Os populares do Setor de Nhacra estão a ser ameaçados por uma escalada de fome generalizada, devido à má campanha agrícola, causada por fortes chuvas verificadas na época passada, inundando por completo as bolanhas. Perante esta realidade, a única esperança que resta para essa população camponesa é a presente campanha de comercialização da castanha de caju. Porém, com parcos meios, a população tentou, sem sucesso, levantar diques para travar a subida de água do mar.
Nhacra é, a nível da Região de Oio, o único setor com a tradição de cultivo de arroz, mas é uma zona que “não tem beneficiado” de grandes projetos ligados à agricultura, a par das outras localidades.
Neste momento, os trabalhos de construção de diques, ordenamento de perímetros agrícolas para a recuperação das bolanhas deviam ter começado, mas por falta de meios nada tem sido feito neste sentido.
A falta de meios tem contribuído na diminuição do cultivo de arroz nos últimos anos, uma situação que se verifica também noutros setores.
Um outro fator determinante na baixa de produção em Nhacra e no país em geral, segundo especialistas, tem a ver com a instabilidade política e governativa associada à falta de uma política concreta para o setor agrário.
Esta fragilidade levou a Guiné-Bissau a não conseguir realizar uma investigação agrária eficiente, promover o desenvolvimento tecnológico e apoio técnico aos agricultores, considerados elementos-chave para a modernização e melhoria da produção agrícola.
Esses fatores estão a contribuir para que a fome transformasse num problema endémico no setor, porque, praticamente, não há campos para a atividade agrícola, por causa de monocultura de caju.
Acresce a esses factos, o êxodo rural que é um fenómeno que afeta a agricultura. Aliás, a saída de grande parte de jovens para capital ou para outras localidades tem contribuído, e de que maneira, na diminuição dos trabalhos de campo, porque o levantamento de diques de drenagem requer força física.
Infraestruturas e educação
Relativamente às infraestruturas rodoviárias, importa salientar que estrada Nhacra-Jugudul, que recentemente foi reabilitada pela Engenharia Militar, já se encontra num estado de degradação acelerado, soltando nuvens de poera, que pode afetar as vias respiratórias de qualquer viajante desprotegido, pelo que maioria de passageiros usa máscaras.
No que se refere à educação, no Setor de Nhacra ainda há tabancas sem escolas nem estabelecimentos comerciais, isso para não falar de lugares de lazere como discotecas, campos de futebol, entre outros.
Igualmente, o setor não tem centro de formação técnico-profissional, e as escolas públicas funcionam até terceiro ciclo.
Entretanto, o setor é menos atrativo para os investidores e até para os pequenos comerciantes, porque sentem medo de abrir grades negócios, por falta de segurança. Esta situação faz com que a administração local não tenha fontes de receitas, que não seja o lumu.
Situação social
Interpelado a falar sobre a situação do Setor de Nhacra, o administrador admitiu que, de facto, estão a atravessar várias dificuldades na zona, a começar por fracasso registado no ano agrícola, falta de grande empreendimentos comercias, conflito de posse de terra, emprego, entre outros.
Caramó Djaura disse que nesses últimos tempos tem recebido pedido de apoio de diferentes tabancas, para a construção de diques, mas como a administração não dispõe de meios, é obrigado a reencaminhar esses pedidos às entidades competentes.
Além desse problema, também há famílias com casas sinistradas, que estão a precisar de ajuda. “Diariamente é assim, portanto, os problemas ultrapassam a capacidade de resposta da administração local”.
No que se refere ao ensino, Djaura informou que o setor não tem uma única escola de formação, isso para não falar de saúde. O centro existente é tipo C, e só serve para tratamento ambulatório.
Em termos de desenvolvimento, segundo administrador, Nhacra figura-se entre setores mais pobres do país, dispondo somente de um armazém para arrecadação de produtos de primeira necessidade e um mercado totalmente abando.
Segundo Djaura, esse empreendimento foi construído há uns anos, mas devido à falta de meios até a data presente não foi pavimentado, nem foi instalados balcões e vedação, pois está numa situação deplorável.
Perante esta situação, o administrador pede à intervenção do Presidente da República, à semelhança do que está a fazer noutras localidade, para ajudar Nhacra a sair desse entrave.
Segurança
Relativamente à situação de segurança, Caramó Dajaura disse que é pior, informando que a esquadra da polícia local está com a insuficiência de efetivos, sem falar de falta de meios de transporte, entre outras dificuldades.
Sobre o assunto, lembrou que havia endereçado uma carta ao Ministério do Interior, no sentido de apoiar o comando de polícia local com equipamentos, para poder fazer face aos desafios.
“Como é público, o Setor de Nhacra é conhecido com problemas de furto e de roubo à mão armada, então precisamos de ter polícias a altura e com meios necessários para enfrentar os malfeitores. Fazem operações com motos alugadas, gastando uma média de 20 mil em combustível cada, uma despesa muito pesada para administração”, sublinhou.
Não obstante, enalteceu o esforço do comandante da polícia no combate ao roubo, e que graças a esse empenho, a prática diminuiu bastante na zona. “De facto é um homem com noção de Estado, por isso, está disposto a qualquer solicitação”.
Administração
A nível de serviços, aquele responsável disse que administração não tem computador, máquina fotocopiadora, internet e scanner, e qualquer documento que queiram digitalizar, usam computadores pessoais ou recorrem apoio de terceiros.
No seu ponto e vista, a falta de desenvolvimento dos setores está relacionado à instabilidade política e governativa.
De acordo com a sua explicação, Nhaca cobrava todas as explorações relacionadas às pedreiras e aos mineiros, principalmente as que são feitas no Ponte de Insalma, de repente foram retiradas esta fonte de receita, passando diretamente para o Ministério dos Recursos Naturais, sem uma prévia consulta às autoridades locais.
Caramó Djaura disse, por outro lado, que o centro de saúde e o mercado do setor todos foram construídos com recursos internos, provenientes das receitas da exploração da arreia.
Sobre este assunto, informou ter comunicado ao governador, mas no entanto, até ao momento não recebeu nenhuma orientação a respeito. “Se não fosse a questão política Nhacra não podia perder essa fonte de receita, mas, infelizmente, o nosso país é assim, só que situação nos cria dificuldade no pagamento de salário aos contratados”.
A finalizar, revelou estar entabular contactos com as câmaras de outros países, para celebração de uma parceria, com vista a tirar o setor do isolamento a que foi votado.
Alfredo Saminanco