No Setor de Bambadinca, Região de Bafatá, a população enfrenta grandes dificuldades no acesso aos cuidados primários de saúde. Estima-se que cerca de 60 por cento da população vive uma distância de 10 ou 20 quilómetros da estrutura sanitária.
A situação deve-se ao aumento de número da população, que ultrapassa de longe a capacidade de atendimento do centro de saúde, com o edifício sem espaço suficiente para albergar outros serviços, associada à falta de técnicos.
Segundo as informações apuradas, o Setor de Bambadinca tem cerca de 40 mil habitantes para um centro de saúde de tipo C, que só faz atendimento ambulatório, uma situação que preocupa as autoridades sanitárias da zona. A estrutura funciona apenas com um médico, o que torna a situação ainda mais complicada.
Para reduzir esses indicadores de acesso aos cuidados primários de saúde, foi redinamizada o serviço dos Agentes de Saúde Comunitário (ASC), com o objetivo de diminuir a taxa de mortalidade materna infantil e neonatal. Portanto, graças a essas intervenções, registou-se uma mudança significativa no acesso aos serviços sanitários.
Falta de infraestruturas sanitárias
O diretor do Centro de Saúde de Bambadinca, Januário Artur Pereira Batista, confessou que, de facto, trabalham com grandes dificuldades, que vão desde a falta de materiais hospitalares, a insuficiências de técnicos, assim como a limitação do próprio espaço para um atendimento mais abrangente. “O centro é do tipo C, mas somos obrigados a trabalhar a tipo B, para satisfazer todos pacientes que procuram os nossos serviços”.
O Setor de Bambadinca, disse ele, cresceu em termos de população nos últimos anos, mas esse crescimento deveria ser acompanhado também a nível de saúde, só que, infelizmente, isso não foi o caso. “Precisamos de mais centros de saúde em algumas secções e ampliar o atual para poder estar à altura dos desafios”.
Segundo aquele responsável, um centro daquela dimensão precisa no minino de três médicos para uma cobertura razoavelmente aceite. “Mesmo que tenha amor à profissão não consegue aturar o peso do trabalho, o que não é nada bom. Como pode constatar, se chegar dois ou mais doentes em simultâneo, num estado crítico, sou obrigado atendê-los de acordo com a ordem de chegada”, lamentou.
O diretor afirmou, por outro lado, que a insuficiência de técnicos associado à falta de materiais reduz a capacidade de resposta do centro.
Segundo Januário Batista, o centro tem uma única sala de observação com quatro camas, que também serve para o internamento. “É nessa única sala que internamos doentes em observação e também as mulheres gravidas que estão à espera do parto, por causa de risco obstétrico”.
Disse que mensalmente, de acordo com as recomendações das autoridades sanitárias, o centro tem a obrigação de consultar 148 mulheres gravidas, mas devido à situação que se encontra aquele estabelecimento, não conseguem atingir 50 por cento, tendo destacado que a maternidade tem apenas uma marquesa.
Para responder as necessidades da população, aquele responsável disse que a direção do centro, através dos seus parcos meios, decidiu construir de raiz um pavilhão para minimizar o sofrimento, não ficando somente à espera governo.
“Dizem que é mais fácil dar boleia a uma pessoa que está na berma de estrada do que quem está em casa, então foi nessa lógica que entendemos por bem que devemos fazer algo para depois esperar o apoio. Nesse preciso momento as obras estão paradas por falta de dinheiro”, disse.
De acordo com o diretor, o centro tem um médico, oito enfermeiros, quatro parteiras e dois técnicos de laboratório, faltando farmacêutico, portanto, são os enfermeiros adaptados para esse serviço.
Igualmente, informou que essa estrutura funciona com serviço de maternidade, Centro de Tratamento Antirretroviral (CTA) e medicina, dentro desse último serviço funciona a pediatria.
Papel dos Agente de Saúde Comunitária
Januário Artur Pereira Batista disse que a população do Setor de Bambadinca acredita tanto na medicina tradicional e no mito em detrimento da medicina moderna. “A título de exemplo, temos um doente que fazíamos tratamento de CTA, a um dado momento decidiu recorrer ao tratamento tradicional sem dar satisfação, e só voltou quando o seu estado de saúde piorou”.
Segundo o diretor, são vários os casos desse tipo, dando exemplo de mulheres gravidas, que, quando chegam ao centro, e sabendo que vão ser atendidas por um médico, recusam o atendimento, com alegação de que o homem não pode ver o seu corpo, mas isso deve-se a certas culturas, que é compreensível.
Neste sentido, Batista realçou o papel preponderante que os Agentes da Saúde Comunitário (ASC) tem vindo a desempenhar na zona, sobretudo na sensibilização da população.
Reconheceu que se não fosse os esforços desses agentes, a situação seria ainda muito mais complicado, por isso, o governo deve pensar na melhoria de condições de trabalho.
“Na tabanca, as pessoas confiam mais nesses agentes do que um médico ou enfermeiro, dada a relação de proximidade. Quando falam com um agente de saúde comunitário sentem-se mais a vontade em relação a um técnico de saúde”, salientou.
Por seu turno, o supervisor operacional dos Agentes de Saúde Comunitário, Amadu Baldé, afirmou que a sua equipa tem desempenhado um papel importante na melhoria dos indicadores de saúde.
Segundo ele, graças a intervenção desse grupo, a população está a mudar o comportamento. “Há uns anos, era difícil convencer uma pessoa a ir ao médico, mas agora, com trabalho que fizemos, conseguimos mudar o paradigma. Assim, pediu apoio especial a essa categoria de trabalhadores”.
No seu ponto de vista, os ASC atuam como mediadores entre a comunidade e os centro de saúde, dando assistência gratuita, aconselhamento na meteria de prevenção, de controlo de doenças, através de uma brigada móvel, dividida em equipas.
A atuação desses voluntários é fundamental nas comunidades, assim como para o centro, porque graças à intervenção desses técnicos a população consegue prevenir de algumas doenças.
Amadu Baldé disse que esses agentes, além de auxiliar os centros de saúde na prevenção de doenças, também ajudam na promoção de saúde nas comunidades por meio do atendimento básico, contribuindo assim na melhoria de qualidade de vida da população nas comunidades rurais.
De salientar que uma das principais tarefas dos ASC é a promoção de saúde através de campanhas educativas sobre diversos temas, como higiene pessoal, alimentação saudável, vacina, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e saúde reprodutora. Portanto, essas ações são essenciais para consciencializar a população sobre as práticas saudáveis
Alfredo Saminanco