Ministério de Cabra. É esta a designação popular do local onde se vendem cabras e carneiros, situada na berma de Estrada Volta de Bissau, perto da Clínica “Renato Grandi”. As obras, ainda por concluir no espaço destinado ao futuro Matadouro Municipal, foram financiadas pela UEMOA.
Nesse parque, os utentes (vendedores de cabras e carneiros) deparam com problemas de falta da água potável, casas de banho, iluminação, além de humidade associada a fraco negócio, sobretudo nesta época de chuva.
Contatados pelo Nô Pintcha, os responsáveis da Associação Nacional de Vendedores de Cabras e Carneiros (ANVCC) sublinharam que, apesar do espaço suficiente que dispõem para o exercício das suas atividades económicas, deparam-se com dificuldades relacionadas sobretudo com más condições higiénicas.
Igualmente, destacam a insuficiência de casas de banho, tendo apenas uma, que “não consegue” satisfazer as necessidades de inúmeros utentes, isso para não falar do isolamento, o que aumenta riscos de insegurança do local e de saúde das pessoas.
Assim, Ibraima Baldé, Idrissa Candé e Amadu Baldé, respetivamente primeiro vice-presidente, secretário-geral e membro da associação, consideram a Guiné-Bissau o único país da CEDEAO que não dispõe de um espaço devidamente organizado para venda de pequenos ruminantes, razão pela qual, exortam o governo, no sentido de prestar maior atenção aos vendedores de cabras, porque “contribuem também para a economia nacional”.
Aquisição de animais
Outra dificuldade “ainda maior” apontada pelos vendedores de cabras e carneiros tem a ver com o acesso aos animais, que, segundo eles, atualmente só se consegue nos países vizinhos, nomeadamente no Senegal e/ou na Guiné-Conacri.
Durante a viagem, enfrentam sérios problemas, tanto em relação ao custo elevado de transporte, assim como as más condições de estradas, isso sem falar do pagamento de taxas, a saber, guia dos comités de Estado e serviços veterinários.
Acrescem a essas despesas, já no mercado, a alimentação dos animais, parqueamento, segurança, assim como a taxa mensal que é paga à Câmara Municipal de Bissau (CMB).
Os vendedores revelam que as grandes despesas que efetuam no decurso da viagem em busca de animais, aliada a outros gastos imprevistos, fazem com que os preços sejam muito elevados ao consumidor final e com poucos lucros.
No passado, lembram, conseguia-se cabras dentro do país, mas, hoje em dia, raramente se consegue animais em número suficientes para abastecer o mercado nacional, o que obriga os vendedores a fazer recurso aos países vizinhos, o que, como é natural, reflete na subida dos preços.
Porém, afirmam que a Guiné-Bissau dispõe de melhores condições climáticas para cria de animais, mas falta o apoio do governo, ao contrário do que acontece noutros países, onde os criadores são concedidos créditos para poderem exercer melhor essa atividade.
Também, os próprios vendedores recebem créditos, reembolsáveis, sobretudo nos períodos de festas para poderem adquirir grande quantidade de animais.
“A Guiné-Bissau devia seguir o mesmo exemplo, pois, só com apoio, através de projetos, é que os pequenos investidores podem crescer e, consequentemente, impulsionar a economia nacional”, sublinham os responsáveis da associação de vendedores.
Volume de vendas
Questionados sobre o volume de vendas, os vendedores afirmam que, atualmente, o negócio é relativamente lento, devido ao fraco poder de compra da população, aliada às chuvas que proporcionam grande humidade no parque, situado nas margens das bolanhas circundantes.
Os períodos de maior negócio são a quadra festiva do Natal e Ano Novo, as festas do Tabasky e Ramadão e, em algumas ocasiões, o 1º de maio e Páscoa. Os potenciais clientes são os proprietários de bares de venda de carne assada e, por vezes, os protagonistas das cerimónias de batismo, casamento e de outros rituais.
Elogios à POP
Os vendedores elogiaram o apoio e a colaboração dos agentes da Polícia da Ordem Pública (POP) da Esquadra Moderna, no Bairro Militar, que, segundo eles, diariamente fazem patrulhamento noturno, o que garante a segurança ao local, evitando o roubo dos animais.
Também, recrutaram dois guardas pagos pela associação, que prestam serviço diário no parque, o que, também, vem reforçar ainda mais o sistema de segurança.
Em relação à iluminação, segundo os responsáveis da associação, o ex-presidente da CMB, Luís Intchama, prometeu, na altura, melhorar as condições do parque, à semelhança do que acontece noutros países. “Foi nessa perspetiva que trouxeram postes de iluminação e fez-se levantamento de necessidades, com vista a garantir o fornecimento de energia elétrica.
Mas, acrescentam, depois da sua exoneração, o projeto caiu por terra, e só agora, por iniciativa da associação, conseguiram colocar alguns postes para garantir a iluminação. Não obstante, pedem à atual direção da Câmara Municipal de Bissau, no sentido de retomar o processo iniciado pelo anterior presidente.
Experiência de trabalho
Amadu Baldé é um vendedor com mais de 23 anos de experiência em matéria de compra e venda de cabras e carneiros, e afirmou que este exercício é uma autêntica escola de formação profissional, porque exige grandes cálculos e o conhecimento do mercado.
Disse que com essa atividade conseguiu construir casa própria onde mora atualmente com a família, além de ter conseguido pagar propinas aos cinco filhos e dois sobrinhos.
Portanto, destacou a vantagem dessa atividade, que considera de um bom emprego, encorajando, por isso, os jovens que abracem essa atividade para exercê-la com maior rigor e responsabilidade, a fim de tirar maior proveito.
Aspetos positivos do parque
Apesar das más condições de higiene do parque, há aspetos positivos, que têm a ver com o ambiente de convivência pacífica, espírito de solidariedade, amizade, irmandade e colaboração entre os utentes, sem conflitos maiores, agressões e roubos.
Mesmo as pessoas que trazem animais para vender no parque são devidamente identificadas, isto para saber se o produto não se resulta do roubo, conhecer bem a origem e motivos da venda antes da compra.
De igual modo, apontam como aspeto positivo a localização do parque, que se situa numa zona de fácil acesso, com espaço a vontade para albergar grande quantidade de animais.
Por outro lado, o parque tem ainda vantagens comparativas, por se situar numa zona de fácil acesso ao pasto e à água para o consumo animal.
Nesse parque estão, entretanto, albergados os vendedores de suínos (porcos), com os quais partilham sentimentos e relações humanas, num ambiente de boa convivência e de colaboração.
Além de isso, há facilidade de acesso às refeições quentes em todos os momentos, graças às vendedoras de comida, embora em espaços improvisados, que não reúnem condições.
Ali, se consegue comprar “futi” (arroz branco com farinha de camarão, semente de farroba, quiabo e óleo de palma), refeição matinal preferida pela maioria dos guineenses. Também, pode-se comprar sanduíches de ovo, peixe moído, assim como salada de batata com tomate, leite com café, esparguete, sumo natural variado e “café Touba”.
Nesse parque, pode-se ainda adquirir crédito de telefone, assim como aceder aos serviços de transferência de dinheiro, através de Orange Money e Mobil Money.
Aspetos negativos
Como aspeto negativo do parque destaca-se a falta de condições infraestruturais, porque não foram finalizadas as obras de construção do matadouro, o que poderia garantir um serviço mais eficiente em matéria de inspeção de animais e carnes verdes.
Igualmente, estaria garantida água canalizada, esgotos para evacuação dos resíduos, proporcionando condições higiénicas adequadas aos seus utentes e público visitante.
Por último, a iluminação, garantindo maior segurança e melhor organização do espaço, tendo em conta que é um local que mexe muito com a saúde pública, evitando assim os riscos de contaminação, sobretudo nessa época chuvosa, período de maior propagação de doenças contagiosas, como paludismo, infeções respiratórias e diarreia.
Djuldé Djaló