Luta pela independência: Clandestinidade em zona zero (Parte I)

Divisão em zonas de Luta Armada

Durante o período de reconhecimento e preparação para a luta armada contra o colonialismo, Amílcar Cabral dividiu o território da Guiné em diversas partes, zonas ou regiões, levando em conta os recursos humanos, materiais, ecológicos e cultural, disponíveis naquela época.

Os primeiros dez jovens quadros formados na academia militar de Nanquim, na China, regressaram a Conacri, em junho de 1961. No dia 3 de agosto do mesmo ano, o massacre de Pindjiguiti, completaria um ano. Perante este quadro, o PAIGC decretou Ação Direta, visando iniciar a luta armada contra a presença colonial na Guiné e Cabo Verde. A propósito, Cabral teve que enviar, em 13 de outubro de 1961, uma carta aberta ao Governo português, ressaltando que a única solução digna seria aceitar as negociações propostas pelo PAIGC em favor da autodeterminação e independência da Guiné e Cabo Verde.

Ainda assim, em Bissau, atividades de mobilização, distribuição e afixação de panfletos, com mensagens políticas, incentivando a luta, eram realizadas, com foco especial nos jovens, funcionários e trabalhadores. Nesse mesmo período, como havia referido, Cabral iniciou a distribuição de novos quadros militares formados na China por diversas regiões do território.

Amílcar Cabral e Rafael Barbosa, outubro de 1960, Dakar

No que concerne à organização da luta armada por zonas ou frentes de combate, podemos dizer que a listagem das zonas do PAIGC e dos seus responsáveis sofrera muitas alterações ao longo dos tempos. A listagem inicial encontrada, antes do regresso dos quadros formados em Nanquim, apresentava-se diferente daquela em que viria atribuiu a responsabilidade da zona 11 a Nino Vieira (Quitáfine-Cubucaré e Unal ou seja, Tombali norte e sul); Rui Djassi, como responsável das zonas 8 e 12 (Centro-Sul, Tite, Cubisseco, Buba, N’Djassan, Fulacunda, S. João-Bolama e Bijagós); Osvaldo Vieira e Chico Mendes, Hilário Rodrigues (Lolo) e Saturnino da Costa, como responsáveis pelo Norte, ocupando as zonas 1, 2, 9 e 10 em áreas como S. Domingos, Farim, Canchungo e Cacheu até Bissorã, estabelecendo base central em Morês-Oio; Vitorino Costa e seu adjunto, Pascoal Alves, responsáveis das zonas (4 ?) e 5 em Gabu (Norte e Sul); Domingos Ramos responsável pelas zonas 6 e 7 que incluíam Bafatá Norte e Sul; finalmente, Luciano N’Dao junto com Constantino Teixeira (Tchutcho-Axon) e Pedro Ramos permanecendo-se ligados à Zona Zero em Bissau, tendo Rafael Barbosa e Fernando Fortes, como principais responsáveis (Luís Cabral, p.115).

No arquivo intitulado Manuscritos Amílcar Cabral, acessível pelo Arquivo Mário Soares, os indivíduos designados para a zona zero em Bissau, possivelmente relacionados ao início das mobilizações, incluem Armindo Rodrigues, Paulo Santy, Augusto da Silva e Cadjali Djassi, entre outros.

Bissau ou zona zero

Listagem zonas e de responssáveis

A Zona Zero seria uma área onde os nacionalistas estavam impossibilitados de participar em combates armados, escolhendo, em vez disso, uma luta mais comedida. Porque, na capital, Bissau, o inimigo demonstrava sempre uma força desproporcional em relação ao PAI(GC). O inimigo dispunha do seu próprio exército, de forças policiais, veículos e recursos financeiros suficientes para influenciar a consciência de muitos compatriotas. Quase toda a população urbana dependia das autoridades e das empresas coloniais para sobreviver, o que colocaria os nacionalistas numa condição desfavorável (Luís Cabral, 2009).

A abordagem de Amílcar Cabral visava uma meticulosa preparação para a grande batalha que se iniciaria no campo, onde os nacionalistas deveriam procurar reunir as forças necessárias antes de se expandirem para as cidades. Porque a maior parte da população rural não era dependente do colonialismo. Pelo contrário, essa mesma zona rural sustentava o colonialismo através da produção de arroz, amendoim, coconote, hortaliças e dos impostos resultantes.

“Documentos elaborados pelo Instituto da Defesa Nacional (IDN), sob a direção do Dr. Eduíno Sanca (Pesquisador).”

 

Panfleto do pai-fase de mobilização (1960-1961)

Listagem zonas e de responsáveis

Amílcar Cabral e Rafael Barbosa out. 1960 Dakar

 

 

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