As escolas abriram as suas portas, mas nem em todas elas as aulas estão a funcionar. O “Nô Pintcha” percorreu alguns estabelecimentos do ensino público e privado na cidade de Bissau e constatou que, efectivamente, nas escolas estatais, praticamente não há aulas. Nota-se sobretudo a grande ausência de alunos, não obstante alguns ainda estarem a confirmar as matrículas. É que em quase todos os recintos públicos por onde visitamos, as inscrições continuavam a decorrer com uns a confirmarem e outros a entrarem como novos ingressos.
Na maioria das escolas visitadas, nem sequer atingiram 50 por cento da sua real capacidade, mesmo estando em tempos de pandemia, provocada pelo novo coronavírus, em que o Governo ordenou que o número de alunos na sala de aula não ultrapasse 30, como forma de respeitar o distanciamento social exigido pelas autoridades da Saúde Pública. A situação foi confirmada pelo jornal “Nô Pintcha”, através das listas fixadas nas respetivas escolas.
Durante curtas passagens efectuadas em, pelo menos, oito escolas públicas e privadas, só uma estava a funcionar devidamente, com as salas totalmente cheias de alunos. Trata-se do liceu “João XXII”, junto a Diocese de Bissau.
Mas em todas elas verificam-se baiões cheias de água para a lavagem das mãos logo à entrada e os seus responsáveis garantiram que o uso obrigatório de máscaras seria uma condição para deixar quem quer que seja entrar no recinto escolar.
Em entrevista exclusiva ao nosso jornal, Idrissa Cassamá, diretor do Liceu Nacional Kwame N’Krumah, garantiu que estão reunidas as condições suficientes para o arranque das aulas. “O recinto já está todo limpo, os mecanismo das lavagens das mãos, uso obrigatório der máscaras e os trajes da escola estão a ser observados”.
O responsável disse ter gostado do que viu na manhã de segunda-feira com o aparecimento, em massa, de alunos, logo no primeiro dia das aulas. Segundo ele, há anos que isso não se verificava nas escolas do país
Quanto aos quatro turnos anunciados pelo executivo, Cassamá disse que poderão funcionar caso se justificar, mas que neste momento trabalham em três períodos.
Tal como noutras escolas, o liceu nacional só conseguiu inscrever pouco mais de 50 por cento dos mais de cinco mil alunos que a escola tem capacidade de albergar.
Por seu lado, o diretor do Liceu “Dr. Agostinho Neto” também confirmou que já estão criadas as condições mínimas para o arranque das aulas, só que ainda estava a verificar-se fraca participação dos alunos, apesar da presença dos professores.
A escola não atingiu sequer 50% das inscrições, quando precisa de mais de 3.330 alunos (até segunda-feira a escola confirmou um pouco mais de 1.050).
Neste sentido, Ildo da Silva, à imagem doutros diretores, apelou aos pais e encarregados de educação a instruírem às suas crianças a irem para a escola. “O ensino é um elemento importante e todos devemos contribuir para o bem da nação guineense”, aconselhou.
No entanto, o diretor fez lembrar que o liceu ainda não recebeu máscaras nem da parte do Ministério da Educação, nem doutros parceiros que apoiam na luta contra a Covid-19. A seu ver, os parceiros podem trabalhar diretamente com as direções das escolas ou associações de alunos, em termos de sensibilização e de apoio material.
Recentemente, o Governo procedeu à abertura do ano lectivo 2020/2021, tendo anunciado entre outras medidas, o uso obrigatório de mascaras, as lavagens das mãos, a existência de quatro turnos e as aulas aos sábados. Só que os sindicatos parecem não concordar com esta última decisão e aguardam negociações por parte do executivo.
Professores desconhecem existência de aulas aos sábados
Os professores dizem desconhecer oficialmente a “medida obrigatória” que o Governo pretende implementar este ano no sentido de prolongar dias lectivos semanais até aos sábados.
Em conferência de imprensa conjunta, realizada nesta quarta-feira, 7 de outubro, o Sindicato Nacional dos Professores (Sinaprof), o Sindicato Democrático dos Professores (Sindeprof), o Sindicato Nacional dos Professores e Funcionários da Escola Superior da Educação (Siese) e a Frente Nacional dos Professores e Educadores (Frenaprofe) informaram que não existe nenhum documento assinado com o executivo nesse sentido, mas sim, uma manifestação de intenção.
O porta-voz do coletivo dos sindicatos do setor disse que nos seus horários não há nada que indica a existência de aulas aos sábados. Contudo, Domingos de Carvalho garantiu que os professores estão abertos à negociação com as autoridades competentes, na base de um diálogo “sério e franco”.
Por outro lado, o sindicalista confirmou o início das aulas desde segunda-feira, numa altura em que o Governo “não devolveu o dinheiro da grelha salarial diferenciada” e nem está a ser aplicada a carreira docente universitária. Fez saber que os docentes continuam ainda a exigir os atrasados salariais de 2002/2003 e 2005/2006.
Apesar disso, os quatro sindicatos do setor do ensino apelam aos seus associados a irem lecionar, respeitando as orientações das respetivas direções, bem como das autoridades sanitárias, tendo em conta a pandemia do novo coronavírus que assola o país e o mundo. Pediram também união no seio da classe docente, em torno dos objectivos que nortearam a criação das organizações sindicais.
Texto e fotos: Ibraima Sori Baldé