ele, não é nada satisfatório.
Pedro Cuma disse, por outro lado, que algumas mortes de crianças têm a ver com o atraso na chegada ao hospital, outras por terem nascido com condições de saúde deplorável, além daquelas que morem durante o parto.
“As grávidas que tiverem partos normais ficam no hospital cerca de 24 horas para observar o estado de saúde do bebé e da própria mãe. Internamos mais tempo as grávidas que tiverem problemas de hipertensão, diabete e paludismo, porque essas patologias podem ser desastrosas”, explicou o médico.
No entanto, lamentou a falta de alguns materiais de diagnóstico, o que em certos casos obriga a transferência desnecessária de doentes para Bissau.
A finalizar, Pedro Cuma disse estar preocupado com pessoas que ainda acreditam, em pleno seculo XXI, que dar luz em casa é normal, pelo contrário trata-se de comportamento muito ariscado, tanto para a grávida como para o bebé, e até quem tenta assistir esse parto corre o risco de contrair, inocentemente, uma doença transmissível.
Aliu Baldé