Jovens de Cacheu lamentam falta de iniciativas para o desenvolvimento local

A cidade Cacheu fica situada na margem do rio do mesmo nome. Administrativamente, é tida como capital regional, apesar da maioria dos serviços estatais concentrarem-se em Canchungo.

Segundo o censo demográfico de 2009, o Sector de Cacheu tem uma população de cerca de 18.563 habitantes, dos quais 5.674 encontram-se no centro urbano, distribuídos numa área territorial de 1.004,4 quilómetros quadrados.

A cidade dista de Bissau cerca de 100 quilómetros, tendo situado a noroeste da capital, e possuí um parque natural e fantásticas paisagens, que combinam florestas, savanas e o rio.

Para já, é uma cidade rica em diversidade étnica e cultural, habitada pelas etnias felupes, baiotes, manjacos, balantas e banhus, o que tem permitido à conservação das tradições culturais local, bem como da natureza e da sua biodiversidade.

As etnias que vivem nessa zona nortenha, na sua maioria são animistas e, segundo seususos de costumes, as florestas são sagradas, onde as grandes árvores que rodeiam as aldeias são conotadas com os espíritos.

Em termos económicos, para além do pouco artesanato e turismo existentes nesta localidade, as comunidades vivem, sobretudo, da agricultura, da exploração de recursos florestais, mel, frutos silvestres, vinho de palma e de plantas medicinais.

Além dessa riqueza natural, Cacheu goza do memorial da escravatura e do tráfico negreiro, pois, é uma cidade que os estudantes e académicos podem ir fazer as investigações científicas, graças a reabilitação do baluarte museológico que se encontrava em ruínas.

O setor é denominado pela orizicultura de mangal, que consiste no cultivo do arroz, praticada pelas etnias balantas e felupes.

Para o cultivo do arroz nas bolanhas são levantados diques, de forma a separar as parcelas e isolar as mesmas da água do mar.

Desemprego

No que concerne à formação de professores, o setor dispõe de dois centros, sendo um instalado na cidade e outro na localidade de Bachil. É um setor que enfrenta série de problema de emprego jovem, devido à falta de política de desconcentração dos serviços de Estado associada à incapacidade do setor privado na criação de postos de emprego.

Perante esta realidade, o presidente da Associação de Jovens do Setor de Cacheu, Tundé Raul Gomes, disse que a juventude enfrenta dificuldades de várias ordens, nomeadamente a falta de emprego, empreendedorismo, acesso ao crédito, entre outros.

Segundo ele, Cacheu é a única cidade que tem somente uma entrada, situação que lhe coloca em desvantagem em relações as outras cidades. “A segunda via é marítima que praticamente não funciona, devido falta de meios de transportes.

Essa situação tem influenciado negativamente o desenvolvimento do setor, tornando-o pouco atrativo aos investimentos, isso para não falar de ausência de projetos que possam ajudar na criação de emprego para os jovens.

Perante esta realidade, de acordo com Tundé Raúl Gomes, os jovens são obrigados às atividades da pesca, horticultura, entre outras, para ganhar o pão de cada dia. “Os projetos que atuam nessa zona são de curta duração, situação que, às vezes, acaba por refletir ou influenciar a entrada de jovens em certos vícios, porque já habituaram a ganhar dinheiro”, salientou Tundé Gomes.

Por outro lado, sublinhou que a nível da associação tinham desenvolvidas ações de sensibilização em diferentes bairros, com o objetivo de incutir na mente da juventude de que mesmo estando no desemprego, não podem de forma alguma ocupar seus tempos livres sentado nas “bancadas”.

Normalmente, disse ele, só quando se aproxima o período das festas é que alguns jovens começam a procurar trabalhos. “Sempre aconselhamos aos colegas no sentido de aprenderem as profissões, como mecânica, pedreiro, canalização, carpintaria, entre outros”.

Centros de formação

Relativamente ao Centro de Formação de Professores em Cacheu, Tundé Raúl Gomes, disse que no primeiro ano da sua abertura, a juventude local não tinha aderido ao projeto, só depois de constatarem afluência de pessoas, vindas de diferentes cantos do país é que começaram a interessar-se.

Porém, pediu à abertura de mais centros de formações noutras áreas, para facilitar aqueles que queiram forma-se noutros ramos de atividade. “Os jovens nesse setor gostam de escola, alias, posso-lhe garantir que 90 por centos de rapazes e raparigas frequentam estudos. O maior problema é a continuidade, depois de concluído o ensino liceal, porque na maioria de casos, os alunos, mesmo querendo seguir com estudos, mas a falta de condições acaba por ser o fator determinante”.

Falta de luz e água

O presidente da Associação de Jovens, Tundé Gomes, informou que há mais de nove anos que a cidade de Cacheu está sem luz elétrica devido à má administração. “Há uns anos foi criada uma comissão de gestão, que começou a fazer os trabalhos de dinamização e de levantamento das necessidades para o funcionamento regular da central elétrica local. Passado algum tempo, a comissão deixou de funcionar por motivos que ninguém sabe”, salientou.

De acordo com esse responsável da juventude, a luz elétrica é atualmente para quem tem meios de comprar um gerador.

Em relação à água, a situação é um pouco diferente. “Não sei se posso dizer que há ou não, porque só dez por centos de pessoas que conseguem ter acesso a esse líquido precioso, e a maioria vive sem água canalizada e/ou potável”.

Além dessa realidade, o mercado central também se encontra em péssimas condições, quer a nível da cobertura e assim como as condições higiénicas, o que suscitou reações das mulheres, exigindo a sua reabilitação.

Alfredo Saminanco

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