A cidade de Bafatá, a segunda capital do país, que deu a Guiné-Bissau altos dirigentes políticos e governantes de todo o tempo, está, há muito tempo, mergulhada na escuridão. A dificuldade de fornecimento da luz elétrica do Estado tornou-se muito preocupante. Praticamente, a situação arrasta-se desde altura do conflito político-militar de 7 de junho de 1998.
Conforme as informações reveladas por um técnico de Energia local, houve uma longa paragem da central elétrica. Mas, pela vontade e iniciativa dos seus próprios trabalhadores estes fizeram as suas diligências e a luz voltou a acender na cidade de Bafatá. A partir de 2019, devido a nomeações políticas, a central voltou a ter grandes quedas.
Na explicação detalhada do técnico Suandin Queba Dabó, antigo número dois da Direção Provincial da Energia, a central elétrica é uma componente puramente de serviço técnico, embora às vezes ela é anexada à componente política. No seu entendimento, muitas vezes essas nomeações têm sido motivo do fracasso do funcionamento da central e como resultado hoje tem-se muitos problemas, nomeadamente de grupos geradores, da rede elétrica que se viu atacada no corte de cabos por malfeitores, falta de efetivação e segurança social do pessoal com mais de 30 anos de serviço, entre outros.
A central elétrica de Bafatá conta neste momento com dois grupos geradores, fornecidos em 2019 pelo Governo de Aristides Gomes e desses, apenas um é que está operacional. Dado a falta de combustível, de momento Bafatá não tem luz elétrica do Estado. Em certas instituições e casas particulares que se alimentam com geradores privados ou painéis solares ali se acende a luz elétrica.
Suandin Queba Dabó diz que o custo do combustível e as tarifas que estão sendo praticadas em Bafatá, não permitem para que haja iluminação elétrica. O défice que se regista é grande e tem-se sempre problemas com os fornecedores devido ao pagamento do combustível.
De uma maneira geral, o eletricista entende que o Governo deve criar uma política estratégica para o funcionamento das centrais elétricas das regiões e não se preocupar apenas com a EAGB. “Do valor total que se atribui à EAGB se for retirado apenas 10 por cento e redistribuído às regiões poderemos funcionar”, disse. Este antigo responsável de energia sublinhou que numa central térmica (de gasóleo) como esta de Bafatá, é impossível que apenas com a receita dos consumidores se possa assegurar o seu funcionamento, realizar a sua manutenção e pagar o salário do pessoal.
Suandin incomodado com a escuridão da segunda capital do país, revelou que a população anda a criticar, porque as pessoas pensam que do pouco que pagam é suficiente para fazer funcionar uma central elétrica. Ele acha que o Governo deve apoiar o serviço de produção, pois sem esse, não haverá iluminação pública e nem poderá ser barata. “Nós aqui, um quilowatt custa entre 400 à 500 francos CFA, enquanto em Bissau é menos de 100 francos. Quando se gasta 20 milhões na produção, a faturação se faz em 15 milhões e a cobrança apenas arrecada 10-15 milhões de francos CFA significa que não há rendimento. Para isso o Governo deve reorganizar o Setor da Energia e valorize os técnicos; que ele, o Governo avalie as capacidades das centrais e saiba quais são as suas necessidades urgentes: gasóleo, geradores que precisam de manutenção e outros que necessitam de reparação”, demonstrou.
Consciente da má atuação dos malfeitores, o técnico Suandin Queba Dabó, afirmou que “a rede elétrica praticamente já não existe na cidade de Bafatá. Registamos intensos cortes de cabos por alegados malfeitores. Nalgum tempo atrás quando registamos que há um grande corte de cabos, nalgumas localidades resolvemos retirar alguns fios, colocamo-los noutros lugares para garantir a iluminação na cidade de Bafatá. E hoje nem temos fios connosco”.
Uma outra inquietação é que o custo atual de combustível para as centrais das regiões está fixado em 712 francos CFA o litro. Neste momento, Bafatá tem reduzido o número de consumidores para um pouco mais de 600 clientes, facto ligado ao fracasso no fornecimento da luz pública.
Gestão entregue a iniciativa privada
Suandin Queba Dabó confirmou que atualmente a gestão da energia elétrica na cidade de Bafatá está entregue a um privado, mas sem as mínimas condições. Segundo aquele técnico, para este privado relançar a corrente elétrica, ele precisa do apoio do Governo e dos técnicos de energia de Bafatá. O tal privado tem esperança nos seus parceiros e no banco. Mas contrariamente, Suandin pouco acredita que o banco poderá avançar-lhe um financiamento para, no espaço de três meses, relançar a rede elétrica e comprar o combustível para o funcionamento da central que está parado por dois motivos: falta de pagamento das requisições por parte do Ministério das Finanças e o custo elevado do gasóleo nas atuais condições do mercado. O novo empresário compra o gasóleo quase de igual preço que as viaturas. Com o preço de 712 francos, se não for mudada a tabela de venda de luz ele não poderá aguentar o custo de produção da energia.
Outra situação apontada por Suandin refere-se a falta de salário do Estado aos técnicos locais e estes sobrevivem graças ao rendimento do centro da energia. Os técnicos já em idades avançadas, não têm garantias da reforma e nem têm seguro de trabalho. Outro problema que o serviço técnico confronta é a falta de formação de novos técnicos e a reciclagem dos existentes.
Tendo em conta que a linha da barragem hidroelétrica de Kaleta está a vista, Suandin Queba Dabó entende que Bafatá necessita de ter técnicos preparados para esse serviço. “Temos medo de que amanhã, virão cá cidadãos estrangeiros para ocupar dos nossos serviços. Pensamos ser urgente que o Governo recrute jovens para dar formação nessa área e os técnicos atuais devem ser reciclados. Caso contrário, no futuro, o serviço da energia ficará dependente da sub-região”.
O fracasso do funcionamento da central elétrica está também ligado com aspetos burocráticos do Ministério das Finanças, instituição essa que efetua o pagamento das guias de remessa dos centros de produção para os facilitar o pagamento dos salários aos seus técnicos e proceder a manutenção dos grupos geradores.
Na conversa mantida com o Nô Pintcha, Suandin Dabó realçou que a falta de luz elétrica está a afundar as regiões e questiona: “Se a EAGB recebe 500 milhões, por que razão as regiões não podem receber apenas 100 milhões de francos CFA para o funcionamento dos centros de produção? As centrais estão a funcionar há 10, 15, 20 anos, como é possível ter rendimento com elas?”.
Extinção da Direção Provincial da Energia
Segundo o técnico, em 2020, o Ministério da Energia extinguiu a Direção Provincial de Energia que coordenava as regiões de Bafatá e Gabu. Essa direção tinha a equipa técnica de manutenção e reparação. Esta medida não foi aplausível e serviu de grande desmotivação aos técnicos locais.
Em relação ao roubo de cabos elétricos, o técnico confessou que houve pessoas detidas e ouvidas. O processo destes malfeitores seguiu para o Ministério Público, só que mais tarde eles foram postos em liberdade. “Ficamos muito indignados e fomos ao Ministério Público, mas não conseguimos falar com o delegado. Requisitamos junto ao Tribunal de Bafatá os cabos com os quais entendemos que podemos recuperar a rede nalgumas zonas da cidade. Tivemos informação de que os jovens que fizeram os cortes são menores de idade que por isso foram absolvidos. Isso para nós é complicado. O roubo de cabos afetou inclusive o hospital de Bafatá. E já que os fios de cobre estão na mira dos malfeitores, preferimos, doravante, que o Ministério da Energia diligencie o fornecimento de cabos de alumínio e aço”.
No seu ponto de vista, Suandin entende que é necessário que o Governo pense nas centrais do interior e, assim, com os homens que as farão funcionar. O Ministério da Energia deve pensar nos técnicos da província. A finalizar, ele disse que os cérebros da energia no Leste do país são os técnicos da central elétrica de Bafatá que inclusive apoiam na manutenção das centrais elétricas doutras regiões do país.
Operação policial para corte de cabos
O comissário da Polícia da Zona Leste do país, o coronel Saído Djaló confirmou ao Nô Pintcha que se regista a situação de cortes sistemáticos de cabos elétricos na cidade de Bafatá e de forma preocupante.
Desde a sua chegada à cidade de Bafatá, no último mês de dezembro, ele tem recebido várias queixas por parte da Direção Regional da Energia, do governador da Região de Bafatá e de vários outros populares sobre o corte de cabos elétricos.
“A Polícia foi dada a culpa de não colaborar nesse combate. Eu pedi a gente para nos darem tempo para elaborarmos o nosso plano de operação. Assim chamei o comandante da Esquadra de Polícia de Bafatá, traçamos um plano de curto e médio prazo para estancar o flagelo. Na execução desse plano prendemos 11 pessoas em flagrante delito, numa só noite, no bairro de Tunturum”, explicou.
O coronel Saído Djaló disse que alguns dos detidos tinham os cabos guardados debaixo das camas das suas mães e dentre eles apenas um é que tem completado os 18 anos, os restantes são de 16 a 12 anos. “Convocamos os pais e encarregados de Educação, o Governo Regional, a Direção Regional de Energia, o Parlamento Infantil e a Rede das Organizações Sociais em Bafatá e demos-lhes a informação. Instauramos o processo com as devidas provas e encaminhamo-lo para o Ministério Público”.
O comissário informou também que a Polícia prendeu um jovem no bairro Nema que cortou o maior cabo da rede e felizmente este foi fotografado como consta nesta publicação. Esse indivíduo não chegou de entrar na prisão 46 (de alta segurança) e o Ministério Público resolveu devolvê-lo à Polícia. Ele, por sua vez, podia ir catar água na fonte e dessa liberdade ele aproveitou-se do descuido do polícia e fugiu. Ele está a monte. Além dele, a Polícia voltou a prender mais cabos na rua Porto. Quando o malfeitor foi comunicado por alguém de que ali vinha a Polícia, ele pôs-se em fuga e os agentes da ordem só conseguiram recuperar o cabo.
“A situação é lamentável, pois constatamos que muitos pais, encarregados de educação e alguns populares não estão a ajudar. Entretanto, a operação policial continua. Neste período de chuvas, os malfeitores sempre se aproveitam quando cai a chuva eles saem para a operação de corte”, sintetizou.
Sensibilização às populações
Saído Djaló acha que será necessário alguma campanha de sensibilização junto das populações no sentido de pôr cobro ao corte de cabos, pois a sua instituição está arcada num novo sistema de policiamento. Em vez de ficarem a espera dos problemas que chegam a esquadra, os agentes policiais vão junto a comunidade procurar saber os problemas que inquietam a população.
Nessa ótica, o comissário Saído Djaló disse que a Polícia de Bafatá planeia desencadear uma ação de sensibilização nos bairros para dialogar com as comunidades e reportar os seus problemas. “A Polícia está na rua para permitir a população dormir tranquilamente e ter os seus bens com ela. A comunidade tem de compreender que o polícia é um irmão, é um amigo, etc., quer dizer na vertente do bom”, sublinhou.
O responsável máximo da Polícia no Leste do país, o coronel Saído Djaló, disse que tem a certeza de que durante o tempo em que as crianças malfeitoras foram detidas, elas perderam as suas aulas. Daí que a Polícia precisa de transmitir boas mensagens educativas para ajudar tais crianças entender que se não houver cabos elétricos, não haverá iluminação elétrica e consequentemente elas também não poderão estudar a matéria que os seus professores lhes passam.
Enfim, eis a imagem triste dos futuros dirigentes da Guiné-Bissau que a sociedade está a preparar.
Bacar Baldé