População de Bafatá resiste contra medidas de combate ao coronavírus

O fecho das fronteiras que resultou na fraca circulação de dinheiro; a impossibilidade de exportar e importar produtos; o fecho prolongado das escolas e o confinamento social são impactos fortes que o novo coronavírus teve na vida das populações da Região de Bafatá.

Conforme relatos do governador regional, Caba Sambu, a área administrativa daquela região conta, neste momento, com cerca de 21 casos de coronavírus, dentre os quais quatro recuperados e um óbito (uma mulher grávida que faleceu na maternidade do hospital regional local).

As autoridades regionais estão empenhadas em fazer cumprir o decreto presidencial sobre o combate ao novo coronavírus, a fim de evitar a propagação da pandemia que está a causar milhares de mortes no mundo. Neste sentido, existe todo um conjunto de estruturas estatais e não estatais que estão implicados diretamente nesse combate na Região de Bafatá.

Não obstante esse esforço, uma boa parte da população está a revelar forte resistência às medidas e orientações emanadas do Governo e das autoridades sanitárias. Como disse o governador, para se sensibilizar as pessoas no sentido de usarem máscaras, às vezes torna-se necessário o uso da força pelas autoridades, sobretudo em locais de concentração pública.

As autoridades regionais estão também a gerir a concentração das pessoas em locais inapropriados, o que levou a ações pedagógicas como, por exemplo, o envolvimento de líderes tradicionais, nomeadamente régulos e chefes de tabancas, para que eles apoiem na sensibilização das populações, no sentido de estas acatarem as orientações das autoridades.

Conforme as declarações do governador, Caba Sambu, na Região de Bafatá as entidades envolvidas no combate ao coronavírus esforçam-se em mobilizar quase toda a sociedade mediante acções desenvolvidas pela sua estrutura. Existe também um grupo de atores não estatais, nomeadamente as organizações não-governamentais (ONG), associações de jovens, redes da juventude, etc., que está a fazer um notável trabalho a nível da prevenção, pois como se costuma dizer: “Mais vale prevenir do que remediar.” Essa sensibilização está a ser feita juntamente com a Direção Regional da Saúde e com todos os técnicos de saúde locais.

O governador da Região de Bafatá disse ao “Nô Pintcha” que a escola de formação da zona Leste, construída naquela cidade, vai servir como centro de isolamento de doentes da covid-19. A escola não está a funcionar e os serviços da Educação cederam esse espaço para que os pacientes possam ficar lá até regressarem à vida normal. 

Caba Sambu explicou que, antes da pandemia, a OMS (Organização Mundial da Saúde) criou uma estrutura denominada COES (Comité de Coordenação para Emergência em Saúde) que engloba todas as estruturas estatais e não-estatais interessadas em fazer a gestão da calamidade da saúde pública. Neste momento de alastramento da pandemia, o COES reúne-se diariamente sob a presidência do governador da região, coadjuvado pelo diretor regional de Saúde e pelo comissário provincial da Polícia. Este comité envolve as estruturas estatais, o poder tradicional (régulos, chefes de tabanca e chefes religiosos), ONG, associações, etc. Em vez de ser criada uma outra instituição, Caba Sambu disse que aproveitaram a anterior estrutura para fazer a gestão de toda a situação da saúde a nível da região.

O político explicou que nas reuniões desse órgão que se realizam regulamente, debatem-se todas as questões, mesmo as não ligadas à gestão da pandemia, como as dificuldades encontradas no terreno, a resistência da população e identifica-se o possível foco de contágio do coronavírus, caso dos campos de futebol onde se juntam muitos jovens, os lugares de culto e delineiam estratégias para manter as pessoas na linha de orientação adotada pelo Governo, com o objeivo de garantir a prevenção.

Com o confinamento social decretado pelas autoridades do país, na Região de Bafatá nota-se alguma insegurança alimentar, por razões ligadas ao fecho das fronteiras, a falta de mobilidade da população causou a diminuição da circulação de dinheiro, a redução da exportação de produtos, entre outros. “Isto criou um impacto negativo na vida da população”, realçou Caba Sambu.

O coronavírus veio numa altura em que a população consegue obter maior rendimento económico, por ser o momento de comercialização da castanha de caju, o produto estratégico de exportação da Guiné-Bissau. Este ano, o preço mínimo da comercialização que estava sendo esperado não foi anunciado, mas o Governo fez o mínimo para solucionar a problemática económica da população.

O governador da Região de Bafatá lembrou que geralmente os meses de julho, agosto e setembro são sempre críticos na vida da população. Mesmo que houvesse uma boa campanha de comercialização da castanha de caju, as pessoas têm problemas sérios de gerir bem a sua economia. Às vezes não guardam o dinheiro para depois fazerem boas aplicações. Preferem utilizá-lo rapidamente, ficando depois de mãos vazias. Com essa situação, aliada à pandemia, pode-se confirmar a existência de dificuldades no acesso aos produtos de primeira necessidade e a consequente insegurança alimentar.

O responsável, ao analisar o impacto do coronavírus na vida das mulheres reconhece, entretanto, que elas são os pulmões da sociedade guineense, argumentando que nas suas atividades informais do dia-a-dia elas acabam por garantir o sustento das suas famílias, podendo cuidar das crianças, assegurar o pagamento das suas escolas, cultivar legumes nas suas hortas, etc,. E quando tudo isto está parado, é óbvio que se pode afirmar que o coronavírus tem um impacto negativo direto na vida das mulheres e, consequentemente, na vida das crianças.

“Na maior parte das vezes, quando a criança sente fome ela dirige-se para a sua mãe pedindo-lhe comida. Os pais lidam pouco com o problema das crianças em casa, porque se encontram sempre ocupados com o trabalho longe da família.

O governador referiu que os guineenses devem preocupar-se também com a fase da pós-pandemia, porque todos estarão debilitados em termos de economia. “O que nos encoraja é o esforço do Governo em pagar os salários, pelo menos a tempo e horas. Na Guiné-Bissau, segundo os indicadores existentes, em cada 10 pessoas que trabalham, 5 ou 6 são funcionários públicos e cada funcionário do Estado assegura o sustento, na sua casa a 10, 15 ou 20 pessoas da sua família. Daí que o Tesouro Público tem um significado muito importante para a vida das populações”, observou Caba Sambu.

“Neste momento, o Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural está a distribuir sementes que o vizinho Senegal ofereceu ao Governo da Guiné-Bissau para que a população possa produzir mais nesta época chuvosa e aumentar a economia familiar, combatendo a insegurança alimentar. E se olharmos em termos de assistência médica e medicamentosa a todas as pessoas infetadas pelo coronavírus, a importação de medicamentos, as melhorias pontuais em todos os hospitais da Guiné-Bissau, penso que estas são respostas mais do que suficientes que o Governo está a dar”, sintetizou o governador.

Outro impacto da pandemia na vida da população é a paralisação das escolas. É um assunto que afeta directamente as crianças. Como realçou Caba Sambu, o Governo tem um plano setorial que dá orientação de que as aulas serão retomadas e que o próximo ano letivo se inicie no mês de outubro. Aliás, a possibilidade de o reinício das aulas está a ser estudado com as autoridades sanitárias do país.

“A escola para a criança não é só um local de aprendizagem, mas também um local de lazer, onde ela brinca com os seus colegas e aprende para quando, num futuro não muito longínquo, inserir-se na vida da sociedade. Portanto, quando não frequenta a escola, ela sente-se privada do seu direito. Nesse sentido, a pandemia tem assim um outro impacto na vida das crianças.

População minimiza orientações médicas

Dos 21 casos registados em Bafatá, 9 são masculinos e 12 femininos. Desse número, 13 técnicos de Saúde estão infetados devido à forma de lidar com a paciente que chegou ao hospital sem saberem que ela estava contaminada. Só depois da realização das análises clínicas é que se confirmou que a doente é portadora do novo coronavírus.

O diretor regional da Saúde, Armindo Cumando Sanhá, confirmou ao “Nô Pintcha” que os técnicos infetados no hospital de Bafatá estão a fazer o devido tratamento nas suas residências onde estão confinados. A doente que contagiou os técnicos da saúde veio cansada da sua tabanca (no Setor de Bafatá). O médico que a consultou mandou-a fazer ecografia. Daí se descobriu que a criança faleceu na barriga. Também a paciente tinha sintomas de anemia e de covid-19. Ela complicou-se e faleceu também.

Os casos registados são da região. Alguns pacientes vieram de outros setores. Por exemplo, o primeiro paciente diagnosticado veio de Canchungo para Geba (Setor de Ganadu). Os seus sintomas obrigaram os técnicos da Saúde a rastreá-lo, tendo sido enviado os resultados de amostra para Bissau, donde se confirmou que o paciente estava contaminado. Dentro da família da pessoa diagnosticada confirmou-se mais um paciente.

Entretanto, Armindo Cumando Sanhá revelou que as mulheres frequentam mais o hospital do que os homens e considerou o hospital um local de risco. “Ali tratamos a nossa saúde, mas ao mesmo tempo podemos também apanhar uma outra doença. As mulheres frequentam mais os lugares públicos (hospital, mercado, escolas, salões, etc.) do que os homens. Significa que elas estão mais expostas a contaminação”, disse.

O médico afirmou que os medicamentos que utilizam para o tratamento dos pacientes são sintomáticos, porque a covid-19 não tem ainda um medicamento efetivo para a sua cura. Alguns doentes diagnosticados em Bafatá estão internados no hospital regional, porque não há outro espaço. Há bem pouco tempo, a Educação cedeu à direção Regional de Saúde o centro de formação dos professores porque esta escola ainda não está a ser utilizada para o objetivo a que foi construído. “Como ali não há energia eléctrica, pensámos que podíamos ter um gerador e fazer funcionar a ventilação e a iluminação, o que nos dava a possibilidade de confinar alguns pacientes com
covid-19 diagnosticados na região. E, obviamente, deparou-se-nos uma falta de meios materiais e financeiros, pelo que não podemos fazer funcionar esse centro”, rematou Armindo Sanhá.

O problema fundamental no combate ao novo coronavírus é que as pessoas quase não acatam as orientações das autoridades sanitárias, embora na Região de Bafatá não tenha faltado sensibilização. Diferentes organizações da sociedade civil estão a dar o seu máximo na sensibilização das pessoas, apelando-as para uma maior prevenção. “Vimos a presença do governador da região, dos comandantes da polícia e militares pedindo à população no sentido de cumprir com as recomendações dadas pelas estruturas da Saúde e pelo Governo. Nos últimos tempos, constatamos que as pessoas estão mais a usar a máscara colocando-a debaixo do queixo e não a tapar o nariz e a boca”, salientou o diretor regional. A comunidade deve apostar na lavagem e desinfeção das mãos e no uso permanente da máscara.

Uma doença que Deus nos trouxe

Aissatu Fati é vendedeira de Peixe no mercado de Bafatá. Na sua leitura, o novo coronavírus é uma doença má que afeta todo o mundo. As pessoas dizem que as autoridades estão a cansar as populações. Não é assim.

“Coronavírus é uma doença maligna que Deus nos trouxe no mundo, e é ao Deus que voltamos a pedir para que Ele a erradique da face da terra. Que o Estado nos deixe rezar nas mesquitas. É na mesquita que pedimos a Deus para acabar com essa pandemia. Os agradecimentos que se fazem nas mesquitas (Fathia) são muito importantes. São como um remédio para um doente”, esclareceu Fati.

Nas suas breves palavras, Aissatu solicitou para que as autoridades ajudem as populações, pois a Guiné-Bissau não é como outros países. Aqui as populações estão cansadas.

Tal como noutros mercados do Leste, também em Bafatá muita gente não está a usar máscara. Há algum tempo os polícias prendiam as pessoas, levavam-nas para a esquadra e elas pagavam uma multa. “Agora, não sei porquê que muita gente não está a usar máscara. Certo é que todos os dias as autoridades e as organizações da sociedade civil sensibilizam as populações sobre o perigo do novo coronavírus e formas como evitar a sua contaminação.

Oxalá, que Deus nos livre dessa pandemia assassina!

Por: Bacar Baldé

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