A Camara Municipal de Bissau (CMB) e os vendedores da feira de Djolo estão de acordo para uma eventual mudança pacífica do referida feira para Santa Clara, logo depois de jejum, revelou ao semanário Nô Pintcha, Silvano Intchama, diretor dos mercados, feiras e matadouros, tendo garantido que a entidade camarária também pondera construir um mercado público em Djolo.
O presente trabalho vem na sequência das últimas ações da CMB que tentou, sem sucesso, a mudança do mercado de Djolo para o vizinho Bairro de Santa Clara, em abril findo. As referidas ações foram desencadeadas no âmbito de implementação da nova política de dinamização e reorganização da cidade e dos mercados de Bissau e do país em geral.
O referido bairro conta com dois mercados privados: um construído por um cidadão de Guiné-Conacri e o mais antigo, feito em 2012, pelas mulheres vendedeiras, a margem da estrada de volta, avenida Dr. Kumba Yala, cuja posição foi contestada pela CMB.
O objetivo da criação da feira de Djolo visa responder à necessidade comunitária quanto a venda de produtos alimentares, perante o crescimento populacional. A feira também foi improvisada para encurtar a distância que as mulheres percorriam até aos mercados dos bairros Militar, São Paulo, Santa Clara, feira de Empantcha (apenas na época seca), Plack 1 e na pior das hipóteses no famoso Mercado de Bandim, em busca de mafé.
As atividades do referida feira iniciaram como um beco (em pequeno espaço) e pontualmente vendiam apenas os produtos naturais e bens alimentícios básicos, num período único de sete de manhã às 16 horas.
Pela sua posição, o “beco” atraiu os vendedores e compradores de bairros arredores, das regiões e setores mais próximos de Bissau. Aos poucos, assumiu as características de uma feira e, atualmente, conta com mais de duas centenas de comerciantes ativos, com diferentes produtos provenientes de Bissaquil, Gua, São Paulo, Mbassina, Ondame Pepel, Nhacra, Safim, Djall e até de Biombo.
No entanto, o aumento de inquilinos num pequeno espaço constitui o motivo para a atividade da referida feira desembocar até asmargens da estrada (passeio) colocando (clientes e vendedores) em risco.
A propósito disso, a CMB “sentenciou” a sua transferência, apontando o mercado do Bairro de Santa Clara como recurso para a instalação dos comerciantes em causa.
Entretanto, a decisão e o fundamento da CMB não convenceu os vendedores de Djolo, que acusam a autoridade de conivência com os proprietários de dois mercados privados já referidos, por não terem ocupantes e afluência de clientes.
Segundo Diretor dos Mercados, Feiras e Matadouro da CMB, a edilidade apenas pretende proporcionar aos cidadãos utentes melhores condições, dar mais segurança e qualidade à imagem da cidade e, consequentemente, reduzir os acidentes de viação relacionadas com o mau posicionamento de mercados e feiras a nível do país.
O que significa, segundo Silvano Intchama, acabar com todos os mercados, feiras e atividades comerciais realizadas às margens de estradas ou na via pública e libertar os passeios para a livre circulação de piões.
Mão à palmatória
O diretor dos mercados deu mão à palmatória, ao reconhecer que a Câmara Municipal de Bissau cometeu erros imperdoáveis no passado, quanto ao surgimento de bairros e, consequentemente, os mercados, sem as orientações mínimas sobre planos e critérios de urbanização.
“Não podemos continuar desorganizados. A maioria de bairros e mercados surgiram, e foram crescendo sem observância de leis de urbanização”, reconheceu, salientando que a CMB é, em parte, cúmplice dessa desordem.
Nesta ordem de ideias, Silvano Intchama disse que a entidade camararia aparentava mais preocupada com a parte financeira e não com a organização ou saúde das pessoas que vendiam nos mercados.
“A atual Direção da Câmara quer inverter esta tendência. A mudança começa na organização e valorização da vida humana”, disse Intchama.
A propósito, revelou que a transferência da feira de Djolo não só prejudicará os utentes como também provocara, nos primeiros tempos, a quebra brusca de receitas da CMB. “Mesmo assim, vale a pena sacrificar o bem económico ou material para salvaguardar a vida humana”.
Explicou que a feira de Djolo figura na lista das localidades mal situadas, cuja maior parte de atividades comerciais são realizadas no passeio ou à margem de estradas, colocando em causa a vida dos utentes.
“Acho que a estrada de volta de Bissau, recentemente inaugurada Avenida Dr. Kumba Yala, é a mais perigosa e com maior número de acidentes nos últimos anos, em consequência do excesso de velocidade” frisou Silvano Intchama.
“Tivemos muitas queixas e já assistimos acidentes naquela localidade. Tentamos arranjar soluções e uma delas é a mudança do mercado de Djolo para a Santa Clara” disse o responsável de Mercados da CMB. Por outro lado, revelou que a entidade camararia está a procurar um terreno para a construção do mercado público em Djolo.
Relativamente ao mercado privado, Silvano Intchama assegurou que a CMB não tem poderes para retirar e mandar os cidadãos para irem ocupar uma feira privada.
A propósito, assegurou que a feira de Santa Clara pertence à gerência da CMB, apesar de ser construída com o esforço da associação dos moradores do mesmo bairro.
Estratégia de mudança do mercado
A primeira reunião da CMB com os feirantes de Djolo foi positiva e resultou em promessas e garantias que poderão ser cumpridas no final de jejum. Este encontro aconteceu dias depois das autoridades camarárias terem tentado, sem sucesso, a mudança efetiva da feira em causa para o bairro vizinho de Santa Clara.
Na opinião do diretor de mercados da CMB, os vendedores da feira de Djolo precisam ver o lado positivo da mudança. Silvano Intchama disse que os feirantes também têm a ganhar com a mudança, porque passarão a pagar apenas 150 francos cfa, preço normal e sem no entanto, terem que pagar mais 100 ou 200 fcfa, pela ocupação de espaço ou cacifo onde vendem.
“Eu não entendo! Já informamos que o Mercado de Santa Clara pertence à CMB, também explicamos que a afluência dos clientes depende dos produtos e da permanência no local” disse Silvano Intchama.
Por outro lado, revelou que a maior parte de pessoas que vendem no Mercado de Djolo têm os seus espaços e mesas em Santa Clara. “Todos devemos abandonar a estrada e evitar os constantes acidentes de viação” frisou.
Feirantes da feira de Djolo dispostos a colaborar
Os vendedores de Djolo pedem a construção de um mercado público no próprio bairro e, até lá, confirmam estarem dispostos a colaborar com a CMB na busca do espaço distante da estrada como forma de evitar o acidente e a possível mudança.
Apesar de terem garantido que não vão desafiar a autoridade, os comerciantes acusam a CMB de ter a intenção de acabar com o Mercado de Djolo, por causa de dois mercados privados, nomeadamente a de cidadão da Guiné-Conacri e outro situado no Bairro de Santa Clara, construído pela associação de moradores.
Domingos Nanqui, proprietário do espaço do contestado mercado de Djolo, disse que há nove anos que cedeu o espaço à comunidade, sem pensar na recompensa, mas quando a CMB começou a cobrar, os feirantes reuniram e decidiram, por livre vontade, contribuir com 100 fcfa pela ocupação do espaço.
“Eu até não queria tomar o dinheiro, porque não era o combinado, mas insistiram e justificaram que a Câmara começou a cobrar, havia todo o motivo para eles contribuírem e, meses depois, comecei a receber a contribuição perante a persistência”, explicou.
“O Mercado de Djolo tem água canalizada, um poço de água e duas casas de banho”, revelou o proprietário do espaço, sublinhando que a CMB só aparece para retirar lixo e cobrar a receita, sem no entanto, preocupar-se com a condição (colocação e esvaziamento de casa de banho ou pagamento de água) muito menos o melhoramento de condições do próprio mercado.
Domingos Nanqui lamentou a mudança do mercado para outro bairro, uma vez que podia ser encontrado um espaço para construir ou melhorar o já existente.
“A CMB quando quer terreno para vender consegue, mas para o mercado, campo ou espaço de diversão para a comunidade não consegue” disse Domingos Nanqui.
Ele aproveitou a ocasião para alertar a Câmara sobre os riscos de mudança, alegando que o fundamento é muito fraco, porque não evitará acidentes, pelo contrário aumenta, porque as crianças e mulheres terão que atravessar e percorrer distância todos os dias em busca de mafé, no mercado de Santa Clara.
Segundo Domingos Nanqui, a estrada em causa não é fácil de atravessar devido ao excesso de velocidade e a mudança apenas vai aumentar mais sacrifico e risco de vida à comunidade de Djolo, motivo pela qual surgiu o mercado que agora está a ser contestada pela CMB.
Muscuta Mané, vendedeira no mercado de Djolo, disse que começaram a vender na dimensão de um beco, graças ao proprietário de espaço, depois de serem expulso num dos mercados de Bairro Militar e a CMB ter falhado o pedido formulado pela comunidade de Djolo para a construção do mercado.
A vendedeira reconheceu que antes de terem sido avisados pela CMB haviam pessoas que vendiam no passeio, situação que, segundo ela, já não acontece porque conseguimos organizar e retirar as pessoas da margem da estrada.
Disse que não podem e nunca pensam desafiar as autoridades, mas, também, não querem ser levados para outro bairro, tendo em conta a má experiência de convivência que tiveram no passado em outros mercados, incluindo a de Santa Clara.
Nesta ordem de ideias, exortou a CMB para ponderar a mudança e apoiá-los na organização do mercado e, consequentemente, a construção de mercado público com vista à transferência dos comerciantes.
Anita Có, utente do Mercado de Djolo, defendeu que é muito arriscado a mudança do mercado, porque vai aumentar mais riscos de acidentes, tendo em conta que o mercado é “muito frequentado” pelas crianças que terão que atravessar, por duas vezes, a estrada, o que é “extremamente perigosa”.
“Quanto ao mercado privado do cidadão de Conacri, acho que nenhum cidadão guineense jamais será vendido um espaço em Guiné-Conacri, ao ponto de construir um mercado e estipular o preço fora do normal”, observou Anita Có.
Mercado de cidadão de Guiné-Conacri
O diretor dos Mercados, Feiras e Matadouros, Silvano Intchama disse que a CMB não tem poderes para obrigar os cidadãos irem ocupar um espaço privado. A verdade é que o Bairro de Djolo tem um mercado, mas é privado, recentemente construído no referido bairro por um cidadão de Guiné-Conacri.
A feira tem as mínimas condições: não tem água canalizada, mas tem um poço de água, casa de banho, mesas e cacifos de vendas, mas não tem verificado grande afluência de vendedores.
Segundo a informação recolhida, o mercado não tem aderência devido ao preço estipulado à ocupação de espaço de vendas. Apuramos também que para adquirir o espaço ou um cacifo nesse mercado, o interessado terá que suportar pesadas despesas, a começar pelo pagamento (mensal) da renda de ocupação de cacifo no valor de 60 mil fcfa, à CMB no valor de 7500 fcfa, além de impostos das Finanças, no valor de 30 mil fcfa mais a fatura de consumo de eletricidade, no valor de 10 mil fcfa.
A propósito, Seni Djassi, um dos primeiros comerciantes a instalar-se nesse mercado, disse que é preciso ter coragem, motivação e esperança para instalar no referido mercado. o comerciante referia-se aos custos e a expetativa quanto a mudança para outro mercado.
Disse que o mercado ainda não regista grande afluência, mas tem toda as condições, pelo que é preciso ter amor ao comércio para poder vender naquele local, porque além da falta de clientes, a margem de lucro é pouco, para não dizer que é nula, agravado com a falta de ocupantes, compradores e diferentes impostos a pagar.
Por seu lado, M´mam Gomes vendedeira de hortaliças, disse que ainda não estão a pagar nada pela ocupação de mesa por causa da falta de aderência tanto de vendedores assim como dos clientes. “Praticamente não faturamos quase nada, mas temos a esperança num dia melhor” disse a vendedeira.
Por outro lado, ficamos a saber que o preço aplicado à ocupação de cada mesa de venda varia entre 250 à 500 fcfa, mas tentamos, sem sucesso, saber a razão da variação do preço.
Aladje Sene Djau, vendedor no mesmo mercado, mostrou-se muito esperançado. Segundo ele, o referido mercado ainda é nova e está sem vendedores nem clientes, devido à permanência da primeira feira instalada à margem da estrada, mas a situação vai mudar com a sua retirada pela CMB.
De salientar que tentamos, sem sucesso, encontrar o cidadão da Guiné-Conacri, proprietário do mercado privado de Djolo.
Mercado de Santa Clara disposto a receber os feirantes de Djolo
“Estamos abertas para receber os irmãos do mercado de Djolo, e algumas já venderam aqui e os seus cacifos estão a espera de voltar ser ocupados”, disse Batista Tchuda, responsável da feira de Santa Clara, local onde a CMB pretende albergar os vendedores provenientes de Djolo.
O Mercado de Santa Clara foi criado pela associação dos moradores em 2009, com o objetivo de satisfazer a necessidade da população local.
O espaço conta com cerca de 65 lugares desocupados, mas os responsáveis preveem a disposição de 502 mesas e cacifos de vendas. Em termos de condições, conta com uma casa de banho, não tem água canalizada, mas os utentes recorrem aos poços de água das casas vizinhas.
As ausências de compradores facilitava a leitura sobre o nível de poder de compra e venda que também constituem o maior pesadelo dos feirantes de Djolo.
O poder de compra no Mercado de Santa Clara é praticamente nulo. Para vender um produto, o vendedor ou vendedeira precisava aguardar uma hora ou mais para ter a presença de um interessado.
Fatumata Djaló, uma assídua vendedeira nesse mercado, revelou que em busca de mais clientes, algumas das colegas tiveram que abandonar os seus locais de venda para irem instalar-se no mercado de Djolo.
“Ficamos a saber sobre a mudança, mas estamos a aguardar com ansiedade, talvez o mercado com mais pessoas e produtos será capaz de mobilizar mais clientes”, confiou Fatumata Djalo, que pediu a colaboração da CMB.
Quanto ao pagamento da feira, disse que ainda não se cobra, tendo em conta a falta de poder de compra da população. Pediu aos comerciantes de Djolo para aceitarem transferir, lembrando que o mercado daquela localidade encontra-se mal posicionada e coloca as pessoas em risco de acidente.
Texto e foto: Nelinho N´Tanhá