Até parece incrível, mas é uma realidade ainda na Guiné-Bissau, ver as aulas a funcionar em barracas, sem mínimas condições e um grande número de crianças fora do sistema educativo, devido à falta de infraestruturas escolares adequadas para o funcionamento normal das aulas.
Esta situação é patente na Escola do Ensino Básico Salquenhe N´dim, em K-3, uma localidade que dista três quilómetros de Farim, capital da região de Oio, com níveis de 1º a 6º ano de escolaridade.
O Nô Pintcha visitou essa localidade no início desta semana, onde deparou com uma situação deplorável. Para já, as aulas têm funcionado numa barraca, coberta com folhas de cibe, vedada com chapas de zincos velhos e com carteiras improvisadas.
No período das férias, os alunos de 12 a 20 anos de idade, professores, incluindo o diretor e os seus colaboradores procuram pedaços de tábuas, cibes, prego e outros materiais, para reabilitar anualmente a referida barraca.
Escola construída na época colonial
A Escola Salquenhe N´dim, em K-3/Farim, foi construída na época colonial, em 1971. Tem quatro salas de aulas, com capacidade para cerca de uma centena de alunos, gabinete do diretor, casa de banho, poste de bandeira e vedação.
Esse imóvel, herdado dos portugueses, encontra-se num estado muito avançado de degradação e não oferece mínimas condições para o funcionamento das aulas. Aliás, pode desabar a qualquer momento, porque nas paredes vislumbram grandes fendas, além do telhado que quase não existe.
As carteiras, doadas pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), já estão completamente danificadas pela água das chuvas que entram a partir do telhado.
Esta realidade levou o diretor e os seus colaboradores a decidirem improvisar uma escola de barraca, com intuito de fazer com que as crianças das 14 tabancas abrangidas por esse estabelecimento de ensino não fiquem fora do sistema educativo.
Falando da precaridade dessa infraestrutura escolar, o diretor disse que o imóvel encontra-se no estado avançado de degradação, por não ter beneficiado de ação de reabilitação, tendo alertado que se não houver intervenções imediatas, ainda neste período de chuvosa, a escola pode deixar de funcionar definitivamente.
Sem apoios nem promessas
Carlos Embana lamentou o facto de, até então, não existir nenhuma garantia da parte do quem de direito ou de um projeto para eventual reabilitação daquela infraestrutura, construída há 53 anos.
Por outro lado, Embana, preocupado com a situação, afirmou que hoje em dia, a povoação de K-3 cresceu, com número elevada de crianças com idade escolar, lembrando que essa escola fora construída pensando num número relativamente reduzido de menores. “Atualmente existem 14 tabancas que dependem deste único estabelecimento escolar” disse.
Por outro lado, afirmou que nos dois anos letivos anteriores, muitos alunos ficaram fora do sistema, por terem medo de uma eventual desabamento das paredes, por causa da degradação do edifício.
“Estamos a fazer o máximo possível e até fora do nosso limite, com intuito de fazer com que as crianças não fiquem fora do sistema. Só que, também, não temos o direito de pôr em causa a vida das crianças”, lamentou o diretor.
No que tange às dificuldades, o diretor, ao mesmo tempo docente, lamentou a distribuição tardia dos materiais didáticos, o que constitui fator de insucesso na aprendizagem dos miúdos.
Segundo ele, graças aos esforços da direção da escola e dos professores, conseguiram atingir mais de oitenta por cento de aproveitamento dos alunos.
Porém, Embana insistiu que a escola precisa de apoio mais rápido possível, porque “até então, a direção não tem coragem para iniciar as matrículas, devido às condições físicas do edifício, que não oferece segurança para o funcionamento das aulas.
No entender de Carlos Embana, é bom construir uma nova escola, uma vez que existe terreno próprio para o efeito, considerando o número elevado de crianças com idade escolar que querem continuar a estudar.
Fulgêncio Mendes Borges