Comando da polícia de São Domingos sem operacionais para fazer face à criminalidade

A administração e os populares do Setor de São Domingos manifestam-se preocupados com o aumento da onde de criminalidade de diferentes naturezas, tendo já provocado a perda de vidas humanas, além de conflitos entre as comunidades.

O Nô Pintcha apurou que esse aumento deve-se principalmente ao surgimento de moto-taxi, consumo de liamba e bebidas alcoólicas nos menores de 18 anos, o que tem repercutido negativamente na camada juvenil. No entanto, o surgimento desses novos fenómenos vem agravar ainda mais o roubo à mão armada, considerado endémico no Setor de São Domingos.

Sobre a situação, o Nô Pintcha falou com o secretário administrativo, Malam Mané, que reconheceu que o setor depara com sérios problemas de segurança, sobretudo de pessoas e bens, porque nos últimos tempos tem-se registado assaltos muito bem planeados, e que sem o apoio ou colaboração dos agentes da polícia não se pode pôr termo a situação.

Por outro lado, afirmou que os afetivos da Policia da Ordem Pública (POP) no setor não têm capacidade de fazer face a esses males, porque a maioria deles já está na idade de reforma, isso para não falar de falta de meios materiais.

“O comando está quase sem operativos, e essa situação também pode ser associada ao aumento da criminalidade na zona”, disse.

Perante a inoperacionalidade da POP nessa vertente, Mané disse que, às vezes, recorrem aos agentes da Guarda Nacional para auxiliar polícias no patrulhamento e na manutenção da ordem pública. A nível da administração, enquanto autoridades máximas do setor, tentam, na medida das suas possibilidades, garantir segurança à população.

Em termos de soluções, o secretário administrativo revela que têm na manga uma proposta a submeter ao Ministério do Interior, no sentido de aumentar o número de efetivos no comando.

Juventude delinquente

Malam Mané, secretário administrativo

Para o secretário administrativo do Setor de São Domingos, a juventude está a enveredar-se, a cada dia que passa, pelos maus caminhos, adquirindo atitudes muito perigosos. “Por isso, é necessário o envolvimento sério de famílias, sobretudo dos pais no processo de educação dos filhos, sobrinhos e netos.

Segundo Malam Mané, se o Estado não intervir a tempo para regular a sociedade, daqui a uns tempos, a Guiné-Bissau terá uma juventude “delinquente”, o que não é bom para o futuro do país.

No seu ponto de vista, o aumento desses fenómenos está intrinsecamente ligado ao desmoronamento do papel tradicional dos pais na educação e/ou no acompanhamento dos seus educandos.

Em São Domingos, os proprietários dos táxi-motos, em alguns casos, são jovens menores de 18 anos. Portanto, é a partir daí que começam a tomar-se independentes, porque já têm dinheiro e podem comprar qualquer coisa que bem entenderem, e até pagar o aluguer de casa, uma posição social que incentiva de certa maneira más práticas a nível da juventude.

Para pôr cobro à situação, Malam Mané disse que a administração local está a trabalhar para a adoção de um conjunto de medidas que visam regular a circulação de táxi-motos e, posteriormente, criar uma lei que proíba as pessoas com menos de 18 anos de conduzir.

“Recebemos várias queixas de pessoas violentadas pelos motoqueiros, segundo as quais, em caso de acidente grave, abandonam o passageiro no local”, sublinhou.

Centros de formação

O coordenador do Conselho Setorial para Desenvolvimento de São Domingos – Mistida Djuntadu, Dino Mané, afirmou que o setor tem sido confrontado com assaltos à mão armada, consumo exagerado de liamba e bebidas alcoólicas.

Segundo explicou esse jovem, são essas situações que estiveram na base da criação do conselho, que tem como missão ajudar as autoridades administrativas na busca de soluções para os problemas existentes na zona.

Nos estudos feitos, diz Dino Mané, foi concluindo que o aumento de onda de criminalidade pode estar também associado à falta de centros de formações técnico-profissional. “São centenas de jovens que concluem ensino secundário, mas que não têm condições de prosseguir com os estudos fora de São Domingos.

Um outro problema, segundo ele, tem a ver com os próprios pais, que, atualmente, deixaram de assumir suas responsabilidades paternais de ajudar na orientação das crianças na sociedade. “É bom que os pais não se divorciem das boas condutas de ensinar sempre os pequenos de que a vida nos oferece várias oportunidades, que não sejam prática de roubo ou consumo de droga”.

Gravidez precoce

Dino Mané, coordenador do Conselho Setorial

Dino Mané assegurou que a gravidez precoce tem vindo a aumentar na zona, constituindo assim uma ameaça à saúde reprodutiva, facto que levou a sua organização a pensar numa estratégia de combate a esse fenómeno, através de campanhas de sensibilização e djumbai com as famílias.

Porém, disse que o conselho está a deparar com falta de recursos humanos para levar avante seus projetos, porque muitos não aceitam aderir as iniciativas de fins não lucrativos. “Há vontade, mas o maior obstáculo está relacionado aos meios financeiros. Criamos um espaço de concertação semanal com a administração, tudo na prepositiva de arranjar soluções para os problemas do setor, porque entendemos que nenhuma instituição sozinha pode resolver esta situação”.

No entanto, lembrou terem solicitado a contribuição das autoridades administrativas para, pelo menos, garantir o funcionamento do conselho, mas receberam a informação de que maior parte das receitas do setor é canalizada para a região e o ministério da tutela, pelo que não estão a altura de atender o pedido.

Conferência setorial

O coordenador do Conselho Setorial para Desenvolvimento São Domingos – Mistida Djuntadu anunciou a realização de uma conferência setorial, no próximo mês de fevereiro, na qual participarão todas as entidades públicas e privadas, para juntos encontrar respostas aos problemas daquele setor nortenho.

Segundo suas palavras, há problemas que requerem soluções locais, portanto, com a realização desse encontro, certamente vão ser encontrados mecanismos para tirar São Domingos na “encruzilhada” em que se encontra. “Devemos incutir nas nossas mentes que o Estado não pode resolver tudo, por isso, é bom começarmos a pensar em soluções locais”.

Entretanto, Dino Mané sublinha que o conselho já pensa instituir uma iniciativa denominada Contribuição Social Voluntária, onde cada funcionário, seja ele público ou privado, vai ter que contribuir mensalmente com um valor monetário, tributo esse que vai ser extensivo a todos os populares.

Esse fundo vai ser revertido para a criação de projetos de desenvolvimento, contribuindo assim para a redução da taxa do desemprego e, consequentemente, aumentar a mão-de-obra, assim como ajudar na criação de centros de formação.

“Já passaram 50 de independência sem estradas, escolas, centros de formação, saúde, luz, água potável e emprego para jovens, portanto, não podemos continuar a espera do Estado que nem consegue resolver os problemas básicos da população. É chegado o momento de comungarmos esforços para bem do setor, aliás, foi na união que conquistamos a nossa independência”, sublinhou.

Para aquele jovem, o subdesenvolvimento é o inimigo comum que deve ser combatido com a contribuição de todos, pelo que apela à colaboração de cada individuo.

Alfredo Saminanco

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