Doravante, os atletas guineenses de todas modalidades desportivas não correm riscos maiores de saúde com as práticas de atividades desportivas e físicas.
Tudo porque a Guiné-Bissau já conta com uma clínica de medicina desportiva (MED SPORTS BISSAU), ou seja, Guiné-Bissau mais saudável cujo programa denomina “Bin Nó bai”. Essa clínica irá assegurar o diagnóstico antecipado a todos os praticantes de atividades desportivas antes de iniciarem os exercícios práticos.
A informação foi avançada, em entrevista exclusiva ao Nô Pintcha, pelos promotores da iniciativa inovadora no país, respetivamente o fisiologista desportivo brasileiro, Paulo Lopes, na qualidade de coordenador operacional da clínica e o médico guineense, Valeriano Vieira Có, diretor-geral da referida clínica.
Os dois responsáveis descreveram durante a entrevista a missão principal dessa clínica e a sua importância para a sociedade guineense em geral, enaltecendo que, a Guiné-Bissau é o segundo país africano, depois da África de Sul a dispor deste projeto de saúde humana e será o pioneiro para os restantes países do continente negro.
Segundo os entrevistados, a institucionalização desse projeto deve-se às demandas de necessidades do país em diagnóstico da saúde em geral. Os principais beneficiários desses novos serviços medicinais serão os pacientes com problemas de doenças crónicas, como hipertensão arterial, diabetes e cardiovasculares.
Além dos pacientes dessas enfermidades, a clínica vai beneficiar também as crianças, os idosos, os jogadores da nossa seleção, jornalistas, militares, funcionários públicos, enfim, toda a sociedade.
Especificamente, as intervenções consistirão em tratamento de lesões, análise e orientação antes do início da atividade, física, avaliação física completa e o diagnóstico do tipo ideal do desporto, para cada pessoa de acordo com biótipo, recomendações sobre hábitos de vida e alimentação saudável, pesquisa e controlo de novos métodos de treinamento desportivo. Isto porque qualquer pessoa precisa de se diagnosticar antes de praticar qualquer atividade física ou desportiva para apurar se deve ou não praticar tal exercício.
Eís na íntegra o teor da entrevista
Nô Pintcha – O que motivou a institucionalização da clínica de medicina desportiva na Guiné-Bissau e qual é a sua missão principal?
Paulo Lopes (PL) – Primeiramente, existe grande demanda de necessidades na Guiné-Bissau sobre o diagnóstico da saúde pública. A medicina desportiva é uma área também da saúde pública.
O que nos motivou a mover esse programa para a Guiné-Bissau é para responder com as demandas, visto que não há serviços de medicina desportiva no país a exemplo de vários países do continente africano, exceto a África do Sul. Esse facto nos influenciou bastante a institucionalizar clínica desportiva no país.
Também, a atividade física é importante para a prevenção e tratamento de várias doenças crónicas que afetam a saúde humana.
NP – Qual é a importância dessa clínica e como ela vai funcionar?
PL – Como acabei de referir atrás, ela tem muita ligação com o tratamento das doenças em geral. Muitos praticantes de atividades desportivas no país não fazem avaliação e/ou diagnóstico de exercício de acordo com as necessidades de prática desportiva antes de iniciarem os exercícios. Mas, isso é recomendável por regra que qualquer pessoa, antes de praticar uma atividade desportiva, deve fazer diagnóstico para saber se o seu estado de saúde lhe permite praticar tais exercícios.
Existem muitos exames e protocolos de atuação que vão ser criados de acordo com as necessidades dos atletas do país, baseados nos protocolos internacionais já desenvolvidos e stande rizados.
NP – Ao instituir uma escola dessa natureza, que grupo alvo tem focalizado, ou seja, quem serão os principais beneficiários da sua ação?
Valeriano Vieira Có (VVC) – Focalizamos todas as camadas da sociedade, jovens, crianças, adultos e idosos. Os principais beneficiários serão os pacientes com problemas de doenças crónicas como hipertensão arterial, diabetes e cardiovasculares. Com essa medicina preventiva agora vai minimizar os custos para os pacientes que gastam tanto na aquisição de medicamentos anualmente.
O próprio país vai beneficiar muito com essa medicina inovadora, porque vai reduzir gastos na importação de medicamentos para as doenças acima referenciadas.
Além dos pacientes dessas enfermidades, a clínica vai beneficiar também as crianças, os idosos, os jogadores da seleção nacional, os jornalistas, funcionários públicos, enfim, toda a sociedade guineense vai beneficiar com essa medicina desportiva.
NP- Quais as áreas de atendimento dessa clínica em termos de medicina humana e o que pretende resolver?
VVC – Como acabei de citar em cima, os principais beneficiários serão os pacientes de hipertensão, diabéticos, pessoas com problemas cardiovasculares. Estas serão as áreas em que centram os atendimentos, embora possam ser alargadas também para outras. E, com essa clínica de medicina desportiva, queremos prevenir problemas para os praticantes de atividades desportivas que vão beneficiar de diagnósticos antecipados para apurar o estado de saúde de cada um e saber se está ou não apto a praticar determinada atividade física.
NP- Quais as condições de acesso a esse novo serviço clínico?
VVC – Desde que haja apoio da parte do Governo e de alguns organismos internacionais, o acesso aos nossos serviços será gratuito, porque mesmo um pobre pode participar no exercício. Portanto, vamos pedir apoio dos organismos como Nações Unidas, OMS, Ianda Guiné, entre outros, e próprio Governo para assim podermos garantir um atendimento gratuito aos utentes que irão solicitar os nossos serviços.
NP – Que colaboração existe ou existirá entre esta clínica com os serviços sanitários e as autoridades desportivas do país?
VVC – O nosso principal objetivo é ser parceiro do Governo, através dos Ministérios da Saúde Pública e dos Desportos, pois, são duas instituições parceiras que elegemos. Por outro lado, queremos apoiar os nossos atletas a diagnosticarem antes de iniciarem atividades desportivas e, também, ajudar os pacientes que vivem com as doenças crónicas que acabei de citar atrás.
NP – Em quantos países da África está presente esta escola clínica desportiva?
PL – O único país do continente africano que tem iniciativa com essa filosofia é a África do Sul com o programa americano de medicina desportiva, denominado exercício remédio. A África está sendo agora beneficiada dessa iniciativa com a Guiné-Bissau como pioneira dessa ação no continente, através de um programa denominada “Guiné-Bissau mais saudável” que está dentro da clínica desportiva.
O programa no país será denominado “Bin Nó bai”, convidando a população, tanto excedentários, as pessoas com patologias ou não, atletas, jornalistas, funcionários das instituições públicas e privadas, comerciantes e todos os interessados para participar no programa de uma maneira planejada, através de bons diagnósticos, coordenados por Dr. Valeriano Vieira Có.
Também a clínica contará com a colaboração de outros médicos, outras clínicas e laboratórios que fazem diagnósticos e exames cardiológicos, para completar a diagnosticação dos seus utentes.
NP – A Guiné-Bissau é o país pioneiro dessa iniciativa. Como pensam expandir essa ação para os restantes países do continente africano?
PL – Temos uma concessão de um espaço no Bairro Militar, em Bissau, com uma área de 30 mil metros quadrados (60 talhões) para um período de 15 anos para construção de um centro de excelência para a atividade desportiva e de referência para a medicina desportiva que será a sede central para a África que vai receber todos os países que estarão a interessar nesses serviços. O contrato de concessão desse espaço já foi assinado com a instituição responsável, nesse caso a Igreja Evangélica que cedeu o local.
Há já interessados de Cabo verde e Gambia que manifestaram e vou viajar nos próximos dias para esses países para acertar alguns detalhes de participação deles.
NP – O que é que os guineenses, particularmente os praticantes de atividades desportivas podem esperar dessa clínica?
PL – Podem esperar um serviço de alta qualidade e atendimento profissionalizado para responder as suas necessidades. Pois, uma pessoa não deve e nem pode pensar só em praticar desporto sem previamente diagnosticar-se para saber do seu estado físico e sanitário. A Guiné-Bissau, como vários países do mundo tem incidência grande de mortes por cardiopatia. É a doença que mais mata no mundo. Só que não temos aqui diagnósticos que pode prevenir ou proteger o utente que vai participar.
Mas, a partir de agora com essa clínica desportiva que irá efetuar diagnósticos especializados, vamos poder inscrever as pessoas com segurança, indicando-as o melhor exercício a fazer. As equipas do país vão poder ter melhor diagnóstico na área desportiva. Eu faço esse trabalho no Brasil há mais de 37 anos e conheço muito bem a área e o Brasil é o país exponente mundial da medicina desportiva.
Temos um modelo muito grande com a experiência do Brasil que é aplicável também aqui na Guiné-Bissau, pois, esses dois países têm muita similaridade.
NP – A prática desportiva não se limita apenas em jogar futebol. Existem outras formas de prática que as pessoas desenvolvem como forma de prevenir e/ou combater doenças. Como a clínica pensa orientar as pessoas para tirar maior proveito dessa clínica?
VVC – O objetivo da clínica não é só beneficiar os praticantes do desporto, mas sim, para ajudar a população guineense em geral a prevenir contra as doenças, principalmente as doenças cardiovasculares e diabetes.
É nessa ordem que vamos divulgar esse projeto para todos os jovens, idosos, jornalistas, funcionários públicos, bancários, militares, enfim, toda a camada da sociedade.
Queremos conectar a medicina desportiva com os militares, porque pelos vistos a classe castrense não tem esse serviço de diagnóstico para saber se uma pessoa é apta ou não para o serviço militar.
NP – Com que meios e recursos humanos vai funcionar essa clínica?
VVC – Neste momento estamos a trabalhar com recursos próprios para mostrar os parceiros que estamos interessados e empenhados em desenvolver esse projeto. Vamos dirigir cartas aos organismos internacionais e algumas instituições do Governo para abraçarem e apoiarem essa iniciativa. Estamos a esforçar internamente na afirmação do projeto, aguardando o apoio dos seus parceiros. Mas em toda a nossa ação, contamos muito com a comunicação social para nos ajudar divulgar essa iniciativa.
NP – Como foi a instalação desse projeto na Guiné-Bissau e qual tem sido a colaboração das autoridades nacionais?
PL – Qualquer iniciativa conhece certas dificuldades para se afirmar. Felizmente, conheci o Dr. Valeriano Vieira Có na altura que estive a planejar esse projeto. Desde então, ele disponibilizou-se e abraçou a iniciativa e estamos a trabalhar, e a maior dificuldade é a comunicação nessa fase de implantação do projeto, sobretudo para o público.
Mas estamos a contar com a comunicação social como vetor fundamental para divulgação de informações e temos outros meios como site e redes sociais para podermos difundir a iniciativa.
Quero salientar que, a medicina desportiva é atualmente uma área na medicina de referência mundial, devido ao apoio da federação internacional de medicina do Esporte /FIMS). As áreas de estudo dessa especialidade são especificamente tratamento de lesões, análise e orientação antes do início da atividade, física, avaliação física completa e o diagnóstico do tipo ideal do desporto, para cada pessoa de acordo com biótipo, recomendações sobre hábitos de vida e alimentação saudável, pesquisa e controlo de novos métodos de treinamento desportivo.
Djuldé Djaló