Abrem-se janelas de oportunidades ao país

A Suíça nomeou o cidadão guineense, Alfredo Handem, para desempenhar as funções de cônsul geral honorário daquele país helvético junto da República da Guiné-Bissau, passando assim a substituir o Nelson Dias que durante vários anos exerceu o cargo.

O Nô Pintcha conseguiu entrevistar o recém-nomeado para se pronunciar sobre os propósitos dessas novas funções.

Alfredo Handem enfatizou, entretanto, que para a Suíça é forma de ter uma representação na Guiné-Bissau, contribuindo no reforço das relações de cooperação entre os dois países e que no seu ponto de vista a iniciativa permitirá a Guiné-Bissau ganhar solidez no seu desenvolvimento e estar muito mais estruturado.

“O cônsul depende diretamente do embaixador suíço que fixou residência em Dakar. Ele cobre alguns países da sub-região, nomeadamente Guiné-Bissau, Gâmbia, Mauritânia, Cabo-Verde e Serra-Leoa. Ter um cônsul na Guiné-Bissau é como ter uma antena nesse país, que em situação de defesa dos interesses dos cidadãos suíços, apoia a embaixada na resolução dos seus problemas”.

O agora nomeado entende que para a Guiné-Bissau essa é uma nova oportunidade que está a abrir-se. Segundo ele, anos atrás, havia um cônsul honorário na Guiné-Bissau que exerceu a função com todo o profissionalismo, mas por razões de índole de saúde, a Suíça decidiu terminar tais relações.

Em termos de aproveitamento de oportunidades para a Guiné-Bissau, Alfredo Handem disse que a Suíça é um país extremamente importante, do ponto de vista de credibilidade, de boa governação democrática e a Guiné-Bissau tem só a ganhar se tiver uma maior aproximação àquele país no centro da Europa. “Não é por acaso que a segunda maior sede das Nações Unidas está instalada na Suíça, concretamente na sua capital, a cidade de Geneve”, apontou.

Mudanças climáticas

O novo diplomata referiu que em termos de mudanças climáticas, a Suíça é um país extremamente importante. “Sabemos que a Guiné-Bissau, a par de todos os país, está muito dependente das mudanças climáticas. Além de mais, a Guiné-Bissau é um país que corre certos riscos, porque é plano, está debaixo do nível do mar e qualquer derrame de petróleo que acontecer será um problema grande para o país. E Suíça dá muita atenção à questão do meio ambiente em geral”.

O nosso entrevistado lembrou ainda que as ações da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e do IBAP (Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas), viradas para a proteção do meio ambiente, são apoiadas pelo fundo suíço. Ele indicou que a Suíça pauta pelo apoio às mulheres, dos direitos humanos, a segurança humana, etc. “Portanto, a Guiné-Bissau estando mais próxima da Suíça poderá tirar proveito dessas imensas oportunidades que esse país oferece a nível mundial”.

O representante dos interesses da Suíça na Guiné Bissau elogiou o facto de pela primeira vez na história, aquele europeu entender por bem candidatar-se para o lugar de Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Houve um debate muito grande a nível daquele país, sobre se ele devia postular. Mas a maioria acabou por vencer. Os suíços acharam que mesmo estando no meio de países com quem a Suíça não tem a convergência de pontos de vista em termos de algumas políticas, mas estando no Conselho de Segurança, ele pode jogar um bom papel importante para a a preservação da paz mundial”.

Simbolo de Paz

Alfredo Handem disse que a bandeira da Suíça tem um símbolo de paz, o que significa que a Suíça pode jogar um papel de ponte na resolução de vários problemas que têm surgido no que diz respeito a questão da segurança e na resolução de conflitos no mundo.

O cônsul sublinhou que até aqui a Guiné-Bissau não é um país prioritário para a Suíça em termos de cooperação. “Aliás, a intervenção mais relevante da Suíça no país é através da Swissaid, que é uma fundação suíça (organização não-governamental – ONG) que recebe fundos através da mobilização realizada no seio da sociedade, nomeadamente playdoier, sensibilização das pessoas e uma parte vem do Governo Federal Suíço.

“É a única ONG que intervém na Guiné-Bissau. Como a Guiné-Bissau não faz parte do grupo de países prioritários em temos de cooperação, a Suíça não tem aqui uma outra estrutura montada que possa receber fundos suíços”.

Países prioritários

Nos países elencados como prioritários, o Governo suíço revela-se presente através do  Departamento de Cooperação e Desenvolvimento (DDC), uma estrutura instalada no Burquina Faso, Mali e  no Senegal. Esse departamento tem alguns indicadores definidos para cada um daqueles países.

“Podemos dizer que a Guiné-Bissau não é um país de grandes problemas, com casos de terrorismo, conflitos de dimensão sub-regional que criam alguma instabilidade na zona. Penso que a partir de agora pode-se abrir uma janela de oportunidades, dependendo como a Guiné-Bissau irá apresentar-se junto do Governo federal suíço, das suas prioridades e necessidades. Penso que se o país conseguir uma boa estabilização interna abrem-se todas as oportunidades de o país negociar vários dossiês e projetos para o desenvolvimento”, salientou.  

Relativamente ao historial do relacionamento entre os dois países, Alfredo Handem disse que a Suíça reconheceu a Guiné-Bissau, logo após a independência nacional, em 1974. A relação continuou assim ao nível bilateral. Mas devido a orientação política e ideológica do país, a Guiné-Bissau não estava assim tão virada para cooperar com países grandes como a Suíça, que foi sempre muito neutral ao nível da Europa. Pela sua história é um país um bocadinho neutro em face de todas essas dinâmicas de problemas internacionais. Esse país funciona como uma espécie de ponte na resolução de problemas internacionais e nos de desenvolvimento.

País rico

O diplomata reconhece que a Suíça conseguiu criar uma riqueza enorme. É um dos países mais ricos do mundo. O seu produto interno bruto é muito elevado, tendo uma população relativamente reduzida. Os seus sistemas financeiro e bancário, o segredo bancário, a eficiência das transações são altamente desenvolvidos. Com a riqueza criada, a Suíça interviu muito na área de desenvolvimento, nomeadamente no acesso a água, respeito à dignidade humana, os direitos da mulher, os direitos humanos, divergência de opinião, meio ambiente, etc. Desse ponto de vista a Guiné-Bissau beneficiou apoios para algumas estruturas, caso concreto do IBAP (Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas) e da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), etc., mas não na plenitude como no Burquina Faso, no Mali e no Senegal.

Talvez porque esses países têm algumas particularidades, devido ao fenómeno saheliano: a desertificação, a inacessibilidade da água, o saneamento básico, entre outros. Os países de Sahel têm dificuldades enormes de luta contra a pobreza.

Conforme as suas palavras, A Suíça luta também para diminuir o impacto das mudanças climáticas.

O nosso entrevistado realça que a Suíça é um país alérgico aos problemas da corrupção. Ela pauta-se pela transparência e boa governação. Quando um país gere bem o erário público, organiza auditorias e a avaliação de contas, Suíça vê esse país com bons olhos e isso é um indicador que o permite a reforçar as relações de amizade e de cooperação.

Texto e fotos: Bacar Balde        

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