O governador da Região de Quínara afirmou que a sua equipa está determinada em reorganizar a administração local, embora reconheça que nem tudo é pior, mas de forma geral a situação não é nada favorável. Aliás, admitiu que é preciso fazer muita coisa para que as regiões estejam a nível daquilo que representa para o país.
Guiné Silva Nanbana disse que a Região de Quínara, à semelhança do resto do país, não dispõe de infraestruturas dignas, nomeadamente estradas, centros de saúde, portos, escolas e condições de atendimento aos utentes. Acrescentou que nem o governador e muito menos a administração dispõem de viaturas, e em caso de necessidade de deslocamento em missão de serviço, recorre-se a outros serviços ou pessoas singulares pedindo prestado viaturas ou motorizadas.
Quanto à prioridade da sua governação, Silva Nanbana defendeu que na Região de Quínara tudo é prioritário, destacando o setor de saúde, um dos maiores handicaps na região, porque, segundo ele, nem a capital regional tem hospital.
“Aliás, a Região de Quínara continua, infelizmente, a funcionar com apenas centros de saúde, isso para não falar dos setores. Acrescentou que as condições em que se encontram os centros sanitários e escolas públicas da região deixam muito a desejar, devido à qualidade dos serviços que prestam às populações.
Por esta razão, apelou à intervenção urgente do Estado para fazer as coisas avançar, tendo em conta a necessidade da população e dos desafios do desenvolvimento.
Questionado sobre como inverter a tendência, Guiné Silva defendeu a devolução da autonomia financeira às regiões, permitindo que as receitas cobradas localmente sejam investidas nos projetos de desenvolvimento regional.
Justificou que quando não houver o retorno das receitas, é óbvio que as regiões continuarão como estão. Em relação às receitas provenientes da cobrança do mercado e feiras populares, explicou que o volume é insuficiente e não chega nem para garantir o funcionamento administrativo e muito menos para pagar salário ao pessoal contratado.
Neste momento, segundo o governador, a administração, em parceria com a delegada do Ministério da Economia e do Plano, está a trabalhar na identificação de parceiros e na elaboração de alguns projetos de desenvolvimento, tendo em conta que Quínara é uma das regiões mais atrasada da Guiné-Bissau.
Contudo, disse existir diferentes associações e ONG que atuam nas áreas específicas, mas o “fundamental é promover o desenvolvimento e desencravar a região”.
Controlo da região
A luta pela posse da terra é um problema nacional que deve preocupar toda a sociedade nacional. Mas, na Quínará a situação ganhou outra dimensão, ao ponto dos regulados e anciões forem manifestar ao governador as suas preocupações sobre a necessidade da administração regional os informar sobre os limites da região, facto que motivou a imediata reação do regulado de Foreá, Setor de Quebo, Região de Tombali.
Mais diante, disse que os visitantes informaram-lhe também sobre a investidura do novo régulo regional de Quínara, e no meio dessa conversa, Guiné Silva Nanbana disse ter recebido um telefonema do régulo de Foreá, insultando a outra parte, usando palavrões e ameaças, facto que lhe obrigou a interromper a comunicação.
Em resposta às solicitações, o governador disse ter tomado boa nota e prometeu-lhes resposta em “tempo oportuno”, assim que entrar em contacto com o Ministério da Administração Territorial e Poder Local.
Depois de ter deslocado a Bissau, informou o ministro e a sua equipa do ocorrido, tendo recebido a orientação para solicitar o cancelamento da cerimonia de posse do régulo regional de Quínara, que, de forma pouco amigável, aceitaram o adiamento do ato.
Por outro lado, lamentou o comportamento dos poderes tradicionais das duas regiões, tendo alertado que o assunto é sério e se não for tomado medidas necessárias e urgentes para evitar o problema, a situação poderá descambar e provocar danos imprevisíveis.
Venda de terreno e posse de terra
Quanto ao processo de venda de terreno e posse de terre, o governador afirmou que os ocupantes tradicionais procedem, em certas situações, à venda de terra sem dar conhecimento às autoridades componentes.
Neste sentido, Guiné Silva apelou aos ocupantes tradicionais, no sentido de atuarem dentro da legalidade, em qualquer que seja decisão sobre a sua propriedade, nomeadamente venda de casa, terreno, ponta ou quinta.
Por outro lado, o jovem governador afirmou que a situação de crime organizado, assaltos á mão armada não tem-se registado durante o seu mandato. Porém, explicou que as agressões e disputa no seio da juventude, são frequentes durante as jornadas de futebol, mas também não são tão alarmantes.
Acesso ao pescado
O governador queixa-se da falta de peixe de qualidade no mercado local, tendo afirmado que os pescadores colaboram com mulheres vendedeiras que adquirem peixes e levam para o Senegal e outros mercados onde há grande procura, caso de Bissau, Bafatá e Gabu.
Por outro lado, denunciou a intenção da Associação dos Pescadores de Buba, que opõem a entrada de pescadores que não estejam radicados nessa cidade.
“Não vamos aceitar que esta situação se continue. Estamos a ponderar, mas temos que atuar para permitir que a população de Buba tenha acesso ao pescado de qualidade, porque se não aceitamos entrada de outros pescadores, portanto, não vamos permitir também que o peixe seja levado para outras zonas, é um paradoxo se continuamos assim”, advertiu.
Buba sem eletricidade
Relativamente à luz elétrica, o governador disse desconhecer a situação da empresa TIMNAI – consórcio indiano, responsável pelo fornecimento e distribuição da corrente para toda zona sul a partir de Buba.
Lembrou que o projeto enfrentou resistência da parte das organizações ambientais que alegam a incompatibilidade.
Assim, Silva Nanbana disse que a maior esperança da população da zona sul, sobretudo da Região de Quínara é o projeto da eletricidade da OMVG.
Formação juvenil
A Igreja Católica de Buba construiu em 2018 um Centro de Ensino e Formação Agrícola nessa cidade, com a finalidade de estimular a camada juvenil a encarar a agricultura como alavanca para o relançamento da economia da Guiné-Bissau, enquanto país potencialmente agrícola.
De acordo com documentos que tivemos acesso, a Igreja Católica é tida como um parceiro vital na promoção do ensino em todo o mundo, sobretudo escolas vocacionadas.
O projeto foi elaborado pela Fundação Fé e Cooperação, através da Cooperação Portuguesa, que mobilizou o financiamento da União Europeia para a edificação deste centro de formação.
Segundo os dados recolhidos, todos os jovens externos que pretendam frequentar o curso de agricultura, devem ter, no mínimo, 9º ano da escolaridade, podendo assim concluir o 12º ano e integrar ao curso.
O centro funciona em dois turnos, com seis salas de aula de 30 alunos cada, e tem a capacidade para 360 estudantes, sendo a mensalidade calculada em 8.000 francos CFA.
No entanto, o Centro de Ensino e Formação Agrícola acolhe todas as pessoas interessadas, independentemente da sua religião ou situação geográfica, devendo apenas reunir as condições do ingresso.
Os formandos podem, por iniciativa própria, criar microempresas que possam transformar a sua vida económica, tendo em conta a potencialidade do país no setor agrícola.
Seco Baldé Vieira