Os pacientes com problemas de catarata demonstram-se preocupados em relação à dinâmica dos trabalhos e qualidade do pessoal médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital Nacional Simão Mendes, razão pela qual, mesmo com a isenção das operações de catarata, pelo Governo, os doentes não aparecem.
As revelações de Rosa da Silva e Mussa Baldé, pacientes com problemas de catarata, foram ouvidas no âmbito de uma reportagem feita pelo Nô Pintcha.
Rosa da Silva afirmou que soube da decisão do Governo em isentar a remoção de cataras, mas tendo em conta a falta de um seguimento rigoroso dos pacientes pós operação, associados à falta do pessoal qualificado nesta área constituem motivos que a levou a desistir da cirurgia.
Ela explicou que padece de catarata em estado avançado e que precisa rapidamente operar, mas como não está em boa condição financeira, simplesmente não tem como fazer.
Por sua vez, Mussa Baldé, um idoso de 67 anos de idade, outro paciente, disse que conseguiu remover a sua catarata com o dinheiro que recebeu da Segurança Social, pelo que hoje está sem dinheiro e com fome, mas tranquilamente saudável sem problemas de vista.
Baldé afirmou que a ideia de os pacientes procurarem tratamento em Ziguinchor deve-se à ausência de responsabilidade e determinação do pessoal médico nacional para com os doentes.
Falando a nossa reportagem, o chefe do Serviço de Oftalmologista do Hospital Nacional Simão Mendes (HNSM) assegurou que o serviço está a prestar atendimento de rotina aos pacientes, e isto não revela o aumento de pessoas com catarata no país. “Isto porque o problema de catarata tem a ver com a idade e não uma doença contagiosa, pelo que não se regista aumento nenhum”.
Meno Nabicassa lamentou o facto de a população não comparecer para consultas e consequentes operações de catarata, mesmo com a decisão do Governo em isentar cidadãos com esse problema.
Pediu aos cidadãos a comparecerem para o tratamento, porque catarata, segundo ele, tem período em que deve ser removida caso contrário a pessoa pode correr o risco de perder a visão.
‘Falsos’ especialistas
Entretanto, Nabicassa revelou que o Serviço de Oftalmologia tem quatro médicos oftalmológicos, sendo três na aposentação, incluído ele mesmo que ainda reforça a nova equipa interessada e que para já, também, apresenta o cansaço. Aliás, os referidos médicos deparam-se com falta de aparelho de anestesia-geral.
“Naquele serviço quase 10 crianças dão entrada durante semana, para cirurgia de trauma ocular, principalmente nesse período de caju, provocado pela busca titânica de manga entre si. Um serviço cujo tratamento requer aparelho de anestesia-geral”, informou Nabicassa.
O médico oftalmologista mostrou que, se o caso da trauma ocular for num adulto, torna menos complicado, e nesse caso pode-se fazer anestesia local.
Contudo, destacou a vontade e a dinâmica que a equipa jovem está a demonstrar no serviço, pelo que precisam de técnicos especializados.
Aproveitou a ocasião para deplorar o facto de muitos profissionais usufruem do título de especialista quando na prática não são. “Isso se recebe gradualmente com o exercício da profissão, e da outra forma pode não dar certo”, acrescentando que em outras profissões pode ser aceitável, mas na medicina é arriscado.
Afiançou que a maior unidade hospitalar do país tem médicos especialistas, mas com a falta de aparelho de anestesia-geral, pelo que não podem prestar esse serviço, porque o aparelho de que dispõem não é adequado.
“Nessas condições de falta de aparelhos adequados para as patologias, todos os serviços ficam paralisados”, justificou Meno Nabicassa.
Em relação ao interior do país e a manutenção dos aparelhos nas regiões, lamentou a situação, contudo, garantiu que o próximo plano vai ser para a operacionalização dos materiais ali colocados, tendo alertado sobre os custos (deslocação e subsídio da equipa de manutenção do HNSM).
“Nesse período de mangas e caju o serviço regista grande afluência de crianças, para o tratamento de trauma ocular, situação que requer tratamento antecedido de anestesia-geral, ao contrário do adulto que pode ser submetido a anestesia local, devido à maturidade e da gravidade da causa”, explicou.
No que concerne aos materiais de trabalho, o responsável disse que tudo vem da oferta dos países amigos, cujo prazo de validade é de um ano, e fim desse período não servem para a cirurgia.
Assegurou, finalmente, que no quadro de acordo com a União Europeia, o serviço da oftalmologia beneficiou de aparelhos e pessoal técnico preparado, mas lamentavelmente acabaram por deixar de funcionar devido aos pequenos problemas técnicos que poderiam ser ultrapassados localmente.
“Os aparelhos de microscópio que havíamos montado nesses lugares, os faróis acabaram por fundir, por falta de corrente elétrica estável, e não podem funcionar”, revelou Meno Nabicassa.
Julciano Baldé