A Associação das Mulheres Profissionais da Comunicação Social, AMPROCS, divulgou ontem, dia 5 de julho, o relatório final, no âmbito do projeto sobre direito das mulheres e homens jornalistas em contexto de instabilidade com apoio financeiro do Instituto Camões.
O documento assinala preocupação quanto às condições difíceis dos jornalistas com maior incidência das mulheres. Essa inquietação consta num estudo realizado pela AMPROCS, para apreciar a questão da igualdade de género na comunicação social nacional, e em especial a situação económica dos jornalistas.
Constam ainda no estudo, a relação dos profissionais da comunicação social com o poder político, bem como a questão do respeito da ética e deontologia profissional dos jornalistas,
Esses dados estão num inquérito realizado a 100 jornalistas, 70 dos quais são mulheres”.
De acordo com o documento que o Nô Pintcha teve acesso, o presente inquérito demonstra claramente a falta de independência económica dos jornalistas, a interferência política nas tarefas dos profissionais da comunicação social e a falta da vontade política em garantir a liberdade de imprensa e de expressão, assim como fragilidade na defesa da integridade física e moral das mulheres e dos homens da imprensa do país.
O estudo visa contribuir para o conhecimento da situação económica dos profissionais da comunicação social guineense, analisar até que ponto a situação da igualdade de género é respeitada nos diferentes órgãos de comunicação e, por outro lado, perceber até que ponto a interferência política é gravosa.
Procura ainda analisar o nível da violação da liberdade de imprensa e de expressão, bem como o nível de preparação dos profissionais da média no país.
O documento elucida ainda que os órgãos da imprensa na sua totalidade, deparam-se com dificuldades económicas em todos os níveis.
Os dados do inquérito revelam claramente que o mais caricato é que a maioria dos órgãos de comunicação social não consegue pagar ordenados aos seus funcionários, apenas um número reduzido o faz.
“Tais cenários, independentemente de colocar os profissionais da comunicação social numa situação desconfortável, colocam em causa a credibilidade e a independência dos mesmos nos órgãos da comunicação social do país”, lê-se no documento.
Igualdade de género
Fala-se da lei da paridade de género aprovada em 2018 que reserva para as mulheres o direito de deter 36 por cento da representatividade nos órgãos do poder político. No entanto, tudo isso, segundo o inquérito, não passa de uma operação cosmética, porque apesar de existir a lei da cota, o desequilíbrio da representatividade entre homens e mulheres nos lugares chave das instituições continua a ser gritante, favorecendo os homens.
“A pesquisa indica que por uma questão cultural, uma certa resignação por parte das mulheres na luta pela emancipação e uma certa dose de interiorização de um sentimento de inferioridade em relação aos homens, ou seja, em certos casos elas não conseguem libertar-se das amarras do “complexo de inferioridade”, comportamento que geralmente acaba por colocar os homens no epicentro de tudo”, salienta o relatório.
No que tange à violação da liberdade de imprensa e de expressão, preliminarmente, o documento avança que esses valores não podem e nem devem ser encarados como algo inútil porque a liberdade de imprensa e de expressão têm uma relação simbiótica com a democracia. Isto significa que não podemos admitir a possibilidade de uma verdadeira democracia sem que existam liberdade de imprensa e de expressão”.
De acordo com os resultados desse estudo, a liberdade da imprensa e de expressão apresentam-se sempre como pressupostos na observância da boa-fé e da ética da relação entre o poder, a imprensa e os líderes da opinião.
“Mas na Guiné-Bissau essas liberdades, que de uma forma geral contribuem para a consolidação da democracia, continuam a ser, fortemente, abaladas pelas vicissitudes da existência de tortura, perseguições, e chantagem, com o propósito declarado de silenciar os homens e mulheres da imprensa e os líderes da opinião pública.
O Estado com responsabilidade de garantir a integridade física e moral dos seus concidadãos e concidadãs desvaloriza as situações por que passam os profissionais dos médios do país”, concluiu.
De lembrar que a Casa dos Direitos, é uma iniciativa de organizações da sociedade civil, promotora de diálogo entre diversos sectores da sociedade guineense, à volta da realização de direitos – económicos, sociais, culturais, cívicos, ambientais. Inscreve-se num esforço conjunto de compreensão da realidade e dos desafios que se vêm colocando à paz e ao desenvolvimento.
Fulgêncio Mendes Borges