A história da cidade de Bissau é uma espécie de filme de ficção científica, surreal — algo estranho e bizarro –, capaz de afetar o nosso orgulho, identidade e autoestima de um povo de brandos costumes e hospitaleiro.
O centro da cidade de Bissau era em finais da década de 80 uma jóia, um ex-libris, noites de boémia, restaurantes com requinte, condições que potenciam a escolha encantam qualquer visitante. Quem por aqui vivia ou passava, Bissau brindava-lhe com o verde dos jardins, repleto de variedade de flores, relvas, palmeirinhas e acácias que tornavam o tempo mais tropical.
Um dos denominadores comuns entre a nossa diversidade cultural é o carnaval. Em Bissau, na mítica Avenida do Brasil, naquele tempo, a capital guineense virava um autêntico Sambódromo, ao rufar dos tambores, máscaras, trajes, meninas de trajes que dançavam até cair a noite.
Bissau fazia da sua pequenez um autêntico Postal de visita da África Ocidental. Gozava de estatuto de cidade limpa, bem iluminada, com monumentos históricos, derrubados após a independência. Uma capital atrativa pelo estilo da arquitetura dos edifícios e vivendas ao virar de cada esquina.
A baixa de Bissau passou de uma obra feita a régua esquadro para uma cidade em ruinas, edifícios a cair aos bocados, estradas e ruas esburacadas e sem detalhes para seduzir um turista.
Ancorada no estuário do Rio Geba, Bissau tem ao longo da sua superfície riachos, braços de rios, recortados por bolanhas e colorida por mangais ricos em reprodução de peixe. Havia na marginal de Porto de Pindjiguiti coqueiros, passeios a beira mar, e ao por do sol , gente que iam dar boas vindas aos navios que chegavam.
A mítica Praça de Império, que inspirou Justino Delgado, o Liceu Kwame Nkrumah, Clube de UDIB, Verbena da Mãe da Água –atual ANP –, entre outras eram zonas emblemáticos e de beleza incontornável para prender o olhar e atenção de quem deambulava pela cidade.
Assim sendo, nesta capital podia ser visto as peça que compunham a cidade, por exemplo, as famosas lojas de Casa Escada, Nunes Irmão, a Igreja Catedral ao estilo mediaval, loja de Ga Djugude, Casa Esteves, Picoli, Edificio do Banco Central, atual Finanças, Prédio Carlos Banco, Cadogo Pai, passando pela praça de táxi na rotunda da Baiana, entre muitos outros.
Guerra de 7 de Junho de 1998
Bissau há décadas parece na zona centro uma cidade que renasce das cinzas, escombros da guerra de 7 de Junho de 1998. Parou no espaço e no tempo, já há muitos anos em que viu crescer a sua população, construindo casas nos arredores sem espaços verdes destinados à escolas, aos centros de saúde e mercados.
Assiste-se agora uma explosão demográfica acentuada pelo êxodo rural e uma pressão de imigrantes dos países vizinhos que agravou mais a situação já de si precária em termos de plano de ordenamento.
Um dos cancros de Bissau é a falta de saneamento básico, agua potável, luz, tratamento dos residios sólidos, transito e conflitos na compra de terrenos.
Agora nos arredores de Bissau veem-se mansão de luxo, duplex, construções precárias bem acabadas e por acabar, mas onde não há esgoto, luz, ruas nem agua potável.
Homes Nicolau Quadé (ex-jornalista do semanário governamental)