Pediatria do hospital de Gabu depara-se com falta de oxigénio

O serviço de pediatria do Hospital Regional de Gabu depara-se com falta de oxigénio há mais de um mês, escassez de luvas, entre outros materiais, situação que tem provocado enormes dificuldades nos trabalhos dos técnicos.

Falando do assunto, o responsável adjunto da pediatria, Samba Baldé, confirmou que de facto o hospital está a deparar com falta de quase tudo, mas o mais preocupante é a irregularidade do fornecimento da luz elétrica.

Perante esta situação, são obrigados a trabalhar sem luvas, uma prática que não é aconselhável na medicina nem ético, mas é a única saída para evitar que os pacientes fiquem sem atendimento.

“Uma vez, chegou uma criança num estado muito crítico, que requer uma intervenção urgente, então tive que atende-la mesmo sem luvas para salvar a sua vida. Se não tivesse atendido a tempo, tenho plena certeza que não sobreviria, porque chegou num estado muito debilitado e o culpado seria o médico, neste caso eu mesmo”, desabafou.

Segundo a sua explicação, a pediatria neste momento só dispõe de único concentrador de oxigénio, que não chega para atender todas as necessidades do hospital, lembrando que a insuficiência desses aparelhos, muitas vezes, chega a provocar a perda de vidas.

Informou que há uns meses, receberam três crianças com problemas respiratórios grave, mas o facto de a unidade dispor apenas de um concentrador, foram obrigados a atendê-las de acordo com a ordem de chegada.

“Há dias em que registamos um ou mais óbitos na pediatria, uma situação bastante lamentável para um técnico de saúde. Mas como não podemos fazer milagre, acaba por resultar naquele triste acontecimento, que nos deixa em pânico”, lamentou.

De acordo com esse técnico, perante a incapacidade da instituição, são obrigados a evacuar alguns doentes para o Hospital Regional de Bafatá. “Imagine, um hospital regional a evacuar doentes para outro hospital com a mesma dimensão? É inaceitável, mas não temos outra saída”.

Aumento da pneumonia e paludismo

Samba Baldé, responsável adjunto da pediatria

O responsável da pediatria disse que neste momento as doenças mais frequentes na zona são pneumonia, anemia e paludismo. Segundo ele, o aumento dessas patologias tem a ver com a falta de prevenção e não respeito às orientações das autoridades sanitárias.

Na explicação de Samba Baldé, a maioria de casos que dão entrada no hospital são graves, tudo por falta de colaboração. “Estamos numa zona em que a população acredita em certas tradições e querenças que, às vezes, entra em contradição com as recomendações médicas”.

Por outro lado, Samba Baldé disse que estão com problema de falta de medicamentos, porque desde que terminou a missão do Programa Integrado para Redução da Mortalidade Materna e Infantil (PIMI) no país, a população passou a comprar seus medicamentos.

Segundo aquele responsável, essa situação está a gerar um desentendimento entre a população e os técnicos de saúde, porque, no passado, beneficiavam de medicamentos grátis, mas agora passam a comprar, o que para muitos deles, é decisão dos médicos.

Disse que alguns pacientes recebem receitas, e ao invés de comprar medicamentos nas farmácias, preferem voltar para casa, alegando falta de dinheiro, porque já se habituaram a beneficiar de medicamentos grátis.

Para ele, a solução passa, além de equipamentos, no reforço da capacidade dos Agentes de Saúde Comunitária (ASC), de forma a torná-los mais proactivos e ajudar na disseminação de informação em relação a esse assunto do PIMI.

Relativamente à situação do hospital, Baldé disse que maioria dos serviços funciona apenas com novos ingressos e contratados, que estão há vários meses sem salários.

“Estamos aqui a trabalhar sem saber quando é que o governo vai nos pagar ou regularizar a nossa situação. Vivemos dos apoios de famílias e dos amigos. São situações que mexem, sem sombra de dúvida, com a carreira e honestidade de qualquer profissional de saúde”, sublinhou.

Maternidade

Cluse Tchami, responsável da maternidade

A Região de Gabu apresenta indicadores particularmente preocupantes ao nível de saúde materno-infantil, não obstante os trabalhos que estão a ser desenvolvidos pelos técnicos, com o apoio dos parceiros.

Para fazer face a esse desafio, o responsável da maternidade, Cluse Tchami, disse que estão a trabalhar em estreita colaboração com todos os centros de saúde da região, com o objetivo de inverter esses indicadores.

Em conversa com o jornal Nô Pintcha, Tchami informou que o tratamento das grávidas é feito em fases, havendo casos em que algumas delas são levadas diretamente para a sala de parto.

Segundo esse técnico, as grávidas não têm cultura de fazer consultas de rotina, aliás, só quando entram no último mês ou sentem-se dificuldade de dar à luz normal é que procuram os centros de saúde. “São situações que nos deparamos aqui todos os dias”.

Por outro lado, CluseTchami disse que o maior problema na maternidade é a aglomeração de acompanhantes. Lembrou que tinham solicitado à direção do hospital, no sentido de colocar de segurança, mas, “infelizmente”, não receberam ainda a resposta.

Adiantou que as pessoas entram dentro de salas onde são atendidas as grávidas sem autorização, mesmo sabendo que estão a violar, tendo afirmado que o principal problema continua a ser a anemia e pressão arterial, consideradas perigosas em grávidas.

Insuficiência de pessoal

Único concentrador disponível no hospital

Cluse Tchami revelou estarem com falta de técnicos no serviço da maternidade, pelo que o Ministério da Saúde deve agilizar, o mais rápido possível, para a colocação de médicos, enfermeiros e parteiras.

“Nesse preciso momento, sou o único médico em serviço, quando deveriam estar dois ou três. Para uma pessoa atender mais de 10 grávidas é muito pesado, aliás, reflete negativamente no diagnóstico”, observou.

Segundo a sua explicação, a maternidade só tem um anestesista, que de facto, não pode permanecer todos os dias no serviço, ou seja, precisa também de repousar, portanto, no dia do seu descanso, o departamento fica sem anestesiador.

Referindo-se ainda à maternidade, Cluse defende a necessidade de aumentar o espaço, para poder estar à altura de albergar mais pessoas, tendo reconhecido que o lugar é bastante pequeno para toda a Região de Gabu.

Entretanto, o responsável da maternidade afirmou que ainda há resistência da parte das pessoas em aceitar a medicina moderna como solução para seus problemas de saúde. “Exemplo disso, é que os pacientes quando são mandados para fazer transfusão de sangue, fogem de imediato, veem aquilo como algo estranho”.

Por isso, Cluse Tchami aconselha aos maridos, no sentido de acompanhar as esposas para as consultas pré-natais, uma missão que atribuem exclusivamente ás mulheres idosas, que, além de falta de dinheiro, têm problemas de comunicação, por falta de domínio do crioulo.

Alfredo Saminanco

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