Bissau e Pequim acertam acordo de exportação da castanha de caju ao mercado chinês

O 1º vogal do Conselho da Administração da ANCA revelou ao Nô Pintcha que está em curso uma ofensiva diplomática para tornar o mercado chinês numa grande oportunidade para a venda da castanha da Guiné-Bissau.

Mustafá Seide Bari afirmou que o gigante asiático pode surgir como alternativa para o produto estratégico guineense, devido aos vários fatores, nomeadamente por ser o maior mercado mundial, podendo fazer-se de ponte para abastecer o mercado regional.

Seide Bari anunciou que o Governo de Bissau solicitou às autoridades de Pequim a abertura do seu mercado para a aquisição da castanha guineense e eles reagiram prontamente, prometendo inclusive abrir todas as portas e prestar assistência técnica necessária, para permitir a entrada do produto ao seu mercado.

A propósito, o Governo chinês enviou às autoridades de Bissau um questionário para responder em língua mandarim, que se encontra, neste momento, em tradução na Embaixada da Guiné-Bissau em Pequim, e que será remetida às autoridades alfandegárias daquele país.

Mustafá Bari explicou que depois das formalidades, uma missão técnica das Alfandegas da China visitará a Guiné-Bissau para proceder ao levantamento e conhecer os procedimentos de exportação, assim como reconhecer os serviços administrativos da ANCA e o modelo de certificação que emite para a exportação.

O Governo chinês já nomeou um delegado do Ministério do Comércio Internacional do seu país junto da sua Embaixada em Bissau para tratar do assunto da castanha de caju.

O 1º vogal do Conselho da Administração da ANCA explicou que a qualidade da castanha da Guiné-Bissau é natural e única do mundo, porque os seus pomares não sofrem nenhuns produtos químicos, como acontece em muitos países.

“Há países que usam pressão sobre pomares de caju, fazendo enxertias e uso de produtos químicos para que os cajueiros produzam muito e em tempo recorde”, explicou, afirmando que a amêndoa guineense tem um sabor natural e é mais saudável.

Reconhecimento internacional

Quanto ao reconhecimento do produto, Bari explicou que a China está interessada em equipar à Agência Nacional de Caju, em todos os níveis, embora a instituição dispõe de um laboratório com tecnologia de ponta, que emite certificados para a exportação, mas apenas é reconhecidos no país, porque o processo do reconhecimento internacional ainda não se concluiu.

Seide Bari revelou ainda que o Governo chinês comprometeu-se, na segunda fase, ajudar a impulsionar o reconhecimento da certificação de caju da Guiné-Bissau no mercado internacional.

“Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que este processo se torne uma realidade para o bem dos agricultores e da economia nacional, contudo estou tranquilo, porque o assunto está na mesa do Presidente da República que, também, está determinado para a sua concretização”, assegurou.

Acrescentou ainda que a China pondera, dentro de dois anos, instalar unidades de transformação da castanha em todo o país, na perspetiva de criar oportunidades de emprego para jovens e mulheres, bem como dar valor acrescentado ao produto.

Fim do monopólio

Do Brasil, o vogal do Conselho da Administração da ANCA anunciou ter recebido, recentemente, duas delegações de empresários que queiram investir no setor de caju, através da instalação de unidades de transformações de polpas em sumo, manteiga, entre outros consumíveis.

Mustafá Bari disse que o maior perigo no negócio é a detenção do monopólio do mercado por um ou dois intervenientes. Perante esse facto, a concorrência chinesa será determinante, não pela sua população, mas porque apenas um pequeno empresário chinês pode comprar toda a produção guineense num abrir e fechar de olhos.

Denunciou que muitas das vezes as informações que chegam ao país sobre o preço do produto no mercado internacional não são verdadeiras, devido ao monopólio do mercado pela Índia e Vietname, manipulando informações e decidem sobre o preço a pagar por toneladas, com fundamentos inaceitáveis.

ANCA em alerta amarelo

Mustafá Seide Bari disse que a Agência Nacional de Caju é uma entidade reguladora e ele, na qualidade do vogal do Conselho da Administração e Encarregue da administração e Finanças, confirma que a instituição está a funcionar a meio gás, embora está-se a fazer o possível dentro das atribuições legais. Lembrou que a maior sorte que a ANCA teve é o modelo do Conselho de Administração Executivo, embora muita coisa aconteceu, sobretudo a nível do enquadramento do pessoal, mas foi bem pensado assim.

Bari explicou que o Governo está impaciente com o excesso de funcionários que já não receberam seus ordenados há mais de seis meses. Este facto também refletiu negativamente na decisão de não contemplar a ANCA entre as entidades beneficiadas da estrutura de custo da presente campanha de comercialização da castanha de caju.

Disse que, neste momento, muitos funcionários, por falta de moral, não comparecem ao serviço, mas os poucos que frequentam ao local de trabalho estão a atender pedidos de vistorias, emissão de selos da ANCA, entre outros serviços solicitados pelos exportadores, assim como recolher as amostras para testes de certificação.

“Não se deve sacrificar toda gente por causa de uma ou duas pessoas”, lamentou, afirmando que esse comportamento é injusto e desumano.

Falha ou não da campanha

Instado a pronunciar-se sobre o eventual insucesso da campanha de comercialização da castanha de caju do presente ano, Mustafá Bari, sorridente, mostrou-se reticente quanto à falha no procedimento para não entrar em choque com certas entidades. Mas, deixou claro que a Agência Nacional de Caju é a entidade responsável pela abertura da campanha e comercialização da castanha, mas como não tem assento no Conselho de Ministros a responsabilidade do processo é transferida ao Ministério do Comércio.

“Mesmo assim, o Ministério do Comércio pediu-nos para mandar as nossas contribuições e a ANCA, por sua vez, enviou três variantes de estrutura de custo como é a tradição, mas, infelizmente, a estrutura anunciada não tem nada a ver com as suas projeções. Este ano não fomos convidados a participar no ato de abertura da campanha realizado no Ministério do Comércio”, lamentou Bari.

Entrega e dedicação ao compromisso

Mustafá Bari disse que continuará a fazer tudo de bom para a ANCA, afirmando que as reformas que implementou na Inspeção do Comércio deu bons frutos, tal como aconteceu na Administração Eleitoral, onde trabalhou como técnico informático. Por esta razão, garantiu que se forem criadas as condições necessárias, e num tempo recorde o assunto de caju será resolvido e toda gente sairá a ganhar.

Finalmente, apelou ao Governo e, em especial, ao Presidente da República para darem a atenção aos funcionários da Agência Nacional de Caju, que diariamente estão a trabalhar, mas não têm salário há mais de seis meses. Entretanto, salientou que a conta bancária da ANCA é gerida pelo Tesouro Público e Conselho da Administração da instituição e todo o pagamento é feito a partir desta conta.

Seco Baldé Vieira

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