A campanha agrícola 2023/24 na região de Gabu iniciou com pressão dos agricultores à Direção Regional da Agricultura (DRA) que solicitam apoio do Governo para poderem produzir a fim de cobrirem os prejuízos da má campanha de comercialização da castanha de caju registado este ano.
A informação foi avançada à reportagem de Nô Pintcha pelo responsável de Repartição Agrícola da região e ex-diretor regional da agricultura de Gabu, Lássana Dam.
De acordo com aquele responsável, os agricultores de todos os setores invadiram os serviços regionais para solicitarem apoio do Governo através dos serviços agrícola na região. Entre os apoios solicitados pelos agricultores, destacam-se sementes agrícolas diversas e máquinas para a lavoura.
Lássana Dam, muito preocupado com a situação afirmou que a resposta da DRA face às demandas dos agricultores é muita fraca sobretudo no que concerne a disponibilização de tratores para a lavoura.
Estratégia interna da DRA
Perante essa demanda, o responsável da repartição agrícola lembrou que os serviços regionais previam essa situação na sequência da má campanha de comercialização de castanhas e tendo em conta também as inúmeras sensibilizações que os serviços da agricultura vinham fazendo ao longo dos últimos anos aos agricultores no sentido de diversificarem as culturas e deixarem a monocultura de caju.
Assim, Lássana Dam informou que a DRA implementa uma estratégia prévia para fazer face aos pedidos, tendo reparado quatro tratores entre os avariados e logo priorizou as zonas de difícil acesso, nesse caso o setor de Boé. “Enviamos ali as máquinas no período da seca, em Abril e Maio, para a lavoura, por que assim que intensificar a chuva aquele setor torna-se inacessível”, disse o responsável.
De igual modo, disse que depois de concluírem os trabalhos no setor de Boé, as máquinas foram também distribuídas em função da prioridade das zonas com maior potencialidades de produção do arroz, nomeadamente os setores de Sonaco, Pitche e Gabu, onde atualmente estão a atender às solicitações dos agricultores, embora não consigam responder todas às solicitações.
Contudo, disse que os serviços regionais estão a fazer tudo ao seu alcance para que as requisições dos agricultores sejam atendidas na medida do possível enquanto aguardam a chegada dos tratores prometidos pelo Ministério da tutela para reforçar as capacidades de resposta da DRA.
Dam deixou claro que com a tendência atualmente dos agricultores, mesmo com 10 tratores não podem atender os apelos, pois, todos estão já com consciência da necessidade de retomar a produção de culturas variadas e abandonar a monocultura de caju.
Apoio do Governo e parceiros
Ainda no quadro do atendimento das solicitações dos agricultores da região, o responsável de repartição agrícola disse que o Governo e parceiros enviaram diversas sementes agrícolas de qualidade com variedade de ciclo curto para apoiar os agricultores a produzirem culturas diversificadas como estratégia de combater a fome, garantir a segurança alimentar e nutricional.
Segundo Lássana Dam, o Governo enviou 100 toneladas de semente de arroz (SAHEL), de boa qualidade e com muita capacidade de produção; 75 toneladas de outras variedades de arroz também adaptáveis ao contexto local.
Enquanto o Projeto de Urgência da Segurança Alimentar (PUSA) coordenado pelo FAO também apoiou com 28 toneladas de semente de arroz; 2,5 toneladas de milho bacil; 8 toneladas de feijão; e 30 toneladas de mancara.
Com esse apoio do Governo e parceiros, Lássana Dam frisou que a DRA conseguiu atender pelo menos 50% das solicitações, mas, muitas ainda estão pendentes.
Previsão da campanha
Relativamente à previsão da presente campanha agrícola na região, Lássana Dam assegurou que ainda é prematura falar dessa previsão, mas adiantou que a época da chuva iniciou relativamente tarde e as chuvas têm caído de forma forma fraca até ao momento.
Exortou, contudo, os agricultores para aproveitarem essas chuvas e não as menosprezar, pois, o tempo não espera ninguém. Lembrou que os serviços da meteorologia já alertaram que este ano a chuva poderá ser fraca, razão pela qual é importante aproveitar o tempo e semear culturas de ciclo curto.
Porém, está otimista que a campanha poderá ser boa se for aproveitada a tempo porque a forma como a chuva está comportar (chover com espaçamento), permite as pessoas cultivarem e tratarem as culturas.
Corte de pomares de caju
Entretanto, a reportagem de Nô Pintcha que esteve na região, soube que em algumas tabancas do setor de Pirada e Sonaco, os agricultores decidiram cortar seus pomares de caju para praticarem agricultura do cereal em consequência da má campanha de caju este ano.
Apesar do Governo ter fixado o preço de castanha de caju em 375 Fcfa por quilograma, este não foi praticado. Pelo contrário, o caju está a ser vendido até 125 Fcfa por quilograma e o mais caricato é que agora difícil mesmo encontrar comprador. Muitos produtores têm suas castanhas armazenadas a esperam do comprador e há zonas que até final do corrente de julho tornam-se inacessível, o que constitui risco desse produto ficar nas mãos do produtor.
É um alerta para os agricultores e toda a população guineense da consequência de monocultura de caju que tem vindo a dominar nos últimos anos, levando o abandono de outras culturas de renda.
Antigamente, antes de vulgarização do caju, os agricultores de todas as regiões praticavam agricultura diversificada com diferentes culturas tais como arroz, milho bacil, sorgo, milho cavalo, mancara, feijão, mandioca, batata-doce, abobra, manfafa e algodão.
Com essas culturas, garantiam a segurança alimentar e os excedentes eram vendidos para obtenção de ingressos económicos para investimento em outras necessidades. Mas, com o surgimento e expansão do caju, os agricultores abandonarem essas culturas e apostaram mais em monocultura de caju que, embora contribua significativamente no crescimento económico e melhoria considerável das condições de vida da população sobretudo no domínio de construção de habitações modernas que permitiram eliminar palhotas em todas as zonas rurais do país, compra de meios de mobilidade (motorizadas e viaturas) bem como iluminação através de instalação de painéis solares, graças a comercialização de castanhas de caju.
Mas, segundo camponeses contatados pelo JNP a situação inverteu-se, sendo que nos últimos anos, o caju tem vindo a perder valor nos mercados internacional e nacional, levando a queda de preço desse produto estratégico, o que apanhou a população de surpresa, colocando famílias em risco de insegurança alimentar e descapitalização económica.
Os responsáveis regionais de agricultura garantem que os agricultores tomaram consciência da necessidade de diversificação das culturas, tendo em conta ainda as alterações climáticas com diminuição das chuvas e comportamento irregular da mesma.
Esse facto, segundo eles, levou muitos agricultores em várias localidades do país a cortarem seus pomares de caju para produção de outras culturas adaptáveis ao contexto para garantir a segurança alimentar e nutricional. Uma situação muito notória sobretudo nas regiões leste (Bafatá e Gabu), onde quase todos os espaços de produção estão invadidos por pomares de caju.
Importante salientar que essa prática tem vindo a acontecer nos últimos anos em que alguns agricultores desmataram seus pomares para plantar outras culturas e frutas com maior rentabilidade. Porém, a situação intensificou mais este ano devido à má comercialização da campanha de caju.
Inovação na DRA
Com intuito de imprimir nova dinâmica e relançar as capacidades de resposta às demandas dos agricultores, o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural incentivou as Direções regionais da agricultura no sentido de reativarem os campos de demostração.
É nessa base que a DRA de Gabu instituiu um campo de produção de arroz nas bolanhas de Sintchã Tombom, arredores da cidade de Gabu, aproximadamente de 3 hectares. Inicialmente, previa valorizar um campo com uma dimensão de 10h, mas, devidas as limitações de meios não será possível esse ano.
De acordo o responsável de repartição agrícola da região, a implementação desse campo vai ajudar a DRA fazer face à algumas de demandas dos agricultores, sobretudo no que concerne a sementes. Pois, vai dispor de sementes própria sem esperar dos apoios do Governo e parceiros.
Situação interna da DRA
À semelhança de todas as Direções regionais da agricultura do país, a DRA de Gabu enfrenta enormes dificuldades, com destaque a insuficiência de recursos humanos, meios materiais e de mobilidade para o cumprimento cabal da sua missão.
O responsável exorta às autoridades no sentido de traduzirem na prática a prioridade do setor agrícola, disponibilizando investimentos sério para o desenvolvimento do setor.
Disse que a agricultura é a alavanca da economia do país e pilar fundamental para combater a pobreza, promover a economia e dar resposta às inúmeras dificuldades que o afetam.
Disse que os sucessivos governos tiveram nos seus programas de governação o setor agrícola como prioridade, mas, isso limitou-se apenas na teoria e não se traduziu na prática ou seja, não refletiu no orçamento destinado ao setor.
Lássana Dam, explicou que se o país sair da gruta da pobreza e acabar com as constantes greves, tem que priorizar o setor da agricultura para fazer crescer a economia. Enfatizou que o investimento na agricultura leva tempo e para começar a usufruir dos seus frutos levam quase 5 anos.
Por outro lado, Lássana Dam, um técnico agrónomo em idade de reforma lamentou a situação em que depara o setor da agricultura com a fuga dos seus técnicos que, devido a má condição laboral, enveredam para outros empregos, deixando o setor agrário mais empobrecido.
Elogiou a nova política da atual Direção do Ministério pela descentralização, deixando os serviços regionais com uma parte das receitas para gestão interna.
Disse que essa política de descentralização permitiu os serviços regionais da agricultura fazer uma melhoria interna, criando condições mínimas necessárias para o funcionamento dos serviços.
Djuldé Djaló