A situação de carência de transportes terrestres e marítimos está a constituir uma dor de cabeça para os responsáveis sanitários, colocados em diferentes ilhas do Arquipélago dos Bijagós.
A essa condição, não escapam os centros de saúde de Orango e Uracane, onde o jornal “Nô Pintcha” esteve recentemente e conversou com os responsáveis das duas unidades hospitalares.
Em declarações exclusivas ao semanário governamental, o diretor do centro de saúde de Orango explicou que aquela zona situa-se longe da capital e depara-se com falta de transporte, para evacuação de doentes, constituindo “um grande handicap” para os seus serviços. “Só há transporte público uma vez por semana. O Parque Hotel nos apoiava nesse sentido, mas fecha as suas portas durante o período das chuvas e está totalmente parado desde a entrada de covid-19 ao país. O IBAP também dá apoios ao centro quando realiza viagens de rotina”, contou Brandão da Silva Djú.
Além disso, o enfermeiro disse que as 22 tabancas que compõem a ilha são distantes uma da outra e os técnicos sentem-se grandes dificuldades quando efetuam trabalho de rotina, sendo obrigados a deslocarem-se da única motorizada disponível.
Por seu lado, a responsável do centro de saúde de Uracane também apontou o problema de transportes como sendo uma das principais dificuldades. Djenabu Albuba Baldé adiantou que algumas aldeias distam mais de 16 quilómetros do centro e “há muitos sacrifícios” para os seus moradores chegarem ao mesmo.
Segundo ela, isso faz com que, por vezes, mulheres deem à luz pelo caminho e, depois, custa aos técnicos sanitários irem buscar esse paciente ou dar pelo menos os primeiros socorros. “Somos obrigados a usar a moto privada de um dos nossos funcionários para o efeito”, declarou, referindo que haviam moto carros, mas esses já não funcionam há mais de cinco anos.
Outra grande preocupação em Uracane tem a ver com a escassez de espaço no centro. É que, praticamente, todos os trabalhos são feitos numa única sala (as consultas, incluindo as pré-natais, atendimento de farmácia), exceto um pequeno quarto improvisado para o parto e que carece de ventilação. Não há condições para observação e acompanhamento de grávidas ou parturientes, de acordo com a explanação dos funcionários. Aliás, o “Nô Pintcha” constatou in loco essa realidade.
Embora “seja inadmissível”, Djenabu Baldé, no hospital há quase três anos, disse que são obrigados a pedir na vizinhança para um paciente, com cateto na mão, descansar e esperar para o seguimento.
Aquela enfermeira indicou que o centro atende todos os casos que aparecem e os que estão fora do seu alcance, recebem primeiros socorros e providencia-se para a sua evacuação a Bubaque ou Bissau. E a Guarda Nacional tem colaborado nesse sentido, ajudando na procura de piroga e motor, sendo os custos assumidos pelos familiares do paciente.
Diminuição de paludismo
A boa notícia nesses dois setores da Região de Bolama/Bijagós é a diminuição dos casos de paludismo que, nos últimos tempos, constituía um calcanhar de Aquiles para as autoridades nacionais.
Em relação a essa redução substancial tanto em Orango quanto em Uracane, as nossas fontes afirmaram que está relacionada com a habitual campanha de distribuição de tendas impregnadas (Milda), que decorre de três em três anos.
A esta associa-se ainda às campanhas de sensibilização sobre as medidas de prevenção levadas a cabo junto à comunidade, que contribuiu para a restrição de lixo perto de casa.
No entanto, o diretor do hospital de Orango deu conta que existem problemas de diarreia naquela área sanitária, devido à dificuldade de acesso à água potável na zona, onde não é fácil construir fontenários. “O centro de saúde tem um furo de água e decidiu abrir uma torneira para abastecer à população ao redor do centro, mas nem todos têm acesso, pelo que alguns são obrigados a apanhar água das lagoas”.
Brandão Djú disse que o problema respiratório é uma das doenças mais frequentes nessa época chuvosa, devido “aos trabalhos de campo e às mudanças climáticas”. Mas a chegada da covid-19 à Guiné-Bissau permitiu reforçar os pontos de vigilância, com cada um dos quatro Agentes de Saúde Comunitária (ASC) a trabalhar num eixo sanitário, em colaboração com as autoridades tradicionais.
Os centros de saúde
O que os dirigentes da saúda não queixam é a falta de medicamentos, visto que são abastecidos regularmente pela Direção Regional.
Mas em Orango, o enfermeiro chefe fala de certos problemas com a população, que já tivera hábito de receber remédios gratuitos para grávidas e crianças menores de cinco anos, então assegurado pelo Instituto Marquês Vale e Flor. No entanto, o projeto terminou desde maio passado.
Aponta também o défice de pessoal, pois os três enfermeiros são insuficientes para fazer face às necessidades de mais de 450 habitantesda ilha.
O centro de saúde de Orango dispõe de quatro salas: consultório, farmácia, maternidade e observação. A sua caraterística é do tipo C e conta com quatro funcionários, dos quais três enfermeiros e um pessoal de higiene.
Igualmente do tipo C, a unidade hospitalar deUracane soma também quatro trabalhadores, entre eles, três enfermeiros e um pessoal menor. Atende cerca de 15 consultas por dia, havendo pacientes que chegam de ilhas diferentes à procura de atendimento.
Composta por seis tabancas, a ilha de Uracane conta com cerca de 1.800 habitantes.
Texto e fotos: Ibraima Sori Baldé