Apesar dos esforços das autoridades sanitárias do país com o apoio dos parceiros, ainda na Guiné-Bissau, à semelhança de vários países, a situação das doenças continua constituir uma preocupação e um desafio a superar.
Em entrevistas simultâneas ao Nô Pintcha, a diretora do Centro de Epidemiologia/INASA, Sidónia Vieira e o responsável do Sistema de Informação Sanitária do Centro de Epidemiologia do INASA, Salomão Mário Crima, avançaram com alguns dados estatísticos epidemiológico comparativos sobre casos e óbitos de algumas efermidades/doenças no país que cobre o período 2020 do primeiro semestre de 2022.
Os dados relativos à hipertensão, diabete, tuberculose, VIH-SIDA e paludismo foram revelados por Salomão Mário Crima, baseando na plataforma DIHS2 (District Health Information 2), que é a base de dados oficiais do Ministério de Saúde Pública. Sendo que os dados da COVID-19 e outros aspetos do funcionamento do Centro de Epidemiologia foram abordados pela diretora do serviço, Sidónia Vieira.
De acordo com aquele responsável de informação sanitária, a diabete diminuiu ligeiramente. Em 2020 registaram-se 694 casos e 122 óbitos, e em 2021, 598 casos e 115 óbitos. Até final do primeiro semestre de 2022 registam-se 164 casos de diabete e 32 óbitos com tendência de ser mais ligeira até final do ano.
Igualmente, a hipertensão também apresenta ligeira diminuição, tendo sido registado em 2020 11.884 casos e 175 óbitos. Em 2021, registou-se menos casos, ou seja 10.765, mas, subiram o número de óbitos para 355 mortos. Já no primeiro semestre de 2022, foram registados 4.841 casos e 81 óbitos.
No que concerne ao paludismo, em 2020 registaram-se 142.529 casos e 336 óbitos. Em 2021 este número aumentou significativamente com registo de 176.539 casos e 462 óbitos.
Relativamente à tuberculose, em 2020 foram registados 2.561 casos e 289 óbitos. Em 2021 registaram-se 2.490 casos com 242 óbitos, o que representa uma ligeira diminuição.
O VIH-SIDA, como sendo uma doença crónica, tem particularidades em casos de prevalência, e em termos de tratamento apresenta ligeira redução, aliás, em 2020 registaram-se 18.451 casos com 400 óbitos e em 2021 foram registados 17.609 casos, mas com aumento de número de óbitos para 614 mortos.
De acordo com o responsável do Sistema Nacional de Informação Sanitária do INASA, estes dados são sujeitos a revisão e são gerais não especificados por região sanitária.
Questionado sobre as zonas do país com maiores casos das doenças acima referidas, aquele médico disse que é difícil decifrar as incidências de casos, devido, em parte, a não atualização do censo populacional há mais de 12 anos. Pois, a comparação da incidência tem que ter em conta o número de população de cada região, onde uma pode apresentar mais casos mas com maior número de população em relação a outra região que possa ter menos casos mas com menor número da população, representando assim maior número de casos em termos proporcionais
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Causas de doenças
Falando das causas e origens das diferentes doenças referenciadas, o responsável sanitário explicou que no caso do paludismo é do conhecimento público, a causa principal tem a ver com picadas de mosquitos. Mas, o problema maior está relacionado ao fraco saneamento básico que contribui na propagação de doenças e no caso das águas paradas onde crescem os mosquitos.
Relativamente à hipertensão, Salomão Mário Crima disse que 90 por cento é provocado por causas inexplicáveis, daí a importância de realização de autópsias para descobrir razões de mortes súbitas.
Atualmente, registam-se várias mortes repentinas muitas vezes relacionadas à paragem cardíaca, hipertensões, enfim, geram muitas explicações.
Mas, só autópsias pode determinar as causas reais das mortes, por isso, o técnico sanitário realça a necessidade de ser priorizada a parte curativa, assim como a parte preventiva.
Em relação à tuberculose e VIH/Sida, Crima disse que estas doenças são consideradas oportunistas, mas no caso de VIH tem a ver com o comportamento inter-pessoal. Ela é uma doença que pode ser transmitida através de objetos cortantes contaminados, relações sexuais desprotegidas, enfim, muito sensível.
Essas duas doenças são sensíveis, sobretudo nas pessoas com baixa imunidade, com mais probabilidade de contrair doenças.
Contudo, o técnico reconhece os esforços do Governo com apoio dos parceiros na melhoria da situação sanitária nacional e sublinhou a necessidade da população acatar os conselhos dos serviços sanitários, para a prevenção das doenças.
Situação do COVID-19
Por seu lado, a diretora do Centro de Epidemiologia/INASA, Sidónia Vieira revelou que até a altura da realização desta entrevista, dia 5 do corrente mês, o país registava 149.495 pessoas casos testados com PCR. Destes, 8.498 testaram positivos, sendo 8.309 recuperados, 8 ativos, 175 óbitos e 500 hospitalizados. Em termos de género, os homens lideram a lista dos que testaram positivo no país com um total de 4.711 casos e mulheres com 3.787 casos, revelou a diretora, acrescentando que dos 439 testes da amostra realizados na última semana, apenas quatro positivos, oito recuperados, zero óbitos e hospitalizados.
Em termos de idade a faixa hetária entre 25 a 34 anos de idade representam maior número de casos com incidencia maior no sexo masculino. Seguido da faixa etária de 34 aos 44 anos de idade, também com maior incidência no sexo masculino.
Outro aspeto revelado pela diretora relaciona-se com os casos de COVID-19 nas crianças menores de um ano que, segundo ela, foram testados 50 casos positivos, sendo 19 de sexo feminino e 31 masculino. Este número apresenta como ínfimo, mas deve constituir motivo de preocupação, uma vez que sendo uma doença de carater de propgação via respiratória e as crianças nesta idade mantém contato permanente com seus pais, pelo que apresentam riscos de contaminação, devido à falta de cuidados.
Indo na situação atual de COVID-19, nessa última semana epidemiológica foram feita 439 amostras, das quais quatro positivos, oito recuperados, zero óbito e zero hospitalizado. Desta amostra, o setor autónomo de Bissau lidera a lista com 389 testes, Quinara com quatro.
De acordo com a diretora, os testes estão mais ligados aos viajantes, que representam maior número de testes da última semana, sendo 26 relacionados com doentes que procuraram serviços hospitalares e seis de exames de controlo.
Entretanto, a diretora, sustentando a sua tese nos dados estatísticos revelados, disse que a COVID-19 continua ser uma preocupação no país, requerendo por isso a continuidade das medidas de prevenção e controlo para atenuar os riscos ainda persistentes.
Isso passa necessariamente pelo reforço das campanhas de seguimento e sensibilização da população sobre as medidas de prevenção para a mudança de comportamento, atitudes e práticas da população.
Dificuldades e proposta de soluções
Apesar da missão dos serviços da epidemiolgia centrar-se em garantir o bem-estar da saúde da população em geral em colaboração com o INASA, enquanto tutela direta do Centro de epidemiologia.
Porém, disse que os serviços da epidemiologia deparam com enormes dificuldades, sobretudo de ordem logística para cumprir cabalmente a sua missão e responsabilidades, argumentando que a vigilância epidemiológica tem particularidades que exige meios para dar resposta adequada e em tempo útil. Isto é, necessita de meios de transporte, equipamentos informáticos e boa qualidade de internet, para a introdução, tratamento e análise de dados recolhidos pela vigilância epidemiológica, de forma a permitir a tomada de decisão com base nas evidências.
Contudo, enalteceu os esforços do Presidente do INASA que, segundo ela, está empenhado na busca de fundos para apoiar o funcionamento do centro, para o cumprimento da sua missão.
Sidónia Vieira sublinhou que em termos de recursos humanos, o seu departamento conta com técnicos qualificados, embora em número limitado, isto porque alguns, por razões de saúde, estão em convalescença, outros, devido à situação financeira optaram por outros empregos melhores e alguns emigraram em busca de melhores condições de vida.
Para superação dessas dificuldades, a diretora apela a adoção de uma linha orçamental, no quadro do Orçamento Geral de Estado para apoiar o funcionamento dos serviços de vigilância epidemiológica nacional e criar a política para retenção de quadros.
Sidónia Vieira revelou que, atualmente, têm uma abordagem do Centro de Controlo de doenças dos Estados Unidos (CDC Atlanta) – FETP, que é uma estratégia de reforço de vigilância em saúde pública voltada ao treinamento dos profissionais de saúde no domínio de epidemiologia de campo. Neste âmbito, o INASA, por meio do FETP, capacitou, no período 2016 a 2022, um total de 208 profissionais no domínio do FETP básico (Linha de Frente), entre eles médicos, enfermeiros, epidemiologistas, técnicos de laboratório, estatísticos, técnicos e médicos veterinários, sociólogos, parteiras etc.
Esses profissionais estão distribuídos em áreas sanitárias, direções regionais de saúde, INASA, Programas e Serviços do Ministério de Saúde, Hospital Nacional Simão Mendes, hospitais regionais, Saúde Militar, clínicas privadas e Direção Geral de Pecuária.
Está decorrer desde 1 de agosto de 2022, com a data termino prevista para 17 de março próximo, a primeira turma do FETP do nível intermediário composta de 19 treinandos
No âmbito desta abordagem, Sidónia Vieira disse que foram treinados 198 profissionais de saúde e o centro continua ainda com ações de fortalecimento do sistema. Também, no quadro do REDISSE regional, através de OOAS, foram realizadas ações de fortalecimento do sistema de vigilância contínua, envolvendo técnicos de diferentes setores como pecuária, floresta, ambiente e guarda portuário.
A diretora reconhece os esforços do governo em dar resposta atempadas as situações de emergência, através de tomada de decições, mas realça necesside de reforço da capacidade institucional do centro epidemiológico, através de afetação de meios logísticos e equipamentos informáticos.
Medicamentos
Questionada sobre a qualidade de medicamentos vendidos no país Sidónia disse que não pode avaliar, mas o certo é que rumores apotam que não são de boa qualidade. Contudo, disse que cabe aos serviços de inspeção do Ministério da Saúde pronunciar sobre esta questão.
Não obstante, critica a forma como é comercializada medicamentos nos diferentes mercados em condições e lugares inapropriados que pode afetar mesmo a qualidade de medicamentos.
Numa opinião partilhada, os dois técnicos sanitários entrevistados lamentam as dificuldades com que os seus departamentos tutelados pelo INASA deparam, sobretudo no que concerne aos meios materiais, para o funcionamento eficiente dos serviços. Destacam caso de computadores e a boa capacidade do internet, aliado aos meios de mobilidade, porque é um serviço de terreno e gabinete, ou seja recolha de informações, processamento, tratamento, análise e filtração de dados para organização de informações a ser submetido aos responsáveis máximos.
Perante esta situação, tanto a diretora do Centro de Epidemiologia, Sidónia Vieira, como o responsável de Sistema Nacional de Informação Sanitária, Salomão Mário Crima, defendem a necessidade de dotar esses serviços com meios materiais necessários capaz de garantir o seu normal funcionamento para cumprirem com as suas obrigações.
Djuldé Djaló