O administrador do Setor de Caravela lamentou a situação de isolamento por que passam as ilhas de caravela e Uno, tendo em conta a falta de transporte, centro de saúde, energia eléctrica, roubo de gado e disputa de terra.
As preocupações do Abulai Fati foram manifestadas em entrevista concedida ao Nô Pintcha, para falar da situação administrativa do Setor de Caravela.
Fati disse que faz todo sentido o Governo prestar um pouco atenção a esse setor, pois em relação a Bolama, Formosa e Bubaque, está mais isolada.
“A falta de barco e piroga de carreira está, sem sombra de dúvida, a criar entraves no quotidiano da população”, afirmou.
Aquele responsável informou que, de momento, só a ilha de Formosa é que dispõe de um bote, disponibilizado pela ONG Tiniguena, para assegurar a ligação à capital.
“Contudo, esse bote não consegue satisfazer os populares das quatro ilhas arredores, devido ao incumprimento do calendário de carreiras fixado”, explicou.
Demonstrou que em várias ocasiões, produtos silvestres, mariscos e tantos outros extraídos pelas mulheres para fins comerciais, estragam no porto. Tudo porque, segundo ele, não há transporte especificamente que faz ligação ao continente. “Em consequência dessas dificuldades, muitas famílias acautelam em produzir mais, por não terem garantias de que vão poder evacuar os produtos para Bissau”, sublinhou Fati.
Neste sentido, o administrador de Setor de Caravela acrecentou que o Governo deve colocar pelo menos duas pirogas naquela localidade, isto para não só facilitar a deslocação da comunidade local em caso da doença, mas também permitir que os responsáveis administrativos circulem e/ou troquem correspondências com regularidade. “Portanto, é vergonhoso e não é digno ver um responsável administrativo a mendigar transporte a um privado (neste caso os nhomincas)”.
Segundo Abulai Fati, mesmo tendo os dois meios de transportes solicitados, não resolve a totalidade de problemas que as ilhas enfrentam, porque a zona insular é vasta, pois os quatro setores da Região de Bolama contam com ilhéus de difícil acesso.
Entretanto, Fati manifestou-se preocupado pelo facto de Setor de Caravela não dispôr de meios de transportes para evacuação de doentes ao Centro de Saúde de Bubaque. “Se houver urgência recorrem-se aos nhomicas caso estivessem disponíveis”.
“Esta situação coloca a saúde da população em risco inimaginável, razão pela qual há toda uma necessidade de melhorar as condições de circulação nessa área”, referiu.
“As causas de toda esta situação devem-se ao facto da própria administração local não dispor de um bote que lhe permite circular e, consequentemente, resolver diferendos a nível das comunidades locais”, frisou.
Aquele responsável confirmou ter recebido o aval do Governo e, nos próximos tempos, vai avançar com a criação dos comités de Estado nas respetivas zonas, para poderem, no futuro, reportar informações do quotidiano das populações.
Roubo de Gado
O administrador do Setor de Caravela lembrou que num passado recente, os “bandidos” armados levaram piroga no porto para transportar 11 cabeças de gado roubados na ilha de Ghago. “E tomamos conhecimento sobre o sucedido, mas nada poderíamos fazer, devido à falta de bote ou piroga, para deslocarmos a tempo, facto que muitas vezes resulta no desaparecimento de evidências para investigação”.
Daí que, acrescentou, o executivo precisa colocar, mais urgente possível, agentes da Ordem Pública, pois são eles que lidam diretamente com esses problemas.
Consumo da água de poço
Questionado sobre a situação de saúde no setor, Abulai Fati explicou que Caravela dispõe apenas de uma estrutura de saúde do tipo C, com três técnicos (responsável do centro, enfermeira e parteira), e só atende casos de primeiro socorro e não tem condição para internamento.
Portanto, os técnicos só realizam testes rápidos de paludismo e ministram, de forma ambulante, os remédios às pessoas com dores de cabeça e febres ligeiras.
Por outro lado, revelou que partos são realizados em condições deploráveis, associadas à inoperância, já há um ano, da mota bomba que fornece água, o que torna mais frágil ainda a situação daquela estrutura sanitária.
Esclareceu que em grande parte das comunidades do Setor de Caravela consomem água de poço em pleno século XXI, “não obstante o trabalho excecional dos evangélicos que estão apoiar os populares de algumas tabancas de Secção de Formosa, em matéria de educação, consultas gratuitas e venda de medicamentos em preços simbólicos.
Insuficiência de professores
Quanto à situação de Educação, o administrador do Setor de Caravela disse que o ensino é péssimo naquela zona, pois a escola local conta com apenas dois professores que lecionam os níveis da pré-primária à 4 ª classe.
Abulai Fati explicou que essa escola precisa de mais professores para o melhor funcionamento, tendo reconhecido que quatro níveis de escolaridade constituem tarefa pesada para dois professores.
“Os meninos dessa zona enfrentam enormes dificuldades, isto é, após terminarem 4ª classe, acabam os estudos, por falta de possibilidades dos pais para enviarem os filhos a Formosa ou Bissau, a fim de prosseguir os estudos”, indicou.
Por isso, Fati apela ao Governo, no sentido de instituir o Terceiro Ciclo no Setor de Caravela e, também, colocar um liceu na Ilha de Formosa.
Cartório Notarial
Entretanto, o administrador aproveitou a ocasião para pedir ao Governo que crie um Cartório Notarial de registo civil, para facilitar aquisição dos documentos aos populares daquela zona.
“As pessoas em geral, e jovens em particular, enfrentam dificuldades sérias no processo de inscrição nas escolas, devido à falta de registo de nascimento. Muitas vezes deslocam-se à Região de Biombo a procura desse documento”, informou.
Farol de sinalização
Administrador do Setor de Caravela apelou, igualmente, ao Governo no sentido de colocar o “farol de iluminação” numa pedra gigante que situa nas proximidades da Ilha de Maio, porque constitui perigo iminente. “Inclusive, uma piroga oferecida pelo Chefe de Estado aos populares de Caravela estragou naquela travessia, logo, após o embate violento nessa perda”.
Abulai Fati afirmou, por outro lado, que os habitantes do Arquipélago dos Bijagós correm riscos de vida cada vez que deslocam, tendo em conta que com a maré cheia essa pedra torna-se invisível.
Julciano Baldé