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50 Anos do NP: “Panorâmica sintética da origem do nome, criação e mandato”

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No quadro das celebrações do seu 50º aniversário, o Nô Pintcha republica na íntegra as intervenções tidas na palestra realizada no passado dia 25 de Março, tal como se segue:

Sob o lema “Percurso histórico do Nô Pintcha e desafios da actualidade”, estamos aqui hoje para, em conjunto, refletirmos e partilharmos opiniões sobre os 50 anos de vida do Jornal de Estado da Guiné-Bissau.

É um ato importante para o país, para o Estado, para a Comunicação Social e, obviamente, para todos os trabalhadores do Nô Pintcha e seus respetivos leitores. Assinalar este evento com palestra significa recordar uma longa caminhada na construção de um órgão de informação público, de uma sociedade de paz, de justiça e de progresso.

Aproveito esta ocasião para, antes de mais, agradecer a Direção atual do jornal pela organização dessa palestra e, simultaneamente, pelo convite a que me foi endereçado, como “filho prodigioso” da casa, para falar do tema: “Panorâmica sintética sobre a origem do nome do jornal, sua criação e mandato”.

Como podem saber, sendo fruto profissional do Nô Pintcha, a minha tese de fim de curso superior de jornalismo, em 1996, na Universidade Estatal de Voronej, Federação da Rússia, foi dedicado ao tema: “Jornal de Estado da Guiné-Bissau “Nô Pintcha” (Avante) – sua história e tipologia”.

Antes, porém, gostaria de ressaltar que assinalar 50 anos de vida de um jornal impõe recordar um corolário de acontecimentos que marcaram a história positiva e negativa de um país, de um Estado e de um povo em geral.

E feliz coincidência! O dia de criação do Nô Pintcha, quinta-feira 27 de Março de 1975 coincide também com a quinta-feira 27 de Março de 2025, dia em que se assinala o quinquagésimo aniversário deste jornal histórico da Guiné-Bissau.

Para não me fugir do tema, o nome do jornal Nô Pintcha tem a sua origem na expressão dos valorosos guerrilheiros da luta heróica do nosso povo pela libertação nacional, sob a égide do PAIGC, que lhes servia de consolo em momentos de pesados sacrifícios. Era também uma expressão de encorajamento entre os mesmos combatentes para a defesa dos ideais da luta pela independência de dois países irmãos, a Guiné e Cabo Verde. “Nô Pintcha, camaradas!”, assim era a expressão.

Com um valente Combatente da Liberdade da Pátria a frente do Subcomissariado de Estado de Informação e Turismo, do primeiro Governo Constitucional da República da Guiné-Bissau, o Camarada Manuel dos Santos (vulgo Comandante Manecas) não foi difícil atribuir esta expressão ao jornal do Estado que acabara de nascer, também dirigido por outro combatente, saído de Conacri, o Senhor Carlos Lopes.

No seu primeiro editorial, refere-se que nas vésperas da conquista da independência de Cabo Verde, o Estado da Guiné-Bissau “dá maior importância à informação”. Nesta sequência, o Nô Pintcha surge no quadro do esforço da reconstrução nacional como órgão de informação do Estado e simboliza o desejo do povo guineense em avançar cada vez mais, de construir na Guiné e em Cabo Verde uma Pátria africana una e próspera.

O Nô Pintcha, na altura, foi visto como instrumento que representa mais um passo em frente na marcha vitoriosa do nosso povo heróico, no caminho da edificação de um futuro de paz, de progresso e de felicidades.

O editorialista escreve que o Nô Pintcha tem o papel preponderante de promover a formação política e cívica dos nossos cidadãos, para contribuir para a formação do Homem Novo, consciente e patriota.

O jornal foi incumbido à dupla missão de informar e de levar a todos os cantos do país os princípios e as palavras de ordem do partido, o PAIGC, considerado na altura “força política e dirigente da sociedade”. Estas foram às linhas mestras de orientação do Nô Pintcha.

Como podemos notar, de um lado, o jornal tinha um forte pendor político, porque foi criado num período transitório de passagem de poderes, entre o colonizador e as novas autoridades patrióticas do país que pela via das armas e da diplomacia política derrotaram o colonialismo europeu. Aliás, com a proclamação da independência do país, a Guiné-Bissau decidiu romper com a dominação colonialista no que respeita ao monopólio ocidental não só no setor político e económico, mas também na área da cultura, em particular, na esfera dos órgãos da Comunicação Social.

A história nos demonstra que em cada etapa do desenvolvimento social, a ideologia do novo regime cria o seu sistema de órgãos de Comunicação Social, no sentido de conquistar e influenciar as ideias de largos grupos da sociedade.

Não é segredo que na Guiné-Bissau, depois da proclamação da independência o partido-estado, nas condições de sistema monopartidário, foi orientado para a formação de uma nova sociedade, com vista a lutar pela afirmação da nova ideologia, na reconstrução económica do país e na luta contra o analfabetismo. Isto deu a possibilidade para a criação da rádio e do jornal, orientando o seu trabalho na realidade africana. O país não tinha possibilidades técnicas, financeiras e de recursos humanos para criar os órgãos de Comunicação Social em correspondência com as exigências da atualidade.

Senhoras e Senhores!

A comemoração de um aniversário, sobretudo de um jornal, sempre tem algo de vivacidade e de lembranças para toda a gente que tornaram possível a história da instituição, além dos leitores, sua razão de ser e seu destinatário.

O Nô Pintcha foi criado num momento particular da vida da humanidade. Pois, ao longo da década precedente, muitos países da África, da Ásia e da América Latina tinham conquistado a sua independência e nesta altura o jornalismo jogou o seu papel crucial com um significado de força política na luta pela paz, democracia e pela nova ordem económica mundial e progresso social.

O Presidente da República e Chefe de Estado da Guiné-Bissau, Senhor Luiz Cabral, ao participar na celebração do primeiro aniversário do Nô Pintcha elogiou o caminho trilhado, tendo dito: «Queremos felicitar todos os camaradas por este trabalho sério que têm desenvolvido sem olharem para o tempo”. “Muitas vezes, só às oito horas da manhã é que saem do trabalho iniciado no dia anterior, para que não falte o jornal”. “Para todos estes camaradas vão as nossas felicitações calorosas, pelo seu grande esforço no domínio da informação, mantendo o nosso jornal em nível bastante aceitável neste seu primeiro ano de vida».

Ao desfolharmos as diferentes páginas do jornal podemos vertítulos interessantes e que dão a marca da história. Como exemplo, a própria manchete da primeira edição era o fim de um recolher obrigatório da população que o Comissariado de Estado da Segurança Nacional e Ordem Pública havia decretado; na página 2 escreve-se: acabou-se a especulação das rendas de casa! Nas páginas centrais é publicada a reportagem sobre a visita de Senhor Aristides Pereira a Cabo Verde antes da proclamação da sua independência e narra-se como ele foi recebido pelo povo cabo-verdeano.

No capítulo de informações diversas foram publicadas agendas, dentre elas os horários dos transportes aéreos nacionais (voos domésticos) e internacionais (Guiné-Conacri e Senegal) e a programação da Rádio Nacional. O jornal saiu sem alguma rubrica definida e era um trissemanário com a tiragem de 4.500 a 5.000 exemplares por edição, distribuído para todo o país, ao preço de dois escudos e meio.

Entretanto, passado o tempo, com o crescer do nível da instabilidade política no país e das dificuldades materiais, o Nô Pintcha vem enfrentando dificuldades e consequentemente entra em ruptura, não podendo sair nalguns meses, facto que o levou a virar para semanário. Não foi possível concretizar o sonho do Presidente Luiz Cabral, isto é, de transformar o jornal Nô Pintcha num diário. Mas, contudo, o jornal não se desviou do seu mandato, da sua linha editorial enquanto órgão público.

Com a mudança do sistema político nos inícios dos anos 90 do século XX, no qual o Estado tomou a medida de instaurar o sistema multipartidário, facto que fortificou o papel do povo na análise dos mportantes problemas do país, isto criou uma ajuda necessidade em comunicação ativa.

Por um lado, os partidos políticos que surgiram passaram a procurar apoio das largas camadas da população e, por outro, os próprios cidadãos se tornaram politicamente ativos, querendo a todo o custo influenciar na construção do sistema político, económico e social.

Perante o facto, os órgãos da Comunicação Social intensamente estimularam este processo. O jornal Nô Pintcha, por sua vez, prestou atenção a participação ativa do cidadão no processo da reconstrução nacional e nas diversas esferas da atividade política, económica, social e cultural do país.

Quadros formados em diversas esferas começaram a intervir nas páginas do Nô Pintcha com análises aprofundadas da vida pública da Guiné-Bissau e do seu povo, contribuindo com suas ideias para a consolidação da democracia multipartidária. É nesta linha de orientação que está indo o Nô Pintcha, sempre com a preocupação de vencer as crescentes dificuldades de funcionamento.

Muito obrigado pela atenção e feliz quinquagésimo aniversário ao Nô Pintcha!

Bacar Baldé

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