Abate florestal ameaça sobrevivência da população rural

A desflorestação não põe em risco apenas os ecossistemas fauna e flora mas fundamentalmente a vida das populações no interior do país. Essa foi a constatação apurada numa reportagem feita pelo jornalista Alen yero Embaló da Rádio France International, em serviço especial para o Jornal Nô Pintcha.

Na Guiné-Bissau, a vida das populações sobretudo das áreas ruais estão ameadas, devido ao desbravar das florestas acrescido pelo interesse de compradores estrangeiros, chineses e os da sub região que incentivam a criação de redes de malfeitores que derrubam árvores ilegalmente.

De 2012 a 2014 aquando do golpe de estado de 12 de Abril, foi o período em que se registou com mais intensidade a desarborização sobretudo com cortes abusivas de árvores para fins comerciais. Dados do governo apontam que naquela altura, cerca de 900 mil metros cúbicos da floresta do país foram derrubadas por madeireiros enquanto a contabilidade das várias organizações Não-Governamentais que atuam no domínio de proteção ambiental revelam outros números mais elevados. O certo é que o derrube de árvores de grande porte verificou como cogumelos em todo o país e diariamente entravam em Bissau camiões  carregados de touros para a exportação sem que alguém fizesse algo para travar essa desordem na altura.

Aliás, foi esse motivo de 2014 que o governo aprovou a moratória ou seja a regra que proíbe o corte de árvores durante os cinco anos. Mas apesar da medida governamental, há relatos que indicam a continuidade da prática de abates de árvores nas diferentes zonas do país, isto  fazendo fé na informação dada pela comissão Interministerial de Gestão da Madeira.

“Em 2020 apesar da vigência da moratória, houve abates de muitas árvores nas diferentes províncias da Guiné-Bissau”, informou Malam Mané , agente de guarda florestal, adiantando porém que após a autoridade ter tomado conhecimento da situação, colocou logo de imediato agentes de segurança (guarda Nacional) para controlar as zonas de maior incidência.

Dificuldades dos guardas florestais

No entanto, de acordo com Malam, há muita dificuldade no terreno para fazer um trabalho cabal de asseguramento e controlo de matos, isto porque não há materiais e nem homens suficientes para essa fiscalização, lembrando contudo que a boa colaboração dos habitantes das tabancas em denunciar grupos de pessoas que desmatam de uma forma ilegal, foi importante e determinante para combater o fenómeno

Em 2020 terminou o período de cinco anos da moratória, que proibia o corte desenfreada de árvores nas matas da Guiné-Bissau que visava transformar as árvores em madeiras para fins comerciais no estrageiro.

E, no entretanto, o ex-ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Abel da Silva, disse que o Governo ia abrir um regime especial  de cinco anos que iriam permitir a que os madeireiros voltassem a praticar o abate das árvores.

Questionado se esse era o momento para por fim à moratória, o guarda florestal replicou e foi perentório em afirmar que não.

“É nesse período que se registou campanha descontrolada de desmatação florestal”, disse para depois acrescentar que o governo devia prolongar ainda mais a moratória para assim permitir que as árvores pudessem pequena crescer ainda mais”.

O ministro do Ambiente e da Biodiversidade corrobora da opinião do agente argumentando que a referida moratória” teve mais impacto de ponto de vista político de que proteção da florestal, porque precisamente naquela período de interregno houve abate descontrolado, sem a capacidade de verificação por parte do governo derivada à pressão política, na altura.

Na ótica do governante, para fazer face a essa prática, o governo deve financiar o sector ambiental, colocando recursos humanos e financeiros suficientes para que os técnicos da guarda florestal e polícias da guarda nacional possam fazer uma boa fiscalização dos nossos recursos florestais. r Albino Gomes, responsável da tabanca de Cobiana, setor de canchungo, Região de Cacheu, mostrou-se algo preocupado com a situação de abate florestal que ameaça a vida da população Rural.

 Albino afirmou à nossa reportagem que o sentimento que os habitantes têm quanto a essa prática de abate de árvores no país é o aumento da miséria no mundo rural e explica: “as árvores que se encontram nas matas sagradas sob o nosso controlo não podem ser cortadas, porque estão sob a proteção de irãs, seres poderosos ocultos, os chamados  xamã. Qualquer pessoa que tentar o contrário corre risco de passar mal, talvez é por causa disso que essa zona está resguardada” relata o balobeiro (entenda-se curandeiro misterioso africano).

Proteger Ecossistemas

O Curandeiro lembra que a nossa vida depende em parte da floresta. “As florestas são a fonte de medicamento importante para as comunidades rurais e não só através das suas raízes, folhas, caule mas também dos seus frutos silvestres que são muito importante para a nossa saúde”, vaticinou.

A destruição da floresta traz consequências negativas para o meio ambiente de forma indireta representa uma fonte de sobrevivência para as comunidades guineenses.

Aldeões interpelados pela nossa reportagem são unânimes de que a vida no campo depende absolutamente da preservação dos ecossistemas faunas flores e animais. A consciencialização das populações sobretudo as que habitam no mundo rural, de acordo com o guarda florestal pode ajudar no respeito da biodiversidade fator crucial para o equilíbrio da vida na terra.

 Se antes do abate indiscriminado de madeira já havia preocupação com a preservação ambiental devido a aproximação do Sahel, agora tudo fica agora mais complicado com o avanço desmesurado do deserto de Sahara.

Deixa de haver barreira e a areia penetra, um outro aspeto é que há tabancas que começam a ser abandonadas pelas populações porque deixam de ter água nos poços. É impossível viver, alimentar-se ou fazer a horticultura lamenta um residente de uma das tabancas de sul mais devastada pela desflorestação.

Texto: Alen Yero Embaló

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