O Setor de Komo, com cerca de 10 mil habitantes, tem um centro de saúde com apenas dois técnicos para o atendimento da população, sem condições para o internamento de doentes. Esta situação está associada à falta de piroga exclusiva para evacuação de pacientes com urgência para o Hospital Regional Musna Sambu de Catió.
Iaia Indjai, enfermeiro colocado na zona, lamenta a dificuldade de acesso a Komo, dizendo que estão a deparar com muitos obstáculos, sobretudo no que se refere ao meio de transporte para as deslocações de rotina.
O técnico afirmou, por outro lado, que os doentes atravessam muitos riscos, pois, certas vidas que poderiam ser salvas acabam por ser perdidas, devido à falta de transporte.
“Os casos que ultrapassam a nossa capacidade técnica e material são normalmente encaminhados para Catió. Nesse processo, às vezes, nós, os técnicos de saúde, é que assumimos fazer contactos com os proprietários de canoas”, salientou Indjai.
Tendo em conta a limitação financeira de algumas famílias, eles é que suportam os custos de evacuações para depois a família devolver. Porém, “nem sempre nos retornam o que gastamos, mas, pronto…vamos continuar a salvar vidas na medida do nosso alcance”.
A Ilha de Komo tem neste momento apenas dois técnicos de saúde para atender cerca de 10 mil habitantes, localizados nas diferentes tabancas distantes umas das outras, para não falar ainda da dificuldade de acesso.
A diversidade e multiplicidade dos problemas de saúde junto das comunidades da ilha obrigam os técnicos sanitários a serem polivalentes, aprendendo um pouco de cada área de saúde humana.
O exercício “forçado” dos profissionais de saúde evidencia, sem dúvida, a necessidade de colocar mais pessoal técnico nos diferentes centros de saúde, permitindo a cobertura mais alargada e abrangente.
Dada a insuficiência dos recursos humanos e meios materiais, os profissionais que ali labutam só fazem testes rápidos para a descoberta de certas patologias, nomeadamente a baixa hemoglobina, glicemia, VIH e análises de urina.
“Fizemos vários pedidos para a disponibilização de uma canoa exclusiva para evacuação de casos urgentes, mas até ao momento não há resposta satisfatória”.
Indjai disse que toda a movimentação que os técnicos de saúde fazem nas campanhas de vacinação, o Ministério da Saúde aluga canoas nos valores que variam entre 200 mil a 250 mil francos CFA, e as missões dos partidos políticos para aquela zona também é a mesma coisa. Aliás, afirmou que esses últimos colocam canoas à disposição dos militantes para fins económicos.
Aquele técnico pediu ao Governo, no sentido de ampliar a unidade hospitalar local, adotando-a de condições para o internamento de doentes, de forma a diminuir as evacuações que, muitas vezes, sobretudo os casos que poderiam ser tratadas em Komo, isto é, se forem colocados recursos humanos suficientes e qualificados, acompanhado de meios materiais.
“O Ministério da Saúde Pública deve colocar aqui, no mínimo, um médico e uma parteira. Uma outra dificuldade com que deparamos em Komo tem a ver com a falta de água corrente, devido à avaria da eletrobomba há três anos sem solução à vista”, destacou.
Segundo Iaia Indjai, o nível da pobreza é gritante. Alguns pacientes são dados guias de transferência de Komo para Catió, mas devido aos fracos meios financeiros, os familiares recusam, com alegações de que não têm dinheiro para suportar os encargos no hospital regional.
Acrescentou que em certos casos, se os técnicos sanitários persistirem na transferência do doente, a família acaba por sair e recorre à cura tradicional, outros até voltam com o paciente para casa.
Situação do ensino
O diretor do liceu de Komo, Mampa Mendes Indi, alertou que o próximo ano letivo de 2024/2025 pode estar comprometido, devido ao estado avançado de degradação das instalações da escola. Assim, para não deixar muitos alunos fora do sistema é urgente a reabilitação dessa infraestrutura.
A alta taxa de abandono escolar preocupa Indi, apontando a prática de agricultura e cultura de fanado como principais causas desse fenómeno.
Entretanto, os jovens deixam a escola para assumir a lavoura nas bolanhas, sendo a prática sobre a qual mais de 90 por cento da população local sobrevive e, as crianças também são orientadas pelos pais a irem cuidar do cultivo, em detrimento dos estudos.
Calendarizar o fanado
As cerimónias tradicionais de fanado são atribuídas um grande significado étnico-cultural. A este respeito, o professor Mampa Mendes Indi defende a sua calendarização pelo Estado em todo o território nacional, como forma de evitar as interrupções durante o ano letivo.
Outra grande dificuldade apontada pelo diretor tem a ver com a insuficiência de professores. Atualmente, lecionam seis docentes enquanto o número necessário para a cobertura normal é o dobro.
Aliu Baldé