Centro de processamento de caju reduz desemprego e aumenta produção em Bissorã

Reduzir o desemprego dos jovens e das mulheres é a palavra de ordem prevalecente no Centro de Processamento da Castanha de Caju de Bissorã. Este centro está instalado na periferia daquela cidade nortenha e reúne, nas suas instalações, cerca de 165 trabalhadores. Ele visa também combater o êxodo rural, um fenómeno em voga em todo o território nacional.

A fábrica de processamento da castanha de caju foi criada em 2018, na sequência do término do projeto «Ainda Caju», que funcionou com o financiamento da União Europeia, no quadro da organização não-governamental, Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP). Ele já consegue, através da sua parceria empresarial, exportar, em cada três meses, uma quantia enorme de amêndoas de caju para a Alemanha, o seu mercado de escoamento.

O administrador da Associação de Clube dos Agricultores Comerciais de Bissorã – Centro de Processamento de Caju, Malam Bidé Sanhá, confirmou ao Nô Pintcha que, na última vez, a fábrica exportou cerca de 476 caixas, que correspondem a 10.795,68 quilos, ou seja 10,7 toneladas de amêndoa. A fábrica está a crescer gradualmente nos subúrbios da cidade de Bissorã e perspetiva empregar, no futuro próximo, cerca de 500 pessoas.

Segundo este responsável, o centro vende amêndoas na porta da fábrica, devido a sua falta de alvará para exportação. Dos seus clientes, um é exportador e outros são a Delegação da União Europeia e alguns empreendedores nacionais que revendem as amêndoas nas suas lojas comerciais.

Ao que se sabe, a história da criação do centro começa no término de um projeto de energias renováveis que funcionou junto da ADPP, de 2009 à 2016, suportado financeiramente pela União Europeia. Esse término facilitou a criação da Associação do Clube dos Agricultores Comerciais de Bissorã no sentido de garantir a sustentabilidade das infraestruturas criadas para a comunidade. O projeto tinha plantação e criou um centro de saúde equipado com sistema solar, uma mesquita, uma escola e 24 centros comunitários (campos) equipados com sistema de irrigação solar. Justamente, a associação foi criada para dar serviço à comunidade e organizá-la.

Entendeu-se que o centro tinha que ser ampliado para dar mais serviço às várias comunidades, podendo empregar cerca de 500 pessoas. O centro tinha duas partes: uma de transformação de sumos e outra de processamento da amêndoa de caju. Mais tarde, para se evitar do apodrecimento da castanha, cessou-se a parte da produção de sumos e centrou-se no processamento.

Todas as pessoas que trabalham ai são oriundas das comunidades, para permitir a redução do desemprego dos jovens e do êxodo rural (saída de campo para a cidade). Mas, entretanto, das 165 pessoas empregadas, 47 têm contrato formal e 118 são prestadores de serviço. Em termos de perspetivas, nas palavras do Malam, a tendência é aumentar o número do pessoal e alargar o centro.

Funcionamento do centro

A unidade de processamento está dividida em secções: corte, despeliculagem e pre-seleção, classificação e embalagem. Cada secção tem um responsável que orienta os trabalhos. Além disso, cada secção tem um supervisor. Pré-seleção significa selecionar as diferentes categorias de amêndoa e passa-las para a embalagem.

Na explicação do administrador, Malam Bidé Sanhá, existem 11 categorias de amêndoa, mas para a exportação apenas tem-se cinco. Para as outras, não se encontrou ainda um mercado propício.

«Vendemos aqui, dentro da fábrica. Temos um parceiro que compra a amêndoa e exporta-a para a Alemenha, por intermédio de uma empresa espanhola de nome WEBA (sigla em Ingês)», disse Bidé Sanhá.

O administrador acrescentou que, para melhorar a produção, têm a intenção de construir um local mais apropriado para a secagem da castanha «in natura» e fazer face as dificuldades com que se depara durante a época chuvosa. Segundo ele, as dificuldades são várias. A administração importa os materiais de embalagem, a partir de Portugal, através da empresa ALENPAC. O material depois de ser encomendado, as vezes ele demora dois meses a chegar. A administração compra os cartões de embalagem em Dakar que também demoram a chegar. De Dakar foi-lhes dito que a encomenda que o centro faz é pequena e não chega a exportação que a empresa fornecedora faz. A título de exemplo, a encomenda feita no passado mês de dezembro está prevista a sua chegada no próximo mês de março. O administrador disse que também não encontraram um parceiro que lhes compra a amêndoa na totalidade. Das cinco categorias que são exportadas, as vezes, há clientes que pedem apenas três. Uma outra questão é que a fábrica depara-se também com grandes dificuldades em conseguir a castanha de caju «in natura».

«Se houvesse a possibilidade de conseguirmos um crédito, num banco de crédito, isso dava-nos a possibilidade de fazer um empréstimo e amortiza-lo gradualmente. Temos perspetivas de aumentar o número dos trabalhadores, pois temos um armazém com capacidade para mais de 700 toneladas de castanha de caju, o que significa que podemos trabalhar por longo tempo», disse.

O responsável explicou que o centro compra a castanha bruta junto de diferentes fornecedores e obviamente nalgumas situações com qualidades diferentes. Encontram algumas castanhas podres, cuja amêndoa não pode ser vendida, porque também contamina a outra que está em boas condições. «Nem toda a gente tem condições para armazenar a castanha in natura. Portanto, trabalhar no setor requer um grande cuidado, desde o armazenamento até ao processamento».

Rendimento durante a jornada

Na despeliculagem, a maioria das pessoas consegue fazer apenas cinco quilos de amêndoa por dia. Neste momento, através do responsável de Arrey, empresa instalada nas imediações da cidade de Bula, o centro de Bissorã adquiriu uma nova experiência e consegue-se agora despelicular uma média de 300 a 350 quilos por dia. Essa experiência reduziu o custo da produção e dá mais possibilidades de o centro participar no mercado. «Se continuarmos assim, significa que podemos exportar uma média de dois contentores por mês, isto é, cerca de 25 mil quilos de amêndoa. Tínhamos muita mão-de-obra e cada pessoa fazia 2-3 quilos de amêndoa por dia, no máximo até cinco quilos. Produzíamos, em conjunto, uma média de 110-120 quilos por dia. Hoje, através do processo de muticação, conseguimos aumentar a produção», esclareceu.

Das técnicas novas de produção, Arrey mostrou que é melhor utilizar o vapor para a despeliculagem. Esse faz a casca da amêndoa se tornar fofa. Depois, mete-se na estufa e no espaço de duas horas de tempo a casca larga a amêndoa e torna-se fácil de a retirar. Dantes os empregados faziam esse trabalho com faca e levavam muito tempo. A nova experiência é através do comuficador e estufa. O trabalho tornou-se mais leve. Por esse motivo, o centro reduziu o número do pessoal de 60 para 30, num horário de trabalho de 8 às 17 horas com intervalo de uma hora de tempo para o almoço e 15 minutos para o pequeno-almoço. As pessoas que trabalham na fábrica são servidas o almoço no centro. O salário mensal dos trabalhadores, conforme o administrador, oscila entre 50 mil a 175 mil francos CFA.

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Reportando as palavras do administrador, Malam Bidé Sanhá, o centro de processamento consegue a castanha bruta através de um parceiro, que é ADPP Plantação, com quem tem um contrato de fornecimento. A ADPP Plantação tem quatro hortas, que rendem mais de 500 toneladas da castanha por ano. Trata-se de uma plantação certificada.

Qualidade da castanha

Malam Sanhá entende que a qualidade da castanha de caju do país está a degradar-se e pensa que o motivo deve ser a falta de boa manutenção. Os cajueiros são semeados de forma apertada. Não têm o distanciamento necessário. A falta de espaçamento não permite uma boa reprodução das plantas e, consequentemente, uma boa qualidade de amêndoa. Nestas condições, as amêndoas são pequenas. Dantes 180 amêndoas pesavam um quilo, agora são necessárias 450 amêndoas para atingir 1.000 gramas. A mutação dos pomares é muito essencial. A planta alarga os ramos e ela reproduz em maior quantidade e qualidade. Se a horta for limpa o mais cedo possível, a planta respira bem e reproduz mais. O espaçamento de 15 por 15 metros é bom e dá para ter melhor qualidade de ventilação e mais castanha de caju.

Aposta na transformação

A exportação da amêndoa é melhor que a exportação da castanha “in natura”. A amêndoa tem mais dinheiro. A título de exemplo, 250 quilogramas de amêndoa é uma tonelada da castanha bruta. Se a amêndoa for vendida ao preço de 3.000 ou 5.000 francos CFA o quilo e se calcular o custo de uma tonelada da castanha bruta, essa dá menos dinheiro. É por isso que se deve apostar na transformação local. A venda da amêndoa tem muita vantagem. Aumenta o Produto Interno Bruto (PIB) do país, contribui para o emprego jovem e diminui a delinquência juvenil (consumo de álcool, banditismo, prostituição, etc.). Se a exportação se faz mediante um certificado e se for criada uma empresa de certificação local, o país beneficiaria mais e melhor.

Bacar Baldé

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