Gabu prevê boa campanha agrícola

O serviço regional da agricultura de Gabu prevê este ano uma boa campanha agrícola, caso chuvas forem bem aproveitadas, com a utilização de sementes de qualidade e adaptáveis aos campos de lavoura.

A previsão é do diretor regional da agricultura, Mama Samba Candé, em entrevista exclusiva ao Nô Pintcha.

Apesar dessa previsão positiva, disse que até ao momento a direção regional não recebeu os habituais apoios que distribui anualmente aos agricultores, nomeadamente sementes de qualidade e materiais.

Por outro lado, revelou que a Direção Regional de Agricultura conta, neste momento, apenas com três tratores para apoiar os agricultores na lavoura, o que é insuficiente para cobrir toda a região, tendo em conta a dimensão e as demandas dos camponeses.

Igualmente, Mama Samba Candé informou que a sua direção depara com enormes dificuldades, à semelhança de vários serviços regionais, ligadas à insuficiência de meios materiais e recursos humanos. Sobre estes últimos, disse que a instituição conta atualmente com três técnicos médios, 15 animadores, oito operadores de máquina e três mecânicos.

Falou também da fuga de quadros do setor agrícola, devido às más condições laborais e dos magros salários praticados no setor, o que, segundo ele, tem desmotivado os quadros, contribuindo assim para o abandono progressivo desses em busca de empregos mais remuneráveis.

De igual, acrescentou, desencoraja os jovens que queiram formar-se na área agrícola, o que, em certa medida, põe em causa o desenvolvimento desse setor tido como base da economia do país.

Candé falou também da consequência de monocultura de caju, tendo exortado aos camponeses a diversificarem as culturas como forma de garantir a segurança alimentar e o aumento de renda das famílias camponesas. Neste sentido, informou sobre o plano que a sua instituição tem para o relançamento das culturas de renda, nomeadamente gergelim, algodão, amendoim (mancara), entre outras.

O diretor regional da agricultura destacou também a contribuição das ONG’s, tanto nacionais como estrangeiras que operam na região, em prol do apoio ao desenvolvimento comunitário.

 Eis na íntegra o teor da entrevista

 Senhor diretor, inicia-se mais um ano agrícola. Que previsão faz em relação à próxima campanha?

 Prevemos uma óptima campanha agrícola, aliás, pelas informações meteorológicas, se as chuvas forem bem aproveitadas, no tempo devido, com sementes de qualidade, esperamos uma campanha que possa garantir a segurança alimentar na região.

É importante que os agricultores aproveitem no máximo o tempo para não esperar mais, uma vez caindo as chuvas, devem lançar as sementes quanto antes para que não seja tarde.

Como é sabido, a Região de Gabú, dada a sua caraterística geográfica, situa-se numa zona de risco, com o avanço da seca, resultado da exploração desenfreada das florestas, o que contribui, em parte, na redução da precipitação.

O que é que os agricultores da região podem esperar da Direção Regional da Agricultura (DRA) em termos de apoio?

 Porquanto se aguarda o apoio do Governo em função do plano apresentado pelo Ministério da Agricultura. Não obstante, existem projetos com possibilidade de fornecer sementes e materiais aos agricultores da região.

Uma das dificuldades tem a ver com a falta de tratores para responder às demandas dos agricultores. Qual é a situação neste momento?

 A Direção Regional da Agricultura tem um plano para apoiar os produtores com três tratores, que é insuficiente tendo em conta a dimensão da região e as necessidades apresentadas pelos agricultores. Contudo, vamos tentar gerir no máximo, mediante um plano de atendimento, priorizando as zonas mais necessitadas. Mas, na verdade, esses tratores não podem dar cobertura necessária, o que também constitui uma preocupação para os serviços regionais de agricultura que querem, de facto, apoiar os agricultores para que possam produzir mais.

As primeiras chuvas foram acompanhadas de fortes tempestades que provocaram danos em algumas localidades, caso concreto de Setor de Pitche. Que conselho queria deixar a população?

É verdade que essa situação preocupa toda a gente, uma vez que é o início das chuvas e não se sabe o que poderá acontecer posteriormente. Mas, nós aconselhamos às comunidades a fazerem construções resilientes aos ventos e continuar a fazer o repovoamento com árvores que servirão de para-vento.

A Região de Gabu é confrontada com o avanço progressivo da seca e desertificação, o que está a ter reflexos negativos na produção agrícola. Perante esta situação, o que é que o serviço regional de agricultura está a fazer para atenuar esses riscos?

 O serviço regional de agricultura, particularmente a repartição regional das florestas, tem levado a cabo campanhas de reflorestação em alguns sectores da região e, também, os agentes de BPNA estão sempre a fiscalizar para que não haja devastação das florestas. Como sabemos, as florestas são importantes para a preservação do clima, assim como garantir a precipitação.

Mas, a seca avança anualmente, o que deve constituir uma preocupação, pelo que devemos unir esforços para a preservação das nossas florestas, pois, a seca tem consequência sobre a vida humana, animal e florestal.

A monocultura de caju constitui um risco à segurança alimentar e nutricional. Concorda com esta afirmação?

 É verdade, reconhecemos que a monocultura do caju contribui na desnutrição das crianças e das famílias por falta de consumo de nutrientes, mas sensibilizamos os camponeses na diversificação das culturas e na valorização dos produtos locais.

No seu entender, o que é que deve ser feita para garantir a segurança alimentar e promover a economia da população camponesa?

 O Governo deve apoiar os camponeses para diversificar as suas culturas, apoiar em sementes melhoradas, tractores, fazer um acompanhamento técnico e incentivar o consumo dos produtos locais.

 E em relação à produção hortícola, os serviços regionais têm um plano para apoiar as horticultoras?

 Sim, cada campanha hortícola a DRA fornece às horticultoras sementes de hortaliças, produtos fitossanitários, adubos, acompanhamento e assistência técnica. Pois, a horticultura é muito importante não só para o rendimento económico das mulheres, mas também contribui na variação da dieta alimentar, reforçando o quadro nutricional da população.

Como é que o senhor diretor aprecia a contribuição das ONG’s na região, sobretudo no que concerne ao apoio ao desenvolvimento comunitário?

 Apreciamos muito bem a contribuição das ONG’s. Elas (as nacionais e estrangeiras) têm estado a contribuir significativamente no desenvolvimento local, contribuindo na melhoria das condições sociais e económicas das comunidades.

Quais as maiores dificuldades que enfrentam em termos de materiais e recursos humanos?

Temos dificuldades como todos departamentos estatais, sobretudo no domínio dos recursos humanos, materiais e financeiro.

 A DRA de Gabú tem técnicos suficientes para garantir a operacionalidade efetiva dos serviços?

 A DRA de Gabú conta atualmente com três técnicos médios, 15 animadores agrícolas, oito operadores de máquina e três mecânicos.

Além de falta de técnicos espacializados, não temos nenhum quadro superior em todas as repartições que compõem a Direção Regional da Agricultura.

O setor agrário, apesar de ser base da nossa economia, está em decadência, devido à fuga de quadros e outros já em idade de reforma. Concorda com esta afirmação? Porquê?

Concordo, porque de facto o Ministério da Agricultura é uma das instituições do Estado com os mais baixos salários, o que tem contribuído na fuga dos seus quadros para outros ministérios, além de desencorajar, como já referi, os jovens com vocação na área.

Djuldé Djaló

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