O Setor de Bigene situa-se no norte do país, Região de Cacheu, fazendo fronteira com os setores de Bula, São Domingos, e Farim.
Dispõe de um centro de saúde do tipo C, com três técnicos: parteira, enfermeiro do curso geral e um técnico de laboratório. Não tem de unidade de internamento de doentes, água canalizada, ambulância nem luz elétrica.
Como alternativa, o centro trabalha com painéis solares, doados por um projeto. A via rodoviária que liga Ingoré, Bigene e Farim está a ser reabilitada, o que constitui o motivo de alívio, porque no passado, aquela rodovia estava em péssimas condições.
Entretanto, o setor regista situações de roubo à mão armada, corte de madeira e conflito de posse de terra.
Sobre a situação, o administrador, Agostinho Apa, disse que desde que foi nomeado, tem feito diagnósticos sobre os problemas que afetam o quotidiano da população, porque, no seu entender, enquanto não forem resolvidos, torna-se difícil pensar nos projetos de desenvolvimento.
Então durante esses anos, disse que a sua missão foi exatamente resolver situações de crime, sobretudo ligado ao furto e roubo, que está a contribuir na perda de vidas humanas naquela zona. No seu entendimento, esses problemas requerem soluções locais, entre famílias e comunidades.
Para sustentar a sua tese, Agostinho Apa revela que nas tabancas, a população qualifica a justiça convencional uma ofensa ou maldição. “Além dessa realidade, também a justiça é dispendiosa e lenta, facto que muitas vezes acaba por gerar conflito”.
“Assisti um conflito de posse de terra entre duas famílias, onde a justiça decidiu e a outra parte recusou acatar a sentença de juiz. Então, como não ficou satisfeito, resolveu fazer justiça com as próprias mãos. Depois do ocorrido, resolvi envolver-me na resolução do problema. Foi a partir dessa intervenção que as partes em litígios acabaram por se entenderem, e o caso ficou resolvido”, informou.
Mediação de conflitos
Perante esta situação, ele, enquanto administrador, decidiu assumir o protagonismo de mediação de conflitos, assim como promover encontros de sensibilização com diferentes tabancas, no sentido de banir as más práticas.
Relativamente à corte de madeira, o administrador descobriu que há polícias locais envolvidos nessa prática, colaborando com a comunidade.
“Quando descobri, convoquei uma reunião, que contou com a presença de chefes de diferentes tabancas, policias e elementos da Guarda Nacional, para em conjunto buscarmos soluções. Logo na minha intervenção, mostrei que temos escolas sem carteiras, esquadras sem secretárias e a própria administração, então foi esta estratégia que adotei para puder combater aquela prática, que, de facto, está a dar resultados”, salientou.
Depois da reunião, acrescentou, dentro de uma semana conseguimos descobrir e recuperar cerca de duzentas folhas de madeiras na linha fronteiriça com o Senegal, graças à colaboração do comando da polícia e da comunidade.
No processo de recuperação da madeira apreendida, as autoridades senegalesas alegaram que as mesmas não podem sair sem a presença do administrador ou governador. “Quando fui informado, de imediato constitui uma delegação que viria a recuperar a madeira”.
Segundo Agostinho Apa, furto de gado é uma prática que, também, tem constituído dores de cabeça para administração de Bigene.
“Na verdade, nos últimos tempos, os jovens têm optado ir ao Senegal para a prática de furto, situação que em várias ocasiões tentei desencorajar, mas sem sucesso, não acataram o meu conselho”, revelou.
Segundo suas palavras, quase diariamente os jovens são baliados na zona fronteiriça, cujos corpos só se conseguem ser transladados com a intervenção da administração. “Já transladei vários cadáveres, situação que lamento muito e, neste momento, três jovens estão presos em Kidombo, Senegal, por suspeito de furto”, explicou.
Alfredo Saminanco