A região sanitária de secção de Ingoré não tem registado, nos últimos tempos, grande número de doentes de malária durante as consultas feitas, informou o diretor do centro de saúde dessa localidade, Thomson Alqueia Moura.
Contrariamente aos dados que dão conta que 50 por cento de números de consultas a nível do país são de malária e 39 dos quais dormem fora de mosquiteiros, aquele técnico assegurou que os casos de paludismo estão a diminuir gradualmente naquela zona nortenha.
Segundo o diretor, ao longo desse curto espaço de tempo em que está como responsável do centro apenas consultaram três doentes de paludismo, lembrando que foi nomeado há menos de dois meses, razão pela qual tem pouca coisa a dizer. “Mas pelos vistos a situação de paludismo tende diminuir”.
Disse que um outro fator que poderá estar associado à redução dessa doença na zona é a época da seca, período esse que, de facto, não se regista grande número de pessoas com a malária contrariamente à época das chuvas que tem maior incidência da doença.
“No centro de Saúde temos somente dois médicos para responder às necessidades da comunidade. Somos obrigados a fazer esforços redobrados. Enquanto diretor, sou obrigado a cuidar das consultas de crianças, e o meu colega a responsabilizar-se de consultas de adultos, assim sucessivamente”, disse.
Alqueia Moura afirmou que desde que assumiu a direção daquele centro de saúde, não ultrapassou três casos de malárias que atendeu, talvez seu colega pode ter outros dados diferente, mas aquilo que registou são três. Portanto, carece de elementos factuais e científicos para declarar que a doença está a regredir. De acordo com números de pacientes, tudo indica que está a diminuir.
E em relação a essa doença, há casos simples e graves. O primeiro é tratado com Coartem, dependendo de peso do paciente, e se for grave é tratado com Quinina, isto já é na fase do internamento do doente.
O diretor assegurou que dispõe de meios para tratar qualquer caso da malária, desde casos simples até graves, razão pela qual nuca evacuaram pessoas com esta patologia para capital e muito menos para outros centros de saúdes.
Aquele responsável disse que há casos de outras doenças que o centro não tem condição para tratar, então quando é confrontado com essa patologia é obrigado a recorrer a capital ou o Centro de Saúde de São Domingos, o mais próximo. Mas tudo que toca com paludismo, o centro tem as mesmas condições com outros hospitais do país, por isso, nunca tem evacuado um único caso.
Centro tem dois médicos
Thomson Alqueia Moura informou que Centro de Saúde dispõe somente de dois médicos, uma parteira de carreira, treze enfermeiras, dois técnicos de laboratório e um farmacêutico.
Para fazer aquele estabelecimento sanitário funcionar, são obrigados a readaptar os técnicos de diferentes serviços para poder atender os desafios sanitários da zona.
Apesar de insuficiência de recursos humanos, o centro tem quadros capacitados e comprometidos com a luta pela melhoria do sistema sanitário da região. Disse que adotaram uma estratégia de partilha de informações que os permite estar no mesmo nível em termos da resposta sobre os problemas com que se depara o centro, assim como histórico dos pacientes.
Thomson Moura disse que o sucesso do centro reside, primeiro, no trabalho de coordenação e obediência e, segundo, é que todos os profissionais residem no centro, facto que os facilita no atendimento de pacientes e espírito de irmandade que os caraterizam.
Revelou que a doença mais frequente nesse período é a diarreia, que afeta mais às crianças, provocada por falta de água potável e modo de vivência, principalmente nesse período de campanha de caju e mangas, onde as crianças comem essas frutas sem serem lavadas.
“Como deve calcular, essas duas doenças que enumerei são mais frequente nesse período, muitas vezes a nossa forma de viver que nos leva a contrair essas patologias. A tensão alta quase 90 por cento da primeira causa é desconhecida, mas segunda é provocada por consumo excessivo de cha verde vulgo warga, café e sal”, disse.
Necessidade do Centro
Na explicação daquele responsável, o centro está com a falta de energia elétrica, devido à avaria de cerca de 20 baterias que sustentavam os painéis solares. Nesse momento estão a procura da solução que, segundo ele, passa pelo recurso a outro fornecedor externo, para poder dar respostas aos problemas.
Disse que, de facto, aquela situação vai acarretar outros custos financeiros ao centro, mas não tem outra saída, porque não podem ficar sem iluminação. “Nesse preciso momento temos problema de quebra de receitas, facto que está a criar grande dificuldades no funcionamento interno, as despesas são superiores que as receitas”, salientou.
O diretor asseverou que essa quebra tem a ver com a greve no setor há vários meses. Nos tempos atrás nunca tiveram dificuldade de pagamento de salário ao pessoal menor, sempre pagavam com as receitas correntes, mas no mês de abril findo foram obrigados a recorrer a conta do centro no banco para levantar dinheiro.
Um outro problema daquele centro é ambulância. Segundo aquele responsável, só tem uma que é muito difícil para atender a demanda das populações naquela zona sanitária, e a referida viatura não está em condições para transportar doentes das tabancas ao centro.
“Na verdade, passamos situações bastantes complicadas, por exemplo, quando temos um doente que deve ser evacuado para Bissau ou São Domingos, às vezes sem descansarmos, chega um outro doente com problema graves, então, os familiares são obrigados a recorrer outros meios de transportes”, explicou.
Um outro obstáculo é estrada que, nesse momento, se encontra num estado avançado de degradação. Para evacuar doente para Bissau ou São Domingos, leva horas e horas para chegar ao destino e, muitas vezes, a ambulância pode avariar ao longo do caminho.
Stock suficiente de medicamentos
No diz respeito ao stocks de medicamentos, Thomson Moura disse que não tem problema quanto a isso, porque há stock suficiente de medicamentos para atender as necessidade das população de 72 tabancas que compõe aquela região sanitária.
Segundo explicou o diretor, têm dois grandes fornecedores de medicamentos, nomeadamente CECOME e PIMI, que sempre abastecem o centro, pelo que nunca tiveram rotura de medicamentos, principalmente de primeiro socorro.
E no que toca aos internamentos dos pacientes, o responsável disse que o centro dispõe de 35 camas, e está divido em diferentes serviços, dentre os quais, a maternidade, a enfermaria de adultos e de crianças, além de uma sala para casos de infeções respiratórias, aliás, como é de conhecimento de todos, a doença que abala o mundo e que está a ceifar vidas humanas – a Covid-19.
Durante as consultas, a maior dificuldade que às vezes enfrentam tem a ver mais com os adultos que vão consulta e, muitas vezes, sem dinheiro e quando forem atendidos não têm como comprar medicamentos, uma situação que os deixa chateados, enquanto técnicos de saúde. Mas as crianças e as mulheres grávidas são atribuídas medicamentos gratuitamente, através do projeto PIMI.
Incumprimento de medidas de prevenção de covid-19
De acordo com o diretor daquele centro de saúde, os populares de Seção de Ingoré, quase na sua maioria, deixaram de usar máscaras e também não respeitam medidas de distanciamento físico, as orientações dadas pelas autoridades sanitárias do país.
No entendimento de Thomson Alqueia Moura, as pessoas naquela zona não têm hábitos de usar máscaras, uma prática que está intimamente ligada à falta de conhecimento e da importância de uso desse equipamento de proteção.
Por essa razão, quando recebem um paciente sem máscara, antes de ser atendido é, primeiramente, sensibilizado sobre a importância de uso obrigatório de máscara , mostrando aos doentes que, independentemente da covid-19, as máscaras servem, também, de proteção para não contrair outras doenças transmissíveis, enfim, “uso de máscara evita o contágio a qualquer tipo de doença respiratória”.
“Hoje nas ruas da vila de Ingoré, assim como nas tabancas da redondeza que compõe aquela secção, as pessoas já não usam máscaras, porque muitos não acreditam na existência da doença. Mas nós, enquanto técnicos de saúde, sempre mostramos às pessoas o perigo que podem correr se continuarem a não usar a máscara facial”, disse.
Referiu que trabalhar no interior é difícil, onde a maioria da população é analfabeto. “Se expulsar alguém porque não usou a máscara logo vão começar a interpretar mal a decisão e, perante essa situação, somos obrigados a trabalhar mais no capítulo de sensibilização” frisou.
Apoio externo
O Centro de Saúde tem recebido sempre apoio do UNICEF nos serviços de maternidade, pediatria, na campanha de vacinação de crianças, assim como na formação de técnicos de diferente áreas.
Por sua vez, o ex-diretor Bacabu Darame, como mais antigo no referido centro, disse que caso de malária regista-se mais no período de chuva, concretamente nos meados de julho a agosto, que é provocada por duas razões: a primeira tem a ver com água estagnadas nas ruas, e o segundo está relacionada com a falta de uso de mosquiteiros.
E em relação aos mosquiteiros, Darame disse que a campanha de distribuição desses materiais de proteção faz-se cinco em cinco anos, por isso a maioria da população tem dificuldade em conservá-los como deve ser, facto que leva algumas famílias a dormir sem mosquiteiro. Há aqueles que os usam para a vedação das hortaliças e outras finalidades não destinadas.
No que diz respeito à afluência das pessoas nas estruturas sanitárias da zona, o responsável afirmou que há um número considerável de pessoas que sempre procura centro de saúdes para tratamento, embora existam aquelas que ainda continuam agarradas a cura tradicional.
Para fazer as pessoas acreditarem que a única solução para a saúde é hospital, é preciso trabalhar mais na informação e sensibilização, uma tarefa que deve ser assumida pelo Estado.
De salientar que o Centro de Saúde de Ingoré não tem bloco operatório, banco de sangue e centro materno infantil, que serve para consulta especializada de crianças e mulheres grávidas.
Alfredo Saminanco