Desmistificando as mentes, construindo homens

O surgimento das primeiras Universidades no início do século XXI, na Guiné-Bissau, suscitaram como é óbvio, algum ceticismo e controvérsias efervescentes, mormente sobre os desafios que pareciam espinhosos, mas que as referidas instituições em gestação teriam que enfrentar a todo custo, sobretudo, em contexto onde o histórico do processo do ensino e aprendizagem se caraterizava de muito instável, devido às recorrentes greves que vinham afetando o nosso sistema do ensino público.

De um lado, o leque de questionamento sobre como enfrentar os desafios que tornassem esses projetos de criação das Universidades viáveis e sustentáveis parecia assustador, sobretudo, para aqueles cujas convicções se assentavam na teoria de ver para crer.

No contexto em que o nosso país se encontrava em termos de indicadores socioeconómicos do ranking internacional, as indagações que sustentavam os argumentos dos céticos, pareciam ter encontrado o ambiente propício que justificasse o ceticismo. Pois, elas se focalizavam em aspetos estruturais que recorrentemente desafiavam os países em desenvolvimento, tais como: universidades na Guiné-Bissau, como? Com que infraestruturas? Com que corpo docente nacional? Que grades e unidade curriculares adotar? Como seria possível alcançar a eficiência, eficácia e a excelência? Como garantir a sustentabilidade? Entre outras questões.

Mas, doutro lado, o de perseverança, onde agregavam aquelas cujas convicções se embasavam em teorias de que tudo é possível, vislumbrava a confiança e a convicção de que era possível, e, por conseguinte, poderia ser viável e sustáveis os projetos de institucionalização das Universidades.

Do ponto de vista da dialética, as referidas preocupações e opiniões que a primeira vista parecem bipolarizadas, fazem parte e devem sempre nutrir qualquer processo evolutivo das civilizações, culturais, institucionais e públicas de qualquer sociedade que se pretende democrática.

Pois, do princípio de contraditório, na conceção progressista, sempre há espaço para renovar e reajustar com vista alcançar o sucesso.

Outrossim, ainda que consciente das inquietações dos céticos nessa altura, esse princípio de contraditório focado na visão progressista, parece ter animado e nutrido as aspirações daqueles que acreditavam que era possível instituir as Universidades e ensino superior na Guiné-Bissau, fazendo recurso às capacidades e potencialidades nacionais.

A persistência e perseverança focadas numa perspetiva calorosa de enfrentamento e de espírito de remoção gradual de todos obstáculos que pudessem aparecer no decurso dessa caminhada, transformaram progressivamente o sonho em realidade. Pois, hoje temos as Universidades no país, e dia após dia, o recurso e a demanda a elas e às instituições do ensino do país têm aumentado substancialmente.

Na nossa perspetiva, esse fato, por lado, tem contribuído muito para baixar a pressão e tensão social que poderia derivar da eventual falta de oferta de bolsas de estudo aos jovens por parte de sucessivos governos da Guiné-Bissau, e, por outro, tem ajudado os mesmos a suprir as tremendas dificuldades em matéria de aquisição de quadros técnicos superiores qualificados com que se têm defrontado ao longo desses anos, disponibilizando sempre para o mercado do emprego nacional, os referidos quadros para seu usufruto através do concurso público como previsto pela lei.

Estamos convictos que valeu a pena ter aceitado a aposta. É sempre bom apostar. Apostar quando se sonha, apostar quando se concebe projetos, apostar sobretudo, com a convicção e autoestima.

Pois, quem aposta com esses propósitos raramente falha.

Para sermos coerentes, pensamos hoje que ninguém pode e deve subestimar o mérito das Universidades e das instituições do ensino superior do país. Isso, pela sua capacidade de produção de conhecimento e de formação de quadros.

Portanto, apostar com a convicção de vencer, deve fazer parte do exercício quotidiano de cidadania que todos cidadãos dignos deste país devem encarar com seriedade.

Por fim, terminamos com um instigante repto ao Estado. O Estado somos nós (público e privado) deste maravilhoso país. O Estado tem a obrigação de apostar nas Universidades e nas instituições do ensino superior público e privado do país, criando condições apropriadas para que elas atinjam sempre excelência almejada.

Bissau, 28 de Abril de 2023.

O Magnifico Reitor,

Prof. Doutor Rui Jandi

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