Inclusão de Rafael Barbosa no PAI
Logo após a primeira aparição de Amílcar Cabral (Abel Dassi) em Bissau, entre 14 e 21 de Setembro de 1959, vindo de Angola, onde passara a exercer a sua profissão como engenheiro agrónomo, depois de ter sido acusado de actividades contra o Governo colonial e expulso pelo Governador, Diogo António José Leite Pereira de Melo e Alvim, tratou-se de congregar o grupo de Rafael Paula Barbosa (Zain Lopes) no PAI, formando a Frente de Libertação da Guiné e Cabo Verde (FLGC). A integração total do grupo de Rafael Barbosa no PAI, segundo Luís Cabral, consolidou-se no encontro realizado em 1960, em casa de Fernando Andrade, na SICAP, em Dakar. Estavam presente na reunião, Amílcar Cabral, Rafael Barbosa, Chico Mendes, Victor Saúde Maria e Luís Cabral.
Após a confirmação da existência de uma única frente de luta na Guiné e Cabo Verde, Abel Djassi voltou a Conacri, onde iria criar um escritório para coordenar a luta armada. Enquanto isso, Zain Lopes assumia o cargo de Secretário de Controlo do PAI(GC) e retornou a Bissau, para desenvolver atividades clandestinas com o objetivo de expulsar o colonialismo das nossas terras. Rafael Barbosa e Fernando Fortes lideravam a luta clandestina na cidade e nas áreas limítrofes. A partir do Secretário-geral, novos elementos foram acrescentados ao grupo, incluindo Luciano N’Dao, Constantino Teixeira, Tiago Alelua Lopes, Pedro Gomes Ramos, MussáFati e Benjamim Correia.
Independência versus Dependência
No início dos anos sessenta, a luta para impor o PAI(GC) como a única representação nacionalista dos povos da Guiné e Cabo Verde foi intensa, enfrentando desafios que somente, como diz Luís Cabral, a determinação da ação de Amílcar Cabral poderia superar. A maior parte das oposições e descontentamentos manifestava-se mais no exterior do nosso território. Os obstáculos provinham dos naturais da Guiné radicados, sobretudo, nos capitais dos países vizinhos, em Conacri e Dakar.
Como já tivemos a ocasião de referir, anteriormente, sobre alianças e dissensões políticas entre alas e formações partidárias internas, a maior parte dos militantes adversários do PAI(GC) estavam alinhados a grupos políticos como o MLG de Luís da Silva (Tchalumbé), e mais tarde a FLING de François Mendy e a UNGP de Benjamim Pinto Bull. Essas estarão entre várias outras formações político-partidárias emergentes que promoviam uma visão ideológica centrada na distinção entre guineenses puros, mestiços e cabo-verdianos. Elas optavam por lutar por uma autonomia administrativa em relação a Portugal, que era a potência colonizadora. Seus apoiantes agiam com firme convicção, acreditando que os mestiços e cabo-verdianos estavam perfilados a uma identidade assimilacionista incentivada pelo regime de Salazar, que separava, tanto cultural quanto politicamente, a população colonizada em civilizados e indígenas.
Na realidade, o cenário político da época que deveria unir esforços contra o inimigo comum que era a colonização portuguesa, acabou sendo marcado por duas correntes ideológicas opostas. De um lado, encontravam-se os nacionalistas que apoiavam o neocolonialismo, defendendo uma autonomia administrativa em relação a Portugal. Essa perspectiva tinha, em parte, como base o movimento da Negritude, que emergiu na década de 1930, promovido por AiméCésaire e defendido por LéopoldSédarSenghor, que era o Presidente do Senegal na época. Por outro lado, havia a corrente independentista, que lutava pela completa autonomia da Guiné e de Cabo Verde em relação à potência colonial, sendo veementemente oposta ao neocolonialismo. Embora essa corrente também se inspirasse na Negritude, sua visão se alinhava ao Pan-africanismo de KwameNkrumah, então Presidente do Gana, que fundamentava seus discursos no socialismo científico.
Perseguição da PIDE
A integração de Rafael Barbosa no PAI deu-lhe o mérito de ficar como Presidente do PAI (GC). Ele era homem do povo e nacionalista fervoroso. Informalmente, exercia a função de capataz de construção civil na empresa Construções, Lda, cujo proprietário era o senhor Gama. Como já vínhamos referindo, Zain Lopes era bem considerado no meio dos quadros com quem trabalhava e pelos seus correligionários tanto na capital, Bissau, como no interior. Era coadjuvado por Fernando Fortes, conhecido com o pseudónimo de Seidi Camara, membros fundadores do PAI e chefe da Estação Postal dos correios de Bissau. Assegurava os contactos não só pelas missões rápidas com o Secretário-geral, Amílcar Cabral, cujo Gabinete estava sedeado em Conacri, mas também, por correspondências expedidas e recebidas em todo o território.
Após a greve de 3 de Agosto de 1959, que resultou no trágico massacre de marinheiros e estivadores em Pindjiguiti, iniciou-se uma intensa onda de perseguições e prisões promovidas pela PIDE contra os nacionalistas. Diante desse cenário, tornou-se fundamental para a rede clandestina de Bissau encontrar um abrigo seguro para seu líder, Zain Lopes.
Assim, foi identificado um espaço apropriado na residência do senhor Jorge da Silva, tio de Albino Sampa, um colaborador próximo do líder, localizado nos arredores de Bissau. O abrigo ficava em Msurum, uma área também conhecida como Belém. Essa casa era adjacente à propriedade da família Mango (Manfan). Na época Manfanera referenciado como o chefe da morança.
A zona era densamente coberta por vegetação de cajueiros e possuía campos de cultivo de mandioca, milho-bacillus, palmeiras e algumas áreas alagadas. Em pouco tempo, o local se tornou a primeira base clandestina do PAI(GC) em Bissau, onde Pedro Ramos passou a ser o principal instrutor militar de mancebos nacionalistas enviados para a luta. As instruções de treinamento militar eram realizadas durante a noite.
“Documentos elaborados pelo Instituto da Defesa Nacional (IDN), sob a direção do Dr. Eduíno Sanca (Pesquisador)”